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Jesus e os seus amigos passaram aquela noite em Betânia. No dia seguinte, logo de manhã, dirigiram-se para a capital de Israel, Jerusalém. Jesus ia a pensar no que tinha acontecido no dia anterior e também na conversa tida com Marta e Maria. «Vamos embora!» – disse ele aos discípulos – «Temos que ir andando. Não podemos ficar aqui toda a vida. Temos que ir mesmo para a cidade. Como sabeis, já falta muito pouco para a festa da Páscoa. Como eu tenho planos especiais para este ano, é melhor irmos já, para ver se arranjamos um lugar onde ficar».
Durante a caminhada, Jesus foi lembrando aos seus amigos que era dessa vez que se ia cumprir tudo o que o profeta Isaías tinha escrito sobre o Filho do Homem. «O Filho do Homem» – dizia ele aos discípulos, referindo-se a si mesmo – «vai ser entregue nas mãos dos gentios e vai ser escarnecido e maltratado. Hão-de tratá-lo tão mal que até vão escarrar nele! E, depois de o tratarem mal, vão dar-lhe uma morte horrorosa!».
Mas os discípulos, como sempre, não perceberam o que Jesus lhes estava a dizer. Antes pelo contrário, contemplando o esplendor da grande cidade, continuavam a pensar em grandezas. Tanto que Simão Pedro (sempre o mesmo) lhe perguntou: «Quando chegarmos a Jerusalém, o que é que vai acontecer? Agora é que as coisas vão mudar, não é verdade? Sempre vai ser desta vez que vamos conseguir construir um país em paz? Agora é que vamos poder agir, não é verdade?».
Parecia mesmo inútil estar a insistir. As coisas ou se compreendem pessoalmente ou então é inútil insistir. Por isso, Jesus foi-se adaptando à capacidade de compreensão deles. «O quê?! Então achais que basta a gente chegar a Jerusalém e... pronto, muda assim tudo como que por encanto? Achais que é assim tão fácil? Ah, não! Mudar uma cidade não depende só de mim e de vós. Ao lado dos que fazem o bem, há sempre muita gente que também procura pôr obstáculos a sua acção. Temos que saber lidar com essas situações. Mudar as coisas dá muito trabalho e sobretudo exige muito sacrifício. É por isso que o Filho do Homem vai ter que sofrer muito. E vós, meus amigos, também tendes que estar preparados para essas coisas. Muito em breve, haveis de perceber o que é que eu quero dizer!»...
Entretanto, por pessoas que tinham estado com eles na aldeia que ficava antes de Jerusalém, os chefes religiosos e civis chegaram ao conhecimento de que Jesus e os seus amigos estavam a chegar à cidade. E não gostaram nada da notícia, porque havia cada vez mais gente que acreditava em Jesus. Sobretudo depois dum prodígio que ele tinha feito em Betânia. De facto, as pessoas tinham ficado de tal maneira impressionadas com a forma como Jesus tinha dado vida a um senhor chamado Lázaro que já uma multidão andava atrás de Jesus por todo o lado.
Agora que Jesus se aproximava de Jerusalém – pensavam eles – havia que redobrar de cuidados. A sua presença podia dar origem a qualquer movimento de revolta e era preciso prevenir isso. Os chefes dos sacerdotes e os fariseus mais influentes reuniram-se então para pensar qual a estratégia a pôr em acção. É que, se houvesse qualquer amotinação, tudo podia acontecer. Elas sabiam que os romanos não iam deixar que acontecesse algo, capaz de pôr em causa aqueles dias de festa, que eram os mais solenes do ano. Mas eram também os que representavam mais perigo. Por isso, a vigilância era redobrada...
Ora, se acontecesse alguma coisa, os solados romanos podiam intervir com força e inclusivamente fazer algum desacato no templo de Jerusalém para impor a ordem. Os chefes dos sacerdotes e os mais influentes dos fariseus (que eram assim como que uma espécie de defensores da Lei), tinham, pois, razões para temer. Por isso perguntavam com alguma angústia: «Que é que vamos fazer, uma vez que Jesus realiza tantos milagres? Se o deixamos à vontade, todos vão acreditar nele e depois vêm os romanos e são bem capazes de destruir o templo e o país inteiro!».
Para chefiar a classe dos sacerdotes, digamos assim, havia turnos regulares. Nessa altura e no ano em que Jesus e os seus discípulos se dirigiam a Jerusalém para festejar a Páscoa, o chefe dos sacerdotes, que por isso mesmo era designado por Sumo-sacerdote, era um homem chamado Caifás. Pois bem, Caifás, durante essa tal reunião dos sacerdotes e dos fariseus, perante a preocupação dos outros membros do chamado Sinédrio, disse: «Eu acho que podemos impedir que esse tal Jesus nos cause problemas. A mim parece-me muito simples a solução do caso. Então não compreendeis que é preferível que morra um homem só pelo povo a ter que perder todo o país?». A sugestão foi aceite unanimemente e, a partir desse momento, eles resolveram matá-lo. Só estavam à espera que chegasse a festa da Páscoa para porem em acto a sua resolução.
Por acaso, o teor dessa reunião dos sacerdotes e dos fariseus chegou aos ouvidos de Jesus. Não se sabe como, mas chegou. Seja como for, quando Jesus soube das intenções dos chefes espirituais do povo, teve que mudar de planos. E, por isso, em vez de entrar imediatamente em Jerusalém, como seria seu desejo, Jesus procurou retirar-se. E, de facto, retirou-se para uma região perto do deserto, indo para uma pequena cidade chamada Efraim. E por lá ficou alguns dias com os seus discípulos.
Entretanto, a festa da Páscoa estava cada vez mais próxima. As pessoas que iam para Jerusalém eram muito numerosas. E, na cidade, sobretudo perto do templo, alguns estavam curiosos por conhecer esse Jesus de quem quase todos falavam. E alguns diziam a outros: «Que vos parece? Achais que vem ou não à festa? Parece que, de repente, desapareceu do mapa!». Os mais preocupados eram os chefes dos sacerdotes e os fariseus que receavam que ele estivesse a aprontar alguma. Por isso, deram ordens para que, se alguém soubesse do seu paradeiro, o denunciasse para o prenderem. Assim ninguém correria nenhum perigo.
Poucos dias antes da festa da Páscoa, Jesus foi de novo a Betânia, onde vivia Lázaro, que ele tinha ressuscitado dos mortos. Ofereceram-lhe um jantar. Marta servia à mesa e Lázaro era um dos que estavam à mesa com ele. O semblante de todos os presentes era muito reservado. Não sabiam porquê, mas parece que o olhar um pouco distante de Jesus não augurava nada de bom... Foi nessa altura que Maria, irmã de Lázaro, pegou num perfume de alto preço e com ele ungiu os pés de Jesus.
Quem não gostou nada desse gesto foi um dos discípulos de Jesus, chamado Judas Iscariotes. E, por sinal, manifestou-o claramente: «Porque é que não se vende o perfume e não se dá o dinheiro aos pobres?». Acrescenta o evangelista João que Judas disse isso não porque lhe interessassem muito os pobres, mas porque era ladrão e, como era ele que tinha a bolsa, tirava dela o que lhe apetecia para as suas coisas. Qualquer que tenha sido o motivo, o facto é que encontraram Jesus em casa de Lázaro. E então ele já não pode ficar escondido, digamos assim. Tinha mesmo que ir para Jerusalém.