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Amigo ouvinte, no dia de hoje, vou limitar-me a ler-lhe algumas passagens dum texto de Michel Quoist. E vou começar pelo seguinte:
«A minha cruz pesa muito, Senhor! Tenho as costas doridas. Por isso, fico arreliado e a cabeça dói-me. Não consigo digerir as provações e o estômago revolta-se... Todos os males do coração fazem-me mal ao corpo e deixam-me fraco e deprimido. Impedem-me de dormir e de despertar. Senhor, preciso que me livres deles, porque a minha cruz pesa muito, Senhor. Não sei se conseguirei suportá-la...».
Tudo tenho experimentado, mas em vão... Tinham-me dito que as pequenas dores passam depressa; e que os grandes sofrimentos como o tempo se esfumam. Tinham-me dito que era preciso ser corajoso e não pensar mais nisso... e eu lutei, Tu bem sabes. Mas um sopro de vento vem sempre reabrir as feridas... A minha cruz é muito pesada, Senhor. Não sei se conseguirei suportá-la...».
«Tentei cicatrizar as minhas feridas com mil bálsamos; com bons pensamentos, com bons sentimentos. E, por vezes, até com grandes êxtases de fé e orações repetidas. Mas, ao menor choque da vida, as feridas reabriram-se. E sangraram. E tinha que começar tudo de novo... A minha cruz é muito pesada, Senhor. Não sei se conseguirei suportá-la...».
«Creio ter descoberto, finalmente, Senhor, o que tu esperavas de mim. Li, por acaso, esta frase: “Põe a tua confiança no Senhor e ele te sustentará” (Sl 4). E senti que foste tu que me falaste. Senhor, perdão por todo o tempo perdido, por estes sofrimentos mal suportados, pelas faltas de coragem; por todas estas queixas tristes e pelas revoltas loucas...».
«Senhor, perdão, porque tu estavas lá e eu não te vi. Estavas à minha espera para me ajudares a levar o peso e eu não dei por isso... Eu não te via, porque só olhava para os meus sofrimentos. Eu não te ouvia, porque só dava ouvidos ao correr das minhas lágrimas... Mas agora sei que, sem ti, eu não conseguirei suportar nada...».
«Ajuda-me, Senhor, perante as dificuldades da vida: as de ontem, as de hoje e as de amanhã. Ajuda-me a olhar sem medo, em vez de desviar os olhos. Ajuda-me a ousar recordar em vez de esquecer. Ajuda-me até a reviver em mim as dores por que passei, em vez de as rejeitar. Ajuda-me a descobrir que só te poderei oferecer o que eu consentir. Ajuda-me a descobrir que tu nunca me forças a nada...».
«A minha cruz pesava muito, Senhor. Eu não conseguia suportá-la... Mas tu convidaste-me a esvaziar todos os dias o saco do meu coração; como criança nos braços do seu pai ou nos braços da sua mãe; como criança que adormece em paz, porque sabe que é amada pelos seus pais; porque sabe que o amor é mais forte que tudo».