XII DOMINGO COMUM - A

Temas

de

fundo

1ª leitura (Jr 20,10-13):  Eu ouvia insinuações de muita gente: «Anda por aí o terror! Vamos, denunciemo-lo!». Até os que eram meus amigos esperam agora a minha queda: «Talvez se deixe enganar! Então conseguiremos vencê-lo e assim teremos a nossa desforra!». Mas tu, Senhor, estás comigo como poderoso guerreiro. Por isso, os que me perseguem hão-de falhar e serão cobertos de confusão, porque não hão-de prevalecer. A sua ignomínia nunca se apagará da memória. Tu, Senhor do universo, que pões à prova o justo, sondas as entranhas dos corações. Possa eu contemplar a tua vingança contra eles, pois a ti confiei a minha causa.

* O Senhor livra a vida do pobre. 

   O livro de Jeremias contém muitos dados autobiográficos do protagonista. Jeremias viveu num dos períodos mais conturbados do povo de Israel, que coincidiram com o fim do Reino de Judá (ou Reino do Sul) e com a conquista e posterior destruição da capital, Jerusalém, por volta de 587 ou 586, sob o poder de Babilónia. Ele viu-se confrontado, por um lado, pela urgência de responder à missão de profeta que lhe tinha sido confiada (que, de resto, não previa grande futuro para a sua pátria); por outro lado, a sua tarefa era ainda mais complicada pelo facto estranho de alguns dos seus conterrâneos o acusarem inclusivamente de estar por detrás da derrocada nacional, Mas o que ele se limitava a constatar era que as coisas se estavam a encaminhar para o descalabro total. Há que acrescentar que Jeremias, pese embora o seu carácter pessimista, quando a necessidade o exige, ultrapassa-se a si mesmo e acaba por descobrir sempre que Deus está com ele. No seu caso concreto, mais se acentua que a audácia e a valentia provêm sobretudo de Deus. É precisamente isso que quer dizer o tipo de linguagem utilizado pelo profeta. Que ele expresse o desejo de contemplar momentos de vingança por parte de Deus contra os seus inimigos, pode acontecer. Mas é uma «fraqueza» compreensível humanamente falando (tal a maneira como ele era perseguido). Simplesmente, o desejo de vingança e de vitoria sobre os seus perseguidores não é desculpável e aceitável em termos de mensagem. Como lição final para todos nós, o que há a reter é que, não obstante certos momentos de fraqueza, é sempre possível levar por diante os próprios deveres e compromissos, nunca deixando de confiar na força e na proteção do Senhor.

PARA ULTERIOR APROFUNDAMENTO, VEJA EM BAIXO.

2ª leitura (Rm 5,12-15):  O pecado entrou no mundo por um só homem e, pelo pecado, entrou a morte. Como resultado, a morte atingiu todos os homens, uma vez que todos pecaram. É um facto que, antes da Lei, já existia o pecado no mundo. Só que o pecado não é tido em conta quando não há Lei. Apesar disso, desde Adão até Moisés, reinou a morte, mesmo sobre os que não tinham pecado por uma transgressão idêntica à de Adão, que é figura daquele que havia de vir. Mas não se passa com a graça o mesmo que se passa com a falta. É verdade que todos morreram por causa do pecado dum só homem, mas a graça de Deus é muito maior; o dom oferecido por meio de um só homem, Jesus Cristo, foi concedido a todos com abundância.

* A graça de Deus dada em abundância. 

   Devo dizer que esta é uma de algumas das passagens difíceis das Cartas de Paulo e, com mais razão ainda, da sua Carta aos Romanos. Em todo o caso, parece-me que há aqui uma ideia bastante clara: todos nós somos descendentes de Adão enquanto criaturas humanas e todos podemos ser descendentes de Cristo enquanto novas criaturas. Ora, segundo essa lógica, a vida que recebemos de Adão não pode ser senão uma vida relativa, ao passo que de Cristo podemos receber a vida que conta, a vida que não tem fim. E então, nessa perspetiva, segundo a visão de Paulo, o papel de Cristo é tão importante que é equiparável ao papel do próprio Deus. Se Cristo nos pode dar a vida definitiva, isso é sinal de que Ele é comparável ao autor da própria vida, que é Deus. Outra mensagem que me parece bastante fácil de tirar é que, quando Paulo fala de morte, não se refere exatamente ao que se entende geralmente por morte, que é a física. Aqui o acento recai sobre um outro tipo de morte, que é a morte mais terrível, porque se trata do desencontro definitivo com Deus. E esse desencontro acontecerá mesmo se pensarmos que a simples pertença à humanidade adâmica, digamos assim, é a resposta a todas as nossas ânsias. Mas não há que desanimar, porque «a graça de Deus é muito maior».

PARA ULTERIOR APROFUNDAMENTO, VEJA EM BAIXO.

