DESFILE PELA CIDADE |
|
«Está a chegar! Está a chegar! Aí vem ele!» – gritava-se pelas ruas da cidade de Jerusalém. «É ele mesmo. É o homem de Nazaré de quem tanto se fala! Aí está ele!». As pessoas começaram a movimentar-se e a cochichar umas para as outras. E a notícia começou a espalhar-se. Primeiro, às portas da cidade e, depois, um pouco por toda a parte...
«Mas há algo de estranho!» – começou alguém a dizer – «Ele nem sequer se parece com um rei! Nós estávamos à espera que era desta vez. Pensávamos que agora é que as coisas iam mudar. Mas, afinal! Onde está o cavalo, a sela dourada e todos os acompanhantes que devem seguir um rei de verdade?». «Pois é!» – concordavam já outros – «Ele vem mas é acompanhado por uma data de saloios! Mas que raça de rei é este? Estão a brincar connosco ou quê? Porventura se conquista assim a liberdade? Devem mas é estar a gozar connosco!».
Entretanto, do meio da multidão que ali se juntara, levanta-se a voz dum rapaz: «É ele mesmo, sim senhores! A diferença está precisamente nisso. Um homem humilde, sem aparência de rei, montado num jumento! É isso mesmo. O meu pai, que percebe da Bíblia, disse-me que lá está escrito que é assim mesmo». As pessoas ficaram a olhar para o rapaz. E, por fim, lá completou uma outra pessoa: «É bem capaz de ser isso. Aliás, nós não precisamos dum outro rei como Herodes. Esse «reizito» é que devia vir isto! E os sacerdotes sabichões também! Venham. É ele mesmo. É ele o rei como o descrevem as Escrituras!».
E o rapaz deu um salto para o meio da rua e foi colocar-se bem à frente de Jesus, que acabava de entrar pelo portão da cidade. Depois, correu de novo para a multidão gritando: «É ele. É ele que está a chegar. Veio dos lados do Monte das Oliveiras. Agora sim, ele vai ser o rei com que todos sonhamos. Com ele, as coisas vão começar de novo». O nome do rapaz era Marcos. E os que estavam ali começaram a andar dum lado para o outro para ver o que se passava.
Daí a uns instantes, toda aquela gente começou a manifestar-se ruidosamente. Alguns começaram a acenar com lenços e outros, à falta de melhor, começaram a cortar ramos das árvores e a saudar o novo rei. Todos se juntavam a esses gritos de alegria, aplaudindo. E o entusiasmo foi tão repentino que ninguém seria capaz de calar aquela multidão. Até parecia que era uma revolução. O desfile passava como se fosse um desfile organizado pelas autoridades romanas. Mas era um desfile muito mais sincero e popular. Tinha sido uma manifestação espontânea.
Mas, no meio de toda aquela alegria e algazarra, havia algo que não quadrava. Jesus mantinha-se calado e quase não desviava os olhos do caminho. Tinha deixado que tudo aquilo acontecesse, mas, ao mesmo tempo, parecia completamente distante. Parecia pouco entusiasmado com toda aquela gritaria. Ao contrário dum outro «conquistador» qualquer, parecia indiferente a todos aqueles aplausos... E o desfile durou muito menos tempo do que muitos desejavam. Jesus procurou dirigir-se o mais depressa para o templo da cidade. Essa parecia a sua principal preocupação. Era como que uma espécie de ideia fixa. E, quando o cortejo chegou, finalmente, ao famoso e belo templo, todos se acalmaram. Se calhar, ficaram à espera de qualquer comunicação importante. Dentro do templo é que o barulho era ensurdecedor. Parecia mesmo uma feira. Que iria acontecer agora que ele tinha finalmente chegado à capital?...
Ao entrar no pátio, Jesus parou de repente. A confusão era tanta que nem queria acreditar no que via. Eram comerciantes que trocavam dinheiro e ganhavam três ou quatro vezes mais. Eram vendedores que tinham levado para dentro do templo tudo o que era animal. Eram até artesãos que procuravam vender nesses dias do ano o que tinham feito durante o ano... Aí, Jesus não teve dúvidas. Era uma vergonha o que tinham feito da casa do Senhor. E o pior é que os sacerdotes do templo estavam também metidos nesses negócios sujos...
Então, nesse momento, Jesus começou mesmo a ferver (passe a expressão!): «Mas... o que é isto? Vocês a fazer dinheiro e a explorar a gente em nome de Deus? E o senhor aí, que queria que eu trocasse dinheiro, faz isso para honrar a Deus? Deve estar muito agradecido a Deus, não é verdade? Pois bem! Digo-lhe uma coisa: Deus não está nada contente com isto! Fique com esse maldito dinheiro». E, num assomo de raiva, derrubou a banca desse homem. Mais adiante, arrombou um cofre e atirou com outra caixa de dinheiro com tanta força que as moedas começaram a rolar por todos os cantos. E nem sequer poupou os que se limitavam a vender animais para os sacrifícios. Que fossem lá para fora!...
Logo se juntaram ali muitos mais curiosos atraídos por causa daquela barulheira toda. Alguns até riam às gargalhadas com tudo aquilo. Para eles, era um espectáculo diferente. Outros aplaudiam. Mas havia também os escandalizados. Estes andavam sempre à espreita de qualquer coisa para ver se conseguiam desfazer-se de Jesus. E apressaram-se mesmo a mandar alguns soldados com a ordem de prenderem Jesus. Só que temiam que houvesse alguma complicação, porque sabiam que Jesus, apesar de tudo, era admirado pela multidão...
À distância a polícia romana observava toda a confusão. Mas não teve a coragem de lhe deitar a mão. Eles pensaram: «Isto é gente demais! Se nos metemos nisto, podemos é ter muitas dores de cabeça. O melhor é só intervir em caso de necessidade. De resto, que temos nós a ver com tudo isto? São problemas deles. Que se arranjem!». E limitaram-se a ficar no mesmo sítio para ver em que é que as coisas davam.
Aquela feira toda dentro do templo de Jerusalém, nesse dia, levou uma razia completa. Eram mesas por terra. Eram moedas. Eram animais a correr por todos os lados. Era gente a barafustar. Jesus teve que improvisar até uma espécie de azorrague para que o desse e viesse. Estava de tal maneira interessado em que o templo de Deus fosse respeitado que nem sequer mediu as consequências. E, depois disso, antes de abandonar o templo, Jesus disse ainda aos presentes: «Não julgueis que, por estarmos dentro do templo, estamos mais perto de Deus! É verdade que é mais fácil prestar culto a Deus no templo, mas não julgueis que é por isso que o nosso culto é mais agradável a Deus. O que interessa é adorar a Deus no íntimo do coração, em espírito e verdade. Pode-se adorar a Deus também fora deste templo. Aliás, nada impede que este amontoado de pedras possa desabar! Eu penso que o coração das pessoas é muito mais importante do que as casas. Mais importante até que estas casas que se chamam templos. E, infelizmente, não falta muito para que compreendais estas coisas!...».