1. NEM PEDRA SOBRE PEDRA

 

Finalmente, decidiram e puseram-se a caminho. Rumo a Jerusalém, Simão Pedro ia insistindo com os seus companheiros: «Mais depressa! Estamos quase a chegar!». Mas os outros não pareciam tão entusiasmados como ele. Então ele deixou o grupo e correu à frente de todos para subir até à colina. Depois duma curva, avistava-se a grande cidade de Jerusalém...

 

Aquele era um lugar privilegiado para contemplar a cidade. E Simão Pedro não se conteve: «Ah, mas que beleza, que esplendor! Eu nunca tinha visto esta cidade deste local. Que coisa mais linda! Jerusalém é mesmo a cidade mais bonita do mundo. Não há nada como Jerusalém. É uma cidade que a gente vê uma vez e nunca mais volta a esquecer! Olhai, olhai (dizia para os companheiros), olhai só para as muralhas! Reparai só nas torres todas banhadas pela luz do sol! Olhai para o templo. Ah, que maravilha! Que coisa mais grandiosa! É inesquecível. É um espetáculo!...».

 

Jesus e os seus amigos sentaram-se no local para descansar um pouco. De facto, o espectáculo da cidade vista de longe era uma maravilha. Um espectáculo deslumbrante! E então, depois de alguns instantes de silêncio, entrecortados por expressões de admiração, João perguntou ao Mestre: «Então é agora que nos vamos mudar para ali? Vamos juntar-nos aos habitantes de Jerusalém? Vamos unir-nos todos para expulsarmos esses malditos dos soldados romanos?»...

 

«Sim, já não é sem tempo!» – insistia também Judas – «Chegou a altura de expulsar os soldados romanos! Eles não têm o direito de ocupar a nossa cidade e o nosso país. Isto não é deles. A cidade e o país são nossos. E esse traidor do rei Herodes também não tem direito de cá ficar. Esse covarde, esse desgraçado, não merece o cargo que tem. É um autêntico macaco que faz tudo o que o imperador manda lá de Roma. Fora com ele!».

 

Vendo que os ânimos começavam a exaltar-se, Jesus deixou o seu mutismo e foi dizendo com calma a todos: «Meus amigos, se quereis que vos diga, não sei se Jerusalém é uma cidade assim tão especial. Certo que tem bonitos edifícios. Isso não o posso negar. E então, deste local, de facto, é uma coisa deslumbrante. Mas, lá dentro, há muita coisa que está mal, há muita coisa que desgosta a Deus. Hoje, Jerusalém já não é a cidade que era antigamente. Antigamente, sim que era outra coisa! Eu não gostaria de ser responsável por esta cidade nos dias de hoje!».

 

Ao que Jesus respondeu: «Sim, tens razão em certo sentido. Claro que quero que as coisas melhores em Jerusalém. Mas, pelo que ouço, acho que nenhum de vós ainda entendeu o que eu realmente quero. Não é uma revolução política que interessa. Eu penso que as coisas têm que ser feitas doutra maneira. Vede o que acontece, por exemplo, quando a gente constrói uma casa. Vamos escolhendo as pedras mais bonitas. Sobretudo nos fundamentos, em cima e nos cantos, temos a preocupação de colocar pedras bonitas, com figuras e bem trabalhadas. Mas acontece que, por vezes, há uma pedra mais dura, que os pedreiros deixam de parte, por não serem capazes de a trabalhar como as outras...».

 

Para os discípulos, a linguagem de Jesus continuava a ser enigmática. Mas ele continuou: «Essa pedra que os construtores rejeitam, fica ali a um canto qualquer. Depois, veio a chuva e o vento e as outras pedras começaram a ruir. Apareceram primeiro umas fendas. Mas, antes que tudo acabasse por terra, bem depressa tiveram que ir à procura da pedra rejeitada para compor as coisas. Pois bem, eu acho que Jerusalém está a ruir e não vai ficar pedra sobre pedra. Realmente, não sei o que vai acontecer...».

 

Entretanto, chegaram uns homens vindos da cidade. Tinham sido curados por Jesus uns tempos atrás e tinham ouvido dizer que havia gente em Jerusalém que o queriaprender: «Parece que até já mandaram soldados à sua procura!» – acrescentaram eles – «Portanto, se calhar, é melhor fugir. Fuja antes que seja tarde demais!». Ao que Jesus respondeu: «Bem, se isso acontecer, não será a primeira vez. Tantos dos profetas também foram assim tratados. E, no meu caso, acho que devo ir para onde as pessoas precisam de mim. Apesar das ameaças, tenho que ir para Jerusalém!». E logo Simão Pedro prometeu ali solenemente: «E eu vou contigo. Não te vou abandonar agora que as coisas vão aquecer». E os outros todos fizeram o mesmo juramento.

 

Depois, dirigindo-se aos que tinham vindo de Jerusalém para o avisar, disse-lhes: «Quanto a vós, podeis voltar descansados para a cidade. E mais. Já agora, pedia-vos um favor: ide à nossa frente e avisai as pessoas de que estamos a chegar». Eles ainda quiseram insistir. Quase protestaram. Mas de nada lhes valeu. A decisão de Jesus estava tomada. Entretanto, Jesus ficou ali com os seus discípulos mais algum tempo a contemplar a cidade. Jesus foi-lhes dizendo que aquilo ia ter um mau final. Só depois é que se puseram de pé e se fizeram ao caminho.

 

Já perto das portas da cidade, vieram ao encontro do grupo algumas pessoas. E daí a pouco chegavam também uns três ou quatro soldados, que traziam ordens de tratar do assunto. Tinham sido encarregados de cortar o mal pela raiz prendendo Jesus. Mas os soldados ficaram de tal maneira encantados com as coisas que Jesus estava a dizer ao grupo de gente que ali se tinha formado que eles nem se atreveram a interromper. Não podiam adivinhar qual seria a reacção das pessoas. Aliás, não só não se atreveram a pôr-lhe as mãos em cima, como inclusivamente nem sequer chegaram a dizer o motivo por que tinham vindo. Mais: até eles gostaram do que ouviram...

 

Quando os soldados regressaram e foram ter com as pessoas que lhes tinham ordenado que prendessem Jesus, eles responderam: «Ah, nunca ouvimos homem algum falar tão bem como ele fala. Ele deve ser um homem muito especial!». Aliás, não se limitaram a transmitir essas coisas aos seus superiores imediatos. Saíram dali e foram falar desse tal Jesus a toda a gente que encontravam pelo caminho. E a notícia espalhou-se com tanta facilidade que bem depressa se começou a juntar um enorme grupo de habitantes e forasteiros curiosos por ver esse tal homem. Sempre queriam ver com os seus próprios olhos quem era esse Jesus e quais os prodígios que fazia.