Evangelho (Mt 10,26-33):  (Jesus dizia aos apóstolos): Não tenhais medo dos homens, pois não há nada em segredo que não venha a ser desvendado e nada de escondido que não venha a ser conhecido. O que vos digo às escuras dizei-o à luz do dia; e o que escutais em privado proclamai-o sobre os terraços. Não temais os que matam o corpo mas não podem matar a alma. Temei antes aquele que pode fazer perecer na Geena o corpo e a alma. Não se vendem dois pássaros por uma pequena moeda? Pois bem, nenhum deles cairá em terra sem o consentimento do vosso Pai. Quando a vós, até os cabelos da vossa cabeça estão contados! Por isso não temais; valeis mais do que muitos pássaros. Quem se declarar por mim diante dos homens, também Eu me declararei por ele diante do meu Pai que está no Céu. Mas quem me negar diante dos homens, também o hei-de negar diante do meu Pai que está no Céu.

* Não temais os que matam o corpo, mas não a alma. 

   O texto evangélico que temos entre mãos insere-se na seção em que Mateus fala da preparação que Jesus procurou dar aos discípulos para a missão que os esperava. É o dito «Discurso Missionário». Embora seja assim chamado, isso não quer dizer que seja um discurso apenas dirigido aos apóstolos; é-o a todos os que são «enviados» a propor a pessoa e a mensagem de Cristo aos outros. E esses são todos os que, ao fim e ao cabo, «configuram» a sua vida com as exigências contidas no que o  Evangelho nos transmite. Do contexto é possível deduzir que se torna necessário dar a cara e tomar partido pelo Evangelho. A propósito, devo acrescentar que se, porventura, nos tempos que correm, nomeadamente no contexto europeu, as coisas não estão a correr bem no que diz respeito à transmissão da mensagem cristã, não será porque os cristãos estão a falhar na sua tarefa de testemunhar o nome de Deus diante dos homens? Tantas vezes, temos muito mais medo dos que matam o corpo do que daquele que pode fazer parecer o corpo e a alma. É uma vergonha ter que admitir isto, mas se calhar é o que acontece tantas vezes. Mas não pode nem deve ser essa a nossa atitude. É que, no mesmo contexto, é-nos dada a garantia de que nada nos acontecerá de definitivamente mau, pois nem sequer um cabelo da nossa cabeça cairá sem o consentimento do nosso Pai.

PARA ULTERIOR APROFUNDAMENTO, VEJA EM BAIXO.

  •  *   O Senhor livra a vida do pobre.
  •  *   A graça de   Deus dada em abundância.
  •  *   Não temais os que matam o corpo.

ATÉ OS VOSSOS CABELOS ESTÃO CONTADOS.

   

    * Perseguição, distintivo do cristão

    É um facto facilmente constatável que o Povo de Deus experimentou, durante toda a sua história, a violenta oposição e perseguição dos povos vizinhos. De resto, não era por ser povo eleito que se poderia achar com direito a outro tipo de tratamento. O mistério da perseguição, embora ligado ao problema do sofrimento, é distinto deste. Enquanto o sofrimento é próprio de toda a gente, a perseguição (que naturalmente implica, também ela, sofrimento) diz respeito apenas aos justos, precisamente na medida em que são justos e em que, pela sua vida e atitude, representam uma acusação implícita contra aqueles que não atuam em conformidade com o que os justos transmitem através do que dizem e sobretudo do que fazem.   

   No que se refere ao Antigo Testamento, a perseguição atinge especialmente os profetas, por causa da sua dedicação e amor a Javé em virtude da fidelidade e rigor que acham que devem à Palavra. O profeta Jeremias (que fornece abundante material para a reflexão de hoje) ocupa entre os perseguidos um lugar de destaque. A sua vida é a demonstração cabal da relação estreita entre perseguição e missão profética.   

   Ora bem, da mesma forma, a perseguição, bem como o sofrimento que dela deriva, será um distintivo do cristão realmente incorporado na dinâmica daquele «que fala em nome de Deus». Todo o cristão deve ter a noção clara da obrigação que lhe incumbe de falar em nome de Deus. Daí se dever afirmar que todo o cristão deve ser profeta. Mas é certo e sabido que quem está sinceramente comprometido na defesa dos interesses dos mais necessitados, bem como na difusão dos valores evangélicos, será objeto de oposição e, por vezes, de perseguição, «porque, assim como perseguiram o Mestre, assim também hão-de perseguir os seus discípulos» (cf. Jo 15, 20).

