Temas de fundo |
S. PAULO FALA DE UM MISTÉRIO QUE FOI FINALMENTE REVELADO A TODOS, SEM EXCLUIR NINGUÉM (cf. Col 1,26-27; para além, naturalmente, da segunda leitura de hoje). OU SEJA, A SALVAÇÃO DESTINA-SE A TODOS, QUER SE TRATE DE JUDEUS QUER SE TRATE DE GENTOS. É ESTA E A IDEIA E O GRANDE TEMA QUE ESTÃO NA BASE DA FESTA DA EPIFANIA (MOSTRA/DEMONSTRAÇÃO/ REVELAÇÃO). É TAMBÉM POPULARMENTE CONHECIDA POR «FESTA DOS REIS MAGOS», MAS A VERDADE É QUE OS CHAMADOS REIS MAGOS SÃO APENAS FIGURAS SECUNDÁRIAS. 1ª leitura (Is 60,1-6): Levanta-te e resplandece, Jerusalém, pois está a chegar a tua luz! A glória do Senhor brilha sobre ti! Olha: as trevas cobrem a terra e a escuridão encobre as outras nações, mas sobre ti amanhece a luz do Senhor e a sua glória vai aparecer sobre ti. As nações caminharão à tua luz e os reis ao esplendor da tua aurora. Olha ao teu redor e vê o que está a acontecer: todos se reúnem para vir ao teu encontro. Os teus filhos chegam de longe; e as tuas filhas transportadas nos braços. À vista disto, ficarás radiante de alegria; o teu coração palpitará e se dilatará, porque para ti afluirão as riquezas do mar e os tesouros das nações. Tu serás invadida por cáfilas de camelos, por dromedários de Madian e de Efá. Esles virão de Sabá trazendo ouro e incenso e proclamando os feitos do Senhor.
* Todos se reúnem para vir ao teu encontro. Estamos perante um trecho altamente poético de Isaías, em que Jerusalém (que, na releitura cristã, é identificada com a própria realidade da greja) é apresentada como uma luz que brilha nas trevas. É a Jerusalém que acorrem todos aqueles que andam errantes. Mas, acorrer a Jerusalém não basta, pois ela não tem luz própria. O que significa que a luz vem do próprio Deus. Pois bem, à semelhança de Jerusalém, também a Igreja não tem luz própria. E disso ela não se pode esquecer de maneira nenhuma. Por outras palavras, a luz que a Igreja deve fazer brilhar é apenas a que é refletida pela Luz por excelência, que é o próprio Deus, que nela habita através de Jesus, que é Deus-connosco. É preciso ter isto bem presente, a fim de não cair em incongruências. Só nesse sentido, sem cair em falsos triunfalismo, é que é possível reconhecer que é a Igreja (quando se deixa iluminar e guiar pela luz resplandecente do Senhor) a única força capaz de aglutinar os mais variados povos. Nesse aspeto, este texto tem um claro cunho universalístico, que condiz perfeitamente com o espírito próprio da festa da manifestação (é isso o que significa epifania) do Senhor a todos os povos, mais diretamente descrita pelo texto evangélico excluviso de S. Mateus.
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2ª leitura (Ef 3,2-3a.5-6): Certamente ouvistes dizer que Deus me confiou este ministério para vosso bem. Deus revelou-me e fez-me conhecer o seu plano secreto: é um mistério que não foi dado a conhecer aos homens das gerações passadas, como agora foi revelado pelo Espírito aos seus santos Apóstolos e Profetas. E é o seguinte: que, por meio do Evangelho, os gentios são admitidos à mesma herança que os judeus, são membros do mesmo Corpo e participam da mesma promessa, em Cristo Jesus.
