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Jesus e os seus amigos já tinham caminhado muito. As distâncias naquele tempo, mesmo as mais curtas, levavam sempre muito tempo a percorrer. Sobretudo se o tempo não ajudava. Mas, finalmente, eles chegam bem perto da capital, Jerusalém. Entre eles e a cidade, havia ainda uma pequena aldeia por onde tinham que passar. Como estavam cansados e talvez não tivessem tempo de chegar à cidade nesse dia, pensaram em passar a noite naquela aldeia.
Ao aproximarem-se da aldeia, veio ao encontro deles um homem que parecia bastante distinto. «O senhor é que é Jesus de Nazaré?» – perguntou o homem. «Sou, sim senhor! Alguma novidade?». «Pois bem, é o seguinte. Eu venho de Jerusalém. Ouvi falar do senhor e disseram-me coisas estranhas a seu respeito. Sou um estudioso das Escrituras no grande templo de Jerusalém e gostaria de lhe fazer umas perguntas... pode ser? Não é por mal, sabe! É que eu tenho cá as minhas ideias, que nem sempre concordam com as de outras pessoas. E gostaria de saber a sua opinião!...».
Ao redor daquele doutor da Lei, juntou-se logo um montão de gente. Na aldeia não havia nada com que se entreter. E então, quando aparecia alguém de fora, a gente juntava-se logo. Estavam todos com curiosidade e fizeram uma roda para ouvir a conversa. Também eles tinham ouvido falar de Jesus e então sempre queriam saber como é que ele se iria safar, passe a expressão, quando um homem tão inteligente e instruído como aquele doutor lhe fizesse algumas perguntas...
Nesse mesmo instante, passou do outro lado da rua, um comerciante montado numa mula. Nem sequer parou. Nem olhou sequer para aquele ajuntamento de pessoas. Era um homem de fora. O doutor da Lei achou aquela pressa um pouco estranha, mas, reparando que era um samaritano, sentenciou logo: «Também não faz cá falta nenhuma! Não se perde nada. São uns ateus estes samaritanos. Não param muito tempo em Jerusalém. Parece que têm medo que lhes façam mal. Os samaritanos são uns ignorantes que deturpam a Bíblia. Só lêem os trechos mais antigos. Mas eu, eu venho de Jerusalém e ali sim... Jerusalém é a cidade mais importante do mundo para Deus...».
«Pois bem, já me ia esquecendo» – continuou o doutor da Lei – «O que eu lhe queria perguntar é o seguinte: O que é que a gente tem que fazer para ganhar o reino dos céus?». «Bom» – responde Jesus – «Essa é uma pergunta à qual é bastante fácil responder. O senhor, que é versado em Bíblia, sabe perfeitamente a resposta, porque está lá claro. Que é que diz a Bíblia?». «A Bíblia diz o seguinte: É necessário amar a Deus de todo o coração e amar também o próximo. Mas isso já eu o sei muito bem!». «Pois então...» – insiste Jesus – «faça isso mesmo e verá que dá certo. Não basta a gente saber as coisas, é necessário pô-las