   * Figura profética: o Servo de Javé

    Jesus, nesse aspeto, também não foi exceção. Melhor dizendo, Ele é o paradigma do Justo que sofre por defender a justiça. Por isso se lhe aplica plenamente o título de «Servo de Javé». O Servo sofredor é tal na medida em que cumpre os planos de Deus. Com efeito, como os planos de Deus são diferentes dos planos dos homens, isso causa «atrito» e, por conseguinte, a aceitação da perseguição e dos sofrimentos que dela derivam é uma situação «normal» em que se encontram envolvidos tanto os profetas como quem quer fazer a vontade de Deus. Por isso, todo o profeta (e o cristão deve ser um profeta, ou seja, alguém que fala e, com a vida, é testemunha duma outra realidade em nome de Deus) tem a pagar, como tributo à sua condição de testemunha de Deus, a agonia duma vida cheia de contrariedades e perseguições. O drama do justo perseguido é descrito pelo profeta Isaías (Is 42,1-7; 49,1-6; 50,4-9; 52,13–53,12), e também pelo livro da Sabedoria, segundo o qual o justo se torna insuportável para o ímpio só em vê-lo (cf. Sb 2,12-14). Ao condenar Jesus ao supremo suplício da cruz, os judeus continuam a injustiça dos seus antepassados que, perseguindo os profetas e Jesus, se opõem ao plano de Deus. Mas, no fim, os cálculos do homem pecador revelam-se sem perspetiva. Os príncipes deste mundo, ao crucificarem o «Senhor da glória», na realidade, tornam-se instrumentos da Sabedoria divina (cf. 1Cor 2,8), porque a morte de Cristo é salvação para o mundo e glória de Deus, enquanto a fraqueza do mundo é a fortaleza de Deus.

   * Perseguição é bem-aventurança

    Segundo os ensinamentos de Jesus, a perseguição é inclusivamente tema, ou melhor, objeto das bem-aventuranças: «Felizes sereis quando vos insultarem e vos perseguirem...» (cf. Mt 5,11). A perseguição, como disse acima, é inevitável. É o próprio Jesus que o diz: «O servo não é maior que o seu senhor. Se me perseguiram a Mim, também vos hão-de perseguir a vós». Empenhar-se, pois, em viver segundo os caminhos do Senhor implica encontrar no próprio caminho uma série de dificuldades e problemas sempre novos e cada vez maiores. Num mundo dominado pelo egoísmo e pela procura do próprio interesse, quem prega o amor, a pobreza, o desapego e o perdão, será inevitavelmente perseguido.   

   Só que quem é perseguido sabe que os perseguidores não têm senão o poder de matar o corpo, mas não têm o poder de matar a alma. Por isso mesmo, o cristão até é capaz de chegar a um momento em que experimenta a capacidade de suportar a perseguição com alegria. Exemplo disso são os apóstolos, após o Pentecostes: «Eles saíram do Sinédrio contentes por terem sido ultrajados por amor do nome de Jesus» (cf. Act 5,41). S. Paulo diz o mesmo: «Estou cheio de alegria em cada tribulação» (1Cor 7,4).

   * Perseguição não é vitimismo

    Até à realização do II Concílio do Vaticano, prevaleceu uma mentalidade bastante fechada a nível de Igreja em relação ao mundo. Como que se aprendia que era necessário «odiar», desprezar e fugir do mundo. E muitos cristãos tomavam isso rigorosamente à letra (pelo menos no plano doutrinal), embora soubessem, ou pelo menos intuíssem, de alguma forma, que, tendo sido criado por Deus, o mundo era uma coisa boa.

   Infelizmente, há que reconhecer que dessa mentalidade ficaram muitos vestígios. Ora bem, a expressão «mundo», particularmente na linha de pensamento do evangelista João, indica não uma realidade física, mas sim uma realidade moral, na medida em que significa o que no mundo há de mal. E isso, como parece óbvio, existe também dentro da Igreja e dentro de cada um dos seus membros.

   A Igreja, nos tempos que correm (é uma constatação), como regra, já não é considerada como castelo encantado que é preciso defender de todas as investidas do «mundo» (antes pelo contrário). É considerada, isso sim, como fermento que quer permear com os valores evangélicos a grande massa da humanidade. Espero bem que já tenha sido ultrapassada a convicção de que toda a massa se deve tornar fermento. A massa será sempre massa e o fermento será sempre apenas uma pequena parte inserida na massa. Esta expressão tirada do próprio Evangelho talvez evite muitos mal-entendidos e muitas ilusões alimentadas de maneira incorreta. Uma atitude negativa neste campo conduz a um estado de vitimismo que não é nada saudável.   

   Enfim, mais que uma doutrina ou um conjunto de regras, que é preciso defender contra todas as investidas dos «inúmeros» adversários e inimigos que andam por aí à solta, o cristianismo deve ser um fermento que leveda a massa, deve ser uma vida vivida, deve ser uma mudança constante de mentalidade segundo as teses evangélicas: um fermento para o mundo (passe a expressão!) e, antes de mais, para os cristãos.