* Todos são chamados a participar da mesma herança. O mistério (do projeto de Deus), confiado ao apóstolo Paulo, é precisamente o de que a salvação de Deus não é exclusiva de ninguém; ao contrário, estende-se a todos os povos - judeus e não judeus. Jesus é apresentado como a revelação de Deus para todos, a Palavra definitiva de Deus a todos os homens. Isso quer dizer que à herança de Cristo são chamados não só os judeus (cf. Gl 4,4-7), mas também os pagãos, pois, desfeita toda e qualquer barreira (cf. Ef 2,14-18), eles formam, juntamente com os judeus, um único povo e participam também das promessas feitas aos antepassados. É o que diz sem rodeios o mesmo apóstolo Paulo noutra Carta: «Não há judeu nem grego; não há nem escravo nem livre; não há homem nem mulher, porque todos sois um só em Cristo Jesus. E, se sois de Cristo, sois então descendentes de Abraão, herdeiros segundo a promessa» (Gl 3,28-29). Assim, todos podemos ter a certeza de que, embora «descendentes» (e nós provavelmente somo-lo todos) Todos os pagãos, pela vontade de Deus, à semelhança dos filhos do povo de Deus, têm a possibilidade de participar do mesmo mistério de redenção.
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Evangelho (Mt 2,1-12): Jesus nasceu em Belém da Judeia, no tempo do rei Herodes. Nessa altura, chegaram do Oriente a Jerusalém uns magos que perguntaram: «Onde está o rei dos judeus que acaba de nascer? Nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo». Ao ouvir isto, o rei Herodes ficou perturbado; bem como todos os outros em Jerusalém. Reuniu então todos os sumos-sacerdotes e os escribas do povo e quis saber o lugar onde devia nascer o Messias. Então eles responderam-lhe: «Em Belém da Judeia. Assim foi escrito pelo profeta... Então Herodes mandou chamar os magos para um encontro secreto, para obter informações exatas sobre a data em que a estrela lhes tinha aparecido. Depois, enviou-os a Belém com as seguintes instruções: «Ide e informai-vos cuidadosamente acerca do menino. E, quando o tiverdes encontrado, vinde comunicar-mo para eu poder ir também prestar-lhe homenagem». E assim os magos partiram e a estrela que tinham visto no Oriente guiou-os na sua viagem, até que parou, ao chegarem ao lugar onde estava o menino. Ao verem a estrela, sentiram imensa alegria. Entraram na casa e, ao verem o menino com Maria, sua mãe, prostraram-se e adoraram-no. Depois, abriram os cofres e ofereceram-lhe presentes: ouro, incenso e mirra. Avisados então em sonho para não voltarem por Herodes, regressaram ao seu país por outro caminho.
EPIFANIA=UNIVERSALIDADE DA SALVAÇÃO. OS MAGOS VÃO À PROCURA DE ALGUÉM QUE CHAMA POR ELES. TODOS OS HOMENS SÃO QUAIS MAGOS À PROCURA D'AQUELE QUE TOMA A INICIATIVA DE IR AO SEU ENCONTRO NO SEU DIA-A-DIA.
* Ao verem a estrela, sentiram grande alegria. Toda esta história/parábola dos chamados magos vindos do Oriente - exclusiva do evangelista Mateus - tem por principal objetivo demonstrar que o Salvador que acaba de nascer não é «propriedade exclusiva» dos judeus, mas nasce e vem para toda a humanidade. A cena dos chamados «reis magos» representa precisamente o acesso a Jesus para a humanidade espalhada por todo o mundo. Os pagãos são atraídos pelo grande astro de Deus, o Sol da Justiça, que é Jesus nascido em Belém. A história tem neste Menino o seu ponto mais alto, perfazendo as espetativas dos homens de todos os tempos. Mas, mesmo assim, a vinda e a história de Jesus não é só um ponto de chegada, mas sim um ponto de partida. Por um lado, a nova «ordem das coisas» está, sem dúvida alguma, na linha da antiga, mas, por outro lado, constitui também, ao mesmo tempo, uma ruptura com o passado, que acontece não graças à força da Lei, mas sim à força da fé e do amor. Disso são testemunho os Magos, que, graças à astrologia, chegam à fé, ao passo que o contra-testemunho vem de Herodes e dos seus conselheiros que, apesar do seu background de judeus - que deviam estar a par dos «segredos» do Messias - se recusam a aderir à nova «ordem estabelecida».