   * A ação não é guerra defensiva

    Em todo o caso, pôr em prática as bem-aventuranças evangélicas para promover a causa da evangelização e da autêntica promoção humana conduz necessariamente à perseguição. Enfim, parece mesmo que a oposição entre a sabedoria mundana e a sabedoria divina é inevitável.

   Mas devo acrescentar que nem sempre as perseguições de que a Igreja é objeto são devidas à sua fidelidade ao Evangelho. Oxalá fosse só por isso! Por vezes, a Igreja é também perseguida e obstaculizada por não ser fiel ao Evangelho (também pode acontecer e, infelizmente, acontece mesmo isso) e por não corresponder aos anseios dos tempos, por denotar alguma preguiça ou por demonstrar falta de fé, coragem e abertura ao sopro do Espírito de Deus.

   De alguma forma, é doloroso verificar como ideias genuinamente cristãs, como sejam, por exemplo, a liberdade, a igualdade, os direitos da pessoa, e mesmo a democracia, tenham encontrado, em certos momentos e em certos setores da Igreja como cúpula e como base, opositores inflexíveis, renitentes, resistências incompreensíveis e até mesmo uma luta declarada.   

   Não há como negar que os limites humanos da Igreja e dos cristãos são visíveis nas conivências (conscientes ou inconscientes) com situações de injustiça e de poder, de medo, de hesitações, de silêncios, de faltas de coragem e confiança. Em mais do que um caso, é certo que as perseguições contra a Igreja têm a sua origem numa conceção errada que os perseguidores têm de religião. Mas a verdade é que se trata duma conceção que, com alguma frequência, é induzida, senão mesmo provocada, justamente pelos que deviam vivê-la com muito mais autenticidade. Às vezes, a hostilidade contra a Igreja nasce dum «amor desiludido» para com ela...

    * Não é só essa perseguição

    Mas, isso não significa supersimplificar as coisas de forma inconsciente. É que há, sem sombra de dúvida, também uma outra perseguição que podemos classificar de «satânica». É o fermento negro do mundo que se difunde e ramifica como um cancro que corrói o tecido da humanidade. É como uma espécie de «corpo místico do mal», com o qual, apesar de todos os gestos de boa vontade, não se pode entrar em diálogo, porque se trata do inimigo irredutível, do inimigo por excelência, que luta contra Cristo e contra o seu Reino. As suas vítimas preferidas são naturalmente as que, na construção dum mundo mais humano, seguem os passos traçados por Jesus e trilhados pelos seus discípulos.

    Seria uma atitude de menoridade não estar consciente de que o Mal existe realmente e que se consubstancia em todas as tentativas, declaradas ou não, de combater, de todas as formas, mesmo ilegítimas, os valores veiculados pelos adoradores da divindade e, de modo especial, por aqueles que se dizem cristãos. Há claramente indivíduos e grupos apostados em combater e neutralizar valores que, na ótica cristã, devem ser fermento da humanidade, a começar pelos valores da vida e da dignidade humana.

 

1ª leitura (Zc 12,10-11; 13,1): Derramarei sobre os descendentes de David e sobre os outros povos de Jerusalém o espírito de misericórdia e o espírito da oração. Eles hão-de olhar para aquele que trespassaram e farão luto por ele, como aqueles que choram pelo seu único filho. Hão-de fazer um luto a sério, como os que perderam o seu primogénito. Nesse dia, o luto em Jerusalém será tão grande como o luto por Hadad-Rimon na planície de Meguido. Nesse dia, jorrará uma nascente para a casa de David e para os habitantes de Jerusalém, a fim de lavar o pecado a impureza.


* Derramarei sobre todos o espírito de misericórdia e oração.

   Não se sabe exatamente a quem se refere Zacarias quando fala de um justo e inocente que é «trespassado» e pelo qual se faz luto a sério. Também não se sabe nada das circunstâncias dramáticas em que isso terá acontecido. Ou não será que esta dificuldade nos sugere para ver nas palavras de Zacarias algo mais do que a simples leitura material? Não me parece uma possibilidade descabida. Mas é mera especulação. É que, mesmo que se soubesse, continuaria de pé a questão de saber por que motivo a leitura é escolhida para este domingo. De qualquer forma, a escolha óbvia parece-me ser o facto de este trecho ter a ver com o texto evangélico. Sendo assim, há o propósito de associar, digamos, a profecia de Zacarias a Cristo trespassado na cruz pela lança dum soldado. Agora, uma outra coisa é certa: a leitura de Zacarias associa também a esta figura do justo trespassado a capacidade de ser como que uma nascente para Israel e para os habitantes de Jerusalém. Então, graças ao seu sofrimento, as pessoas receberem o espírito de graça e de oração.

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2ª leitura (Gl 3,26-29):  É pela fé que todos sois filhos de Deus em união com Cristo Jesus. Vós fostes batizados pela união com Cristo e agora, pela fé, estais revestidos com a vida do próprio Cristo. Por isso, não há diferença entre judeu e gentio, entre escravo e livre, entre homem e mulher. Todos vós sois um só em união com Cristo Jesus. Se pertenceis a Cristo, então sois descendentes de Abraão e, assim, recebereis o que Deus prometeu.


* É pela fé e em união com Cristo que todos somos filhos de Deus.

   Esta leitura está inserida num contexto em que S. Paulo polemiza contra os chamados judaizantes que querem fazer depender a salvação do facto de as pessoas aderirem às prescrições da Lei de Moisés. Ora, embora respeitando essa Lei (até porque assim Paulo o confessa e é, de facto, um fervoroso judeu), ele pretende acentuar que, na base da construção cristã, deve estar claramente Cristo. Sem esse princípio, não há construção que resista. E então, nesse aspeto, talvez tenhamos que nos questionar nos dias de hoje quanto àquilo que na nossa vida cristã tem mais importância. Ou seja, não será que, hoje, como nos primeiros tempos, «ligamos» demais a uma série de prescrições e devoções que, embora dignas de todo o respeito, não têm sentido se se prescinde de Cristo na atuação de todos os dias? Por isso, é justo repetir que «é pela fé que todos somos filhos de Deus em união com Jesus Cristo».

 

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Evangelho (Lc 9,18-24): Um dia, quando Jesus estava sozinho em oração, os discípulos foram ter com Ele e Ele perguntou-lhes: «Quem dizem as multidões que Eu sou?». «Há quem diga que tu és João Baptista» - responderam eles - «outros dizem que és Elias, e outros ainda que és um dos profetas de antigamente que ressuscitou». Disse-lhes Ele: «E vós quem dizeis que Eu sou?». Pedro respondeu: «Tu és o Messias de Deus». Jesus deu-lhes ordens severas para não falarem disto a ninguém. E disse-lhes também: «O Filho do Homem tem que sofrer muito e ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e pelos doutores da Lei. Será condenado à morte, mas, três dias depois, ressuscitará». Depois, disse a todos: «Se alguém quer ser meu discípulo, tem que se esquecer de si mesmo, tomar a sua cruz todos os dias e seguir-me. Pois quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á, mas quem perder a sua vida por causa de mim ganhá-la-á».
 

* Quem perder a sua vida por minha causa salvá-la-á.

   Quando Jesus pergunta aos seus discípulos o que se diz da sua pessoa, trata-se, de alguma forma, de uma pergunta retórica. A sua intenção é claramente fazer-lhes uma pergunta mais pessoal, mais importante e mais empenhativa: «Para vós, quem sou Eu»? Ora, há entre estas duas perguntas uma diferença que acho essencial: o que os outros pensam de Jesus faz parte da história, digamos assim; não tem a ver com a minha vida senão indiretamente. De alguma forma, a Jesus não interessa saber o que os outros pensam e dizem dele. O que lhe interessa é o que eu penso e digo dele. Agora, saber o que eu (e não só os outros) penso de Jesus corresponde a dizer o que é que Ele é para mim hoje. Isso significa conhecê-lo pessoalmente, como amigo, não apenas como uma «matéria» de estudo e do passado. E então esta forma de pensar muda totalmente a perspetiva e significa pô-lo acima de todos os problemas e de todas as preocupações. Isso quer dizer também que devo levar a sério a resposta e profissão de fé de Pedro: «Tu és o Messias de Deus». Ora bem, não é possível pronunciar essa frase com superficialidade. Dizer que Ele é o Messias e o Filho de Deus é algo que empenha toda a vida. E então, nessa altura, já se compreende que sejamos capazes de sacrificar tudo o que é a nossa vida pela causa de Jesus. E, nessa perspetiva, então «perder» a vida por Ele é o mesmo que ganhá-la de verdade.

 

PARA ULTERIOR APROFUNDAMENTO, VEJA EM BAIXO.

 *   Derramarei sobre todos o espírito de misericórdia e de oração.

 

 *   É pela fé que todos somos filhos de Deus em união com Cristo Jesus.

 

 *   Quem perder a sua vida por minha causa salvá-la-á.

E VÓS,

QUEM

DIZEIS

QUE

EU SOU?

  

 

   Por motivos imprevistos, são propostos, neste lugar, os comentários - algo complicados, devo admitir - do Messale dell'Assemblea Cristiana, sendo a tradução e a adaptação da minha responsabilidade, bem como os subtítulos.

 

  •  A morte como via para a vida

        Jesus Cristo tem uma identidade pessoal a salvar e a revelar e tem uma missão a cumprir. Ora, para revelar a sua identidade e para cumprir a sua missão, para salvar a verdade da sua vida, Ele está disposto a tudo, mesmo a perder a sua vida física. A decisão «incondicional» e absoluta de ser ele mesmo e levar a cabo a sua missão e «todo o custo» é o acto supremo de fidelidade (obediência) a Deus.

 

  •  Cumprimento da promessa

       O perder a própria vida física (morrer) é o «sinal», a verificação, a «prova» absoluta da fidelidade à própria identidade e à missão recebida do Pai. É, por isso, o ato com o qual a vida é salva. Ora, qual é a identidade de Cristo? Ele é verdadeiro homem e verdadeiro Deus. Jesus salva-nos por aquilo que «é». Ele é a «reconciliação» entre o homem e Deus, a comunhão «perfeita» do homem com Deus. Mas é preciso acrescentar de imediato: Jesus salva-nos com o que «faz». E o que faz (a missão) depende da aceitação ou recusa da parte dos outros.

 

      Jesus provoca os apóstolos a dizerem o que pensam dele, da sua identidade e missão (Evangelho). Pedro responde: «Tu és o Cristo de Deus!». Há diversidade entre como entendem o Messias os apóstolos, que refletem a mentalidade corrente (de cariz político), e Jesus. Eles entendem o Messias como poder, Ele como amor. Se Deus é amor, abertura, comunhão, a Ele, que é Homem-Deus, não resta outra via senão o amor. Só um homem-amor pode ser a revelação de Deus-amor.

 

  •  A economia do amor de Deus

       Em termos rigorosos, Jesus poderia ter reconduzido o homem a Deus, levar a cabo a obra de «pacificação» do homem com Deus e dos homens entre si, também através do poder usado por amor. Mas o Homem-Jesus opta por cumprir a sua missão mediante o amor «puro», ou seja, unicamente com o amor, com o apelo às consciências, com a doação, o serviço, a paciência, a doçura, os meios pobres. Porque´esta é a única via para a transformação dos corações.

 

  •  Amor fiel ao Pai e aos irmãos

       Jesus jamais poderá aceitar ser o que os seus co-nacionais querem que ele seja. Ele será o que Pai quer que seja, a verdadeira imagem de Deus e a verdadeira imagem do homem, o verdadeiro rosto de Deus e o verdadeiro rosto do homem.

 

       Jesus sabe que a fidelidade a esta decisão, de atuar o projecto do Pai, num mundo dominado pelo pecado, lhe causará muito sofrimento, a recusa por parte do poder (anciãos do povo, sumos-sacerdotes e escribas) e, por fim, uma morte violenta. Todavia, Ele aceita livremente esta consequência da sua decisão para não trair o amor fiel ao Pai e ao homem. 

 

      Pode-se imaginar o drama de consciência de Jesus: Ele encarrega-se de cumprir uma vocação messiânica, e tem intenção de a levar até ao fim com doçura e com meios pobres e, ao mesmo tempo, vê que não poderá levar a bom termo a sua obra porque virá a morte antes da sua realização. E então? Sem dúvida, Deus quer que seja para além da morte que Jesus cumpra a sua missão messiânica. Sem dúvida, Deus não o abandonará na sua morte. A morte violenta de Jesus tem duas faces: por um lado, revela o poder do pecado e, por outro, o poder do amor mais forte que a morte. Paradoxalmente, a morte violenta de Jesus, enquanto ato de amor absoluto, é, ao mesmo tempo, a revelação de Deus ao homem e do homem a si mesma.

 

  • Morte de Cristo - ressurreição do homem

       Enquanto ato de amor absoluto, a morte de Cristo é a «ressurreição do homem», é a fonte da vida. Porque a vida alimenta as suas raízes no amor. Uma fonte a que acorre, consciente ou inconscientemente, a humanidade. Jesus é o homem totalmente aberto, no qual as paredes da existência são totalmente abatidas, de modo que Ele é integralmente «passagem» (Páscoa)... O futuro do homem depende da cruz, a redenção do homem é a cruz. E o homem não se atingirá verdadeiramente a si mesmo de outra maneira, a não ser permitindo o derrube das paredes da sua própria existência, voltando o olhar para o «trespassado» (1ª leitura) e seguindo Aquele que, em vestes de trespassado, de homem de lado aberto, abriu a via do futuro (J. Ratzinger).

 

  • Perseguição, distintivo do cristão

   É um facto facilmente constatável que o Povo de Deus experimentou, durante toda a sua história, a violenta oposição e perseguição dos povos vizinhos. De resto, não era por ser povo eleito que se poderia achar com direito a outro tipo de tratamento. Além disso, o mistério da perseguição, embora ligado ao problema do sofrimento, é distinto deste. Enquanto o sofrimento é próprio de toda a gente, a perseguição (que naturalmente implica, também ela, sofrimento) diz respeito apenas aos justos, precisamente na medida em que são justos e em que, pela sua vida e atitude, representam uma acusação contra aqueles que não atuam em conformidade com o que os justos transmitem através do que dizem e sobretudo do que fazem.

    No que se refere ao AT, a perseguição atinge especialmente os profetas, por causa da sua dedicação e amor a Javé, como consequência da fidelidade e rigor que devem à Palavra. O profeta Jeremias (que fornece abundante material para a reflexão de hoje) ocupa entre os perseguidos um lugar de destaque. A sua vida é a demonstração cabal da relação estreita entre perseguição e missão profética.

    Ora bem, da mesma forma, a perseguição, bem como o sofrimento que dela deriva, será um distintivo do cristão realmente incorporado na dinâmica daquele «que fala em nome de Deus». Todo o cristão deve ter a noção clara da obrigação que lhe incumbe de falar em nome de Deus. Daí ter que se afirmar que todo o cristão deve ser profeta. E é certo e sabido que quem está de forma sincera comprometido na defesa dos interesses dos mais necessitados, bem como na difusão dos valores evangélicos, será objeto de oposição e, por vezes, de perseguição, «porque, assim como perseguiram o Mestre, assim também hão-de perseguir os seus discípulos» (cf. Jo 15, 20).

  • Figura profética: o Servo de Javé

    Jesus, nesse aspeto, também não foi exceção. Melhor dizendo, Ele é que é o paradigma do Justo que sofre por defender a justiça. Por isso se lhe aplica plenamente o título de «Servo de Javé». O Servo sofredor é tal na medida em que cumpre os planos de Deus. Com efeito, como os planos de Deus são diferentes dos planos dos homens, isso causa «atrito» e, por isso, isso pode levar à perseguição. E os sofrimentos que dela derivam são uma situação «normal» em que se encontram envolvidos tanto os profetas como quem quer que procure fazer a vontade de Deus. Por isso, todo o profeta (e o cristão deve ser um profeta, ou seja, alguém que fala e, com a vida, é testemunha duma outra realidade em nome de Deus) tem a pagar como tributo à sua condição de testemunha de Deus a agonia duma vida cheia de contrariedades e perseguições. O drama do justo perseguido é descrito pelo profeta Isaías (Is 42,1-7; 49,1-6; 50,4-9; 52,13–53,12), e também pelo livro da Sabedoria, segundo o qual o justo se torna insuportável para o ímpio só em vê-lo (cf. Sb 2,12-14).

    Ao condenar Jesus ao supremo suplício da cruz, os judeus continuam a injustiça dos seus antepassados que, perseguindo os profetas e Jesus, se opõem ao plano de Deus. Mas, no fim, os cálculos do homem pecador revelam-se sem perspetiva. Os «príncipes deste mundo», ao crucificarem o «Senhor da glória», na realidade, tornam-se instrumentos da sabedoria divina (cf. 1Cor 2,8), porque a morte de Cristo é salvação para o mundo e glória de Deus, enquanto a fraqueza do mundo é a fortaleza de Deus.

  • Perseguição é bem-aventurança

    Nesse aspeto, segundo os ensinamentos de Jesus, a perseguição é inclusivamente tema, ou melhor, objeto das bem-aventuranças: «Felizes sereis quando vos insultarem e vos perseguirem...» (cf. Mt 5,11). A perseguição, como disse acima, é inevitável. É o próprio Jesus que o diz: «O servo não é maior que o seu senhor. Se me perseguiram a Mim, também vos hão-de perseguir a vós». Empenhar-se, pois, em viver segundo os caminhos do Senhor implica encontrar no próprio caminho uma série de dificuldades e problemas sempre novos e cada vez maiores. Num mundo dominado pelo egoísmo e pela procura do próprio interesse, quem prega o amor, a pobreza, o desapego e o perdão, será inevitavelmente perseguido.

    Só que quem é perseguido sabe que os perseguidores só têm o poder de matar o corpo, mas não têm o poder de matar a alma. Por isso mesmo, o cristão até é capaz de atingir um momento em que experimenta a capacidade de suportar a perseguição com alegria. Exemplo disso são os apóstolos, após o Pentecostes: «Eles saíram do Sinédrio contentes por terem sido ultrajados por amor do nome de Jesus» (cf. Act 5,41). S. Paulo diz o mesmo de forma bem clara: «Estou cheio de alegria em cada tribulação» (1Cor 7,4).

  • Perseguição não é vitimismo

    Até à realização do II Concílio do Vaticano, prevaleceu uma mentalidade bastante fechada a nível de Igreja em relação ao mundo. Aprendia-se que era necessário «odiar», desprezar e fugir do mundo. E muitos cristãos tomavam isso rigorosamente à letra (pelo menos no plano teórico e doutrinal), embora soubessem, ou pelo menos intuíssem, de alguma forma, que, tendo sido criado por Deus, o mundo era uma coisa boa. Infelizmente, há que reconhecer que dessa mentalidade restam ainda muitos sinais.

    Ora bem, a expressão «mundo», particularmente na linha de pensamento do evangelista João, indica não uma realidade física, mas sim uma realidade moral, na medida em que significa o que no mundo há de mal. E isso, como parece óbvio, existe também dentro da Igreja e dentro de cada um dos seus membros. A Igreja, digamos assim, não está propriamente em contraposição ao Mundo, mas sim em contraposição ao Mal. A Igreja, nos tempos que correm (é fácil constatá-lo), como regra, já não é considerada como castelo encantado que é preciso defender de todas as investidas do «mundo» (antes pelo contrário).

   Ela é considerada, isso sim, como o fermento que quer permear com os valores evangélicos a grande massa da humanidade. Espero bem que já tenha sido ultrapassada a convicção - que parecia comum e indiscutível - de que toda a massa se deve tornar fermento. Não, a massa será sempre massa e o fermento será sempre apenas uma pequena parte inserida na massa. Isso talvez evite muitos mal-entendidos e muitas ilusões alimentadas de maneira incorreta. Uma atitude negativa neste campo conduz a um estado de vitimismo que não é nada saudável.

    Mais do que uma doutrina ou um conjunto de regras, que é preciso defender contra todas as investidas dos «inúmeros» adversários e inimigos que andam por aí à solta, o cristianismo deve ser um fermento que leveda a massa, deve ser uma vida vivida, deve ser uma mudança constante de mentalidade segundo as teses evangélicas: um fermento para o mundo (passe a expressão!) sem excluir, naturalmente e antes de mais, os cristãos.

  • A ação não é guerra defensiva

    Em todo o caso, por mais que se queira dourar a pílula, é um facto que pôr em prática as bem-aventuranças evangélicas a favor da evangelização e da autêntica promoção humana conduz necessariamente à perseguição. A oposição entre a sabedoria mundana e a sabedoria divina é inevitável. Mas devo acrescentar que nem sempre as perseguições de que a Igreja é objeto são devidas à sua fidelidade ao Evangelho. Oxalá fosse só por isso! Espero que isto não cause estranheza, mas, por vezes, a Igreja é também perseguida e obstaculizada por não ser fiel ao Evangelho (também pode acontecer e, infelizmente, acontece) e por não corresponder aos anseios dos tempos, por denotar alguma preguiça ou por demonstrar falta de fé, coragem e abertura ao sopro do Espírito. É doloroso verificar como ideias genuinamente cristãs, como sejam, por exemplo, a liberdade, a igualdade, os direitos da pessoa, e mesmo a democracia, tenham encontrado, em certos momentos e em certos setores da Igreja como quer na cúpula quer na base, opositores inflexíveis, renitentes, resistências incompreensíveis e até mesmo uma luta declarada.

    Os limites humanos da Igreja e dos cristãos são visíveis assim nas conivências (conscientes ou inconscientes) com situações de injustiça e de poder, de medo, de hesitações, de silêncios, de faltas de coragem e confiança. É certo que, em mais dum caso, as perseguições contra a Igreja têm a sua origem numa conceção errada que os perseguidores têm de religião. Mas é verdade também que se trata de uma conceção que, com alguma frequência, é induzida, senão mesmo provocada, justamente pelos que deviam vivê-la com muito mais autenticidade. Às vezes, a hostilidade contra a Igreja nasce dum «amor desiludido» para com ela...

  • Não é só essa perseguição

    Mas, isso não significa uma super-simplificação das coisas? Até a um certo ponto, é isso mesmo. Nem sempre a perseguição é o resultado de uma atitude pouco autêntica da Igreja. É que há, sem sombra de dúvida, também uma outra perseguição que podemos classificar de «satânica». O agente do Mal continua a ser um facto e o fermento negro do mundo continua difundir-se e ramificar-se como um cancro que corrói o tecido da humanidade. É como uma espécie de «corpo místico do mal», com o qual, apesar de todos os gestos de boa vontade, não se pode entrar em diálogo, porque se trata de um inimigo negro e irredutível, do inimigo por excelência, que luta contra Cristo e contra o seu Reino. As suas vítimas preferidas são naturalmente aquelas que, na construção dum mundo mais humano, seguem os passos traçados por Jesus e trilhados pelos seus discípulos.

    Seria uma atitude de menoridade não estar consciente de que o Mal existe realmente e que se consubstancia em todas as tentativas, declaradas ou não, de combater, de todas as formas, mesmo ilegítimas, os valores veiculados pelos adoradores da divindade e, de modo especial, por aqueles que se dizem cristãos. Há claramente indivíduos e grupos apostados em combater e neutralizar os valores que, na ótica de Cristo, devem ser fermento da humanidade, a começar pelos valores da vida e da dignidade humana.