PARA ULTERIOR APROFUNDAMENTO, VEJA EM BAIXO. |
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AO VEREM-NO, OS MAGOS ADORARAM O MENINO. |
N.B. O comentário a seguir é semelhante - ou praticamente igual - ao da Festa da Epifania dos outros anos litúrgicos. De resto. as leituras são iguais para os três ciclos litúrgicos. |
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A salvação é para todos
A festa da Epifania (= manifestação do Senhor), segundo a tradição latina ocidental, é o fim e coroamento, digamos assim, das celebrações natalícias, que terminam exata e oficialmente com esta festa e a semana que lhe está associada. Assim, esta é uma ocasião propícia a uma reflexão sobre os «últimos dados» (ou seja, a manifestação aos Magos). Os dados fornecidos pela «peça dos reis magos» são os necessários para compreendermos o mistério da Incarnação; nomeadamente no que se refere ao seu alcance da «inculturação» de Jesus fora do chamado «povo de Deus», ou seja, a expansão da mensagem de salvação de Jesus a todos os povos da terra.
A descrição do esplendor de Jerusalém, para onde vão acorrer todos os povos (1ª leitura) é feita em tons poéticos bastante ousados. O que dá claramente a entender que os dados não são para interpretar à letra, porque estão ao serviço da mensagem. Isso parece-me uma razão muito forte para desconfiar de que talvez a intenção do seu autor (o Terceiro-Isaías) não seja apenas referir-se à «cidade santa» em termos sócio-geográficos, mas sim a uma atmosfera muito mais abrangente.
Essa intuição é, aliás, comprovada e especificada pelo texto do Evangelho deste dia. Com efeito, da reflexão feita pela Igreja sobre o episódio dos Magos, podem tirar-se várias conclusões ou mensagens; nomeadamente: o mistério do chamamento de todos os povos à fé. Para Deus, não há nem privilegiados nem excluídos, pois a todos Ele manifesta o seu amor e desejo de salvar.
A estrela que guiou os Magos é o símbolo do chamamento de Deus através da «evidência» de numerosos e diversificados meios, mas é sobretudo a luz que tem luz própria, que é o próprio Messias, que é a Luz do mundo. A partir de agora (estes tempos que são os últimos), essa luz deve iluminar todos os povos, a fim de que todos confluam na unidade duma só fé. É por isso que uma das missões mais importantes e essenciais da Igreja é revelar este segredo misterioso (cf. 2ª leitura): a salvação destina-se a todos os povos (representados pelos Magos).
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Que tipo de salvação?
As três leituras, portanto, com vários matizes, focam o tema da salvação oferecida a todos os povos. Segundo a primeira dessas leituras, a oferta de salvação a todos é feita, em primeiro lugar, através da cidade santa de Jerusalém e do povo eleito. A 2ª leitura diz, em resumo, que a salvação é dom gratuito e inescrutável de Deus. Por seu lado, a leitura evangélica pode ser um convite a meditar sobre as atitudes opostas dos Magos e do rei Herodes.
Suponho que o evangelista Mateus, com este episódio (exclusivo dele e, portanto, utilizado nos três ciclos litúrgicos), está consciente de que estas duas atitudes opostas exprimem uma espécie de arquétipo de comportamento aplicável ao homem de todos os tempos. Bem, como é óbvio, Mateus não poderia ter utilizado o tipo de linguagem que eu estou a usar, mas a ideia é essa. Ou seja, também hoje (como em todos os tempos), a oferta de salvação, que Deus nunca deixa de fazer a cada um segundo as próprias inclinações, encontra sempre quem a acolhe e quem a rejeita.
A mim parece-me que, para além dos traços mais ou menos lendários e folclóricos da visita dos chamados «Reis Magos» (o Evangelho, com efeito, não diz nem que eles sejam reis nem que sejam três, mas este é um assunto que não é minha intenção discutir), Mateus quer realçar precisamente este facto: que alguns (judeus, Herodes incluído), que teriam muito mais obrigação de descobrir o Messias, o não reconhecem; e que outros (os pagãos, no texto representados por «uns Magos vindos do Oriente»), embora desconhecendo o que acerca dele estava escrito na Bíblia ou Escritura, o reconhecem. E, como me parece óbvio, é essa a mensagem que ele quer transmitir, em primeiro lugar, aos seus leitores (curiosamente, em primeiro lugar, os provenientes do judaísmo); mas,trata-se, sem dúvida, de uma transmissão para os daquele tempo e para nós hoje.
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A caminho do universalismo
Entre algumas das descobertas levadas a cabo pelo II Concílio do Vaticano, uma das mais importantes e significativas é, sem dúvida, o facto de insistir na referência e valorização da unidade fundamental da família humana; que naturalmente dever ser aglutinada pela doutrina de Jesus Cristo. Di-lo claramente, por exemplo, a GS (Gaudium et Spes 24, 26 e 27), que não temos espaço para transcrever, mas cuja leitura sugiro e recomendo.
Não obstante todos os sinais adversos, e apesar de constantemente me ocorrer a ideia pouco cristã de que este mundo não tem conserto, continuo a pensar que a humanidade tende para o universalismo a escala tão universal que um novo tipo de homem nascerá um dia, apesar dos sinais negativos e das limitações que, em muitas partes, ainda se notam. Para Deus, os homens são fundamentalmente iguais, sem distinções e limites de raça, fronteiras, espaço e tempo. E, repito, haverá um momento em que se vai chegar a essa verificação, não obstante todos os sinais em contrário.
Sem cair num otimismo exagerado (que não sou muito dado a isso), eu diria que este é também um dado caraterístico da esperança contemporânea, embora nem sempre explícito. Aliás, esta tendência para o universalismo, apesar de desvios incríveis que nos surpreendem (particularmente agora, em que os conflitos generalizados e os efeitos do terrorismo global proliferam), tem sido sempre uma constante, sobretudo a partir da vinda de Jesus Cristo. Além disso, eu acho, no entanto, que os acontecimentos dos dias que correm não são apenas sinais negativos sobre os destinos da humanidade. Pode-se talvez dizer que a história é testemunha da utilização de diversos meios, geralmente violentos (é preciso acrescentar) para atingir o objetivo do universalismo, por vezes com resultados totalmente nefastos e condenáveis. Mas o princípio em si é valido: o universalismo como projeto é um sonho que não se pode anular. Não se pode apodar esse sonho e esse desiderato de simplesmente utópico.
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Caminharão os povos à tua luz
De acordo com os dados bíblicos, Israel, sem qualquer mérito prévio da sua parte, foi o primeiro povo a ser escolhido para ser o povo de Deus e foi encarregado de reunir todos os povos, realizando assim a promessa de universalidade que a missão do Messias claramente implica e anuncia. Só que os seus chefes e líderes espirituais cometeram o grave erro de pretender realizar esse objectivo por intermédio de ritos e práticas simplesmente exteriores. O anúncio da formação dum novo povo agradável a Deus, numa dimensão definitiva e universal, prefigurado e preparado no âmbito do «povo eleito», realiza-se em plenitude a partir da figura e na pessoa de Jesus, para o qual converge e no qual se recapitula todo o plano de Deus. Mas tenhamos em atenção que os tempos de Deus não são os nossos tempos.
Segundo a ótica do evangelista S. Mateus, que, no seu episódio, convoca os Magos do Oriente para serem os representantes desse universalismo, com a sua encarnação, Jesus começa a reunir todos os povos, independentemente da raça, e começa a dar unidade à família humana. Poderá demorar tempo (e para Deus um dia é como mil anos e mil anos são como um dia: cf. 2Pd 3,8-9), mas o certo é que a universalidade chegará a ser uma realidade quando, um dia, a fé em Jesus Cristo fizer cair as barreiras existentes entre os homens, levando-os a sentir-se todos filhos de Deus e, por conseguinte, todos irmãos uns dos outros.
A semente lançada nessa altura (na plenitude dos tempos, segundo a expressão da Bíblia) dá, de facto, origem a um novo povo que é a Igreja, que, em termos mais corretos de uma sã teologia, deveria ser considerada mais como comunidade de crentes apostados em viver a mensagem trazida por Jesus, do que uma organização geograficamente delimitada e, em termos operativos, mais apostada em defender o seu «tesouro doutrinal» do que em ser o fermento que leveda a massa humana. Através dos séculos, a Igreja tem a missão de realizar e dar testemunho, por entre muitos avanços e recuos, do chamamento universal de todos os homens para a salvação operada por Jesus.
É um facto que, pelo menos aparentemente, ainda estamos «a séculos de distância» da realização universal desse ideal. Mas, por outro lado, é fantástica a visão final do NT: uma multidão de raças, de povos e de línguas, que saúdam em Deus o rei das nações, habitará na nova Jerusalém, onde a família humana reencontrará a unidade tão almejada (cf. Ap 14, 6ss).
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... Entretanto, caminhamos com os Magos
Termino este comentário citando duas reflexões. Da primeira é autor Rosario Esposito (in Rivista Pastorale): «Na história cristã, os Magos sempre suscitaram admiração... Seja qual for a historicidade ou não do facto em si, entendida no sentido crítico do nosso tempo, a nós interessa-nos é saber o que o hagiógrafo, divinamente inspirado, quis transmitir aos leitores da primeira geração cristã e a todos os que, disponíveis à ação do Espírito Santo, se lhes seguiram no decorrer dos séculos».
«E o facto decisivo é este: os Magos, embora vindos dum ambiente totalmente estranho à revelação, são capazes de ler na trajetória e nas conjugações astrais uma mensagem que sugere um acontecimento novo de grande relevância. E não perdem tempo a verificar os pormenores. Dão-se logo conta de que algo de importante se está a passar em qualquer parte do mundo e, portanto, não se demoram...».
«As grandes empresas nascem de intuições imprevistas: dando ouvidos à inspiração, geram- se e encontram-se grandes coisas. Se, ao contrário, se dá atenção, antes de mais, aos próprios cálculos, fica-se sempre prisioneiro das próprias pequenas coisas... A "espiritualidade" dos Magos tem que ser identificada em todas as pessoas e grupos sociais que, à nossa volta, andam à procura de novas vias de promoção do diálogo entre as nações e as culturas e que não têm medo de ir ao encontro de momentos de obscuridade, de desvio ou de desfalecimento».
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O caminho faz-se com o coração
A segunda citação é da autoria do saudoso «mentor» (do Vaticano II) e teólogo Karl Rahner: «O coração dos Magos pôs-se a caminho de Deus no exacto momento em que os seus passos se dirigiam para Belém. Eles procuravam a Deus, mas era Deus que guiava a sua procura, logo a partir do momento em que eles a iniciaram. Eles pertencem ao número dos que são devorados pela fome e sede da justiça e recusam a tentação de que, se Deus quer que o homem dê o primeiro passo, Deus tem que dar primeiro mil passos...».
«Eles procuram a Deus no firmamento, mas também o procuram no coração; procuram-no no silêncio, mas também nas perguntas que dirigem às pessoas, incluindo os judeus e as suas Escrituras. Vêem uma estrela levantar-se no firmamento de forma insólita e logo, como que por uma doce condescendência de Deus, a sua astrologia torna-se o único meio para responder às expetativas do coração inocente... O coração terá tremido um pouco, como aliás também terá tremido a sua ciência. A vaga ideia de que os judeus esperavam um Salvador tomava de repente o aspeto duma exigência prática: a duma viagem muito concreta a encetar... Não era talvez uma falta de realismo e de sentido prático ter tomado uma semelhante decisão?... Mas, não! Eles inclinam-se e partem».
«E eis que, logo que abandonam a casa e correm o risco daquele salto corajoso, que lhes era exigido, o coração se lhes torna imediatamente mais leve. Acontece sempre assim àqueles que, tendo arriscado tudo, se revelam mais corajosos do que o que a sua vida precedente de todos os dias poderia levar a crer» (Comentários do ano litúrgico, Karl Rahner).
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Nomes e títulos de Jesus no Novo Testamento
- - Advogado 1Jo 2,1
- - Bem-Amado Ef 1,6; Mt 3,17; 2,18; 17,5; Mc 1,11; Lc 3,22b
- - Alfa e Ómega Ap 1,8; 21,6; 22,13
- - Filho do Altíssimo Lc 6,35
- - Árvore da Vida Ap 2,7; 22,2; cf. Pr 3,18
- - Autor da Salvação Hb 5,9
- - Autor da Vida At 3,15
- - Bendito Mc 23,39; 21,9; Lc 1,68; 19,38; 2Co 1,3
- - Cordeiro 1Co 5,7; Ap 5,12; 6,1; Ap 6,12
- - Cordeiro de Deus Jo 1,29; 1,36-37; 19,14.31-42; At 8,32.35; 1Cor 5,6-8; 1Pe 1,18-19
- - Cordeiro Pascoal Jo 1,29.36
- - Pastor das nossas almas 1Pe 2,25
- - Cabeça do Corpo Col 1,18
- - Cabeça da Igreja Ef 5,23
- - Cristo de Deus 1Co 3,23
- - Cristo Mt 2,4;16,16; 24,23; Mc 8,29; Lc 4,41; 9,20; 23,2; Jo 20,31
- - Cristo Jesus Rm 6,3; 2Co 4,5; Ef 2,20
- - Caminho Jo 14,6; cf. Is 30,21
- - Consolador Jo 14,26; 15,26; 16,7
- - Emanuel/Deus-conosco Mt 1,23; cf. Is 7,14
- - Estrela da manhã Ap 22,16
- - Estrela da Alva 2Pe 1,19
- - Filho Mt 1,23; 13,55; 21,7; Lc 1,13
- - Filho Amado Mt 3,17; 12,6; Mc 1,11; Lc 20,13
- - Filho de Deus Mt 5,9; Mc 1,1; Lc 1,35; Jo 20:31; Hb 6,6
- - Filho do Homem Mt 9,6; 10,23; 16,27; 16,13; 13,37; 17,9.22; Mc 8,32; 9,12; Lc 12,32.40; Jo 3,13; Jo 8:28; At 7,56; Hb 2,6; Ap 1,13
- - Filho de David Mt 12,23; 20,30; 21,9.15
- - Juiz Tg 5,9;
- - Justo At 22,14; cf. Sl 119,137; Sl 145,17; Is 45,21
- - Leão de Judá Ap 5,5
- - Luz do mundo Jo 8,12; 12,46; cf. Sl 27,1; Is 60,20; Mq 7,8
- - Legislador Tg 4,12; cf. Is 33,22
- - Messias Jo 1,41; 4,25; cf. Dn 9,25
- - Mediador 1Tm 2,5; Hb 9,15; 12,24
- - Pão Vivo Jo 6,51 (cf. todo o capítulo)
- - Príncipe At 5,31; 3,15; cf. Is 55,4; Dn 8,25
- - Noivo Mt 25,1; Mc 2,19; cf. Is 62,5
- - Nazareno Mt 2,23; Lc 24,19
- - Primogénito Ap 1,5; Rm 8,29; cf. Mq 6:7
- - Pastor Jo 10,11; Hb 13,20; 1Pe 5,4; cf. Sl 23,1; 80,1
- - Porta Jo 10,9
- - Pedra Angular At 4,11; Ef 2,20; 1Pe 2,6
- - Rei Lc 19,38; Jo 12,15; 19,14; cf. Sl 5,2; 44,4; 47,7; cf. Is 33,22; 43,15; Zc 14,9
- - Rei dos Judeus Lc 23,38; Jo 18,33
- - Rei dos Reis Lc 23,38; Jo 19,19; Ap 19,16; 1Tm 6,15
- - Rei de Israel Jo 12,13
- - Raiz de David Ap 5,5
- - Sumo-Sacerdote Hb 4,14
- - Senhor 1Co 15,5-7; 2Co 4.5; Fl 2,11; Cl 2,6
- - Senhor dos Senhores 1Tm 6,15; Ap 19,16
- - Soberano Ap 6,10
- - Salvador Lc 2,11; 2Pe 3,18; cf. Sl 84,11
- - Todo-Poderoso Ap 1,8; 4,8; 15,3; 21,22
- - Verdade Jo 8,32; 14,6
- - Vida Jo 14,6
- - Verbo Jo 1,1; 1,14; 1Jo 1,1; Ap 19,3
- - O que batizava com o Espírito Santo Jo 1,33
- - O que dá testemunho de si mesmo Jo 8,18
- - O que haveria de vir Mt 11,3
- - Eleito por Deus Lc 9,35
- - Fiel Testemunha Ap 1,5
- - Fiel e Verdadeiro Ap 19,11
- - Filho de Deus Bendito Lc 1,32
- - Filho do Pai 2Jo 3
- - Imagem do Deus invisível Cl 1,15
- - Mistério e Esperança do ser humano Cl 1,27
- - Pedra Espiritual 1Co 10,4
- - Plenitude da Divindade Cl 2,9
- - Libertador Rm 11,26.27
EPIFANIA (manifestação) DO SENHOR
Toda a história mais ou menos «trabalhada» dos chamados Reis Magos vindos do Oriente - exclusiva do evangelista S. Mateus - tem por objetivo mostrar que o Salvador que acaba de nascer não é «propriedade exclusiva» nem dos judeus nem de ninguém, porque Ele nasce para toda a humanidade. Os «pagãos» são atraídos pelo grande astro de Deus, que é Jesus nascido em Belém. A nova «ordem das coisas» é a continuação lógica da antiga, mas é, ao mesmo tempo, uma rutura com o passado, que acontece não graças à força da Lei, mas sim à força da fé e do amor. Disso são testemunho os Magos que, graças à astrologia, chegam à fé, ao passo que o contratestemunho é representado por Herodes e pelos seus conselheiros que, apesar do seu background de judeus a par dos «segredos» do Messias, se recusam a aderir à nova ordem.
É caso para acrescentar que também nós temos de aprender, quer com os Magos, quer com Herodes, com os seus conselheiros e com os judeus daquele tempo. Mas, o facto de termos tido a sorte de chegar ao conhecimento de Jesus não nos dá direito a considerar-nos mais do que os outros. Por outras palavras, não podemos dizer que Deus Pai é mais meu Pai do que dos outros; não podemos dizer que Deus Filho é mais meu Salvador do que dos outros: não podemos dizer que Deus Espírito Santo é mais minha Vida divina do que dos outros. Ele é Deus de todos, judeus ou não. Assim pomos em prática aquilo que se aprende na catequese e que diz que Deus tem infinitas maneiras de salvar as pessoas que, afinal, são todas suas criaturas.
A luz da estrela que iluminou e guiou os Magos é o símbolo do chamamento de Deus através da «evidência» de numerosos e diversificados meios pertencentes à ordem da natureza. A partir de agora (estes tempos que são os últimos), essa luz deve manifestar-se para iluminar todos os povos, a fim de que todos confluam na unidade duma só fé. Uma das missões mais importantes da Igreja é, pois, transmitir este segredo misterioso revelado ao apóstolo Paulo (2ª leitura): a salvação não é exclusiva de ninguém, mas destina-se a todos.
As três leituras, pois, com vários matizes, focam o tema da salvação oferecida a todos os povos. De acordo com a primeira dessas leituras, a oferta de salvação a todos é feita, em primeiro lugar, através da cidade santa de Jerusalém e do povo eleito. A segunda leitura diz que a salvação é um dom gratuito e inescrutável de Deus.
A leitura evangélica, por seu lado, pode ser um convite a meditar sobre as atitudes opostas dos Magos e do rei Herodes. Pode-se partir do suponho que o evangelista S. Mateus, com este episódio (exclusivo dele), está consciente de que estas duas atitudes opostas exprimem uma espécie de tipos de comportamento aplicável ao homem de todos os tempos. Ou seja, também hoje (como em todos os tempos), a oferta de salvação, que Deus nunca deixa de fazer a cada um segundo as próprias inclinações, encontra sempre quem a acolhe e quem a rejeita.
O anúncio da formação dum novo povo de Deus, em dimensões universais, prefigurado e preparado na esfera, digamos assim, do «povo eleito», realiza-se plenamente a partir da figura e na pessoa de Jesus, para o qual converge e no qual se recapitula todo o plano de Deus. Segundo o evangelista Mateus, ao convocar os Magos do Oriente, Jesus começa a reunir todos os povos, independentemente da raça, e começa a dar unidade à família humana. Poderá e irá demorar tempo (mas para Deus o tempo não conta), mas o certo é que a universalidade chegará a ser uma realidade quando a fé em Jesus Cristo fizer, por fim, cair as barreiras existentes entre os homens, levando-os a sentir-se todos filhos de Deus e, por conseguinte, todos irmãos uns dos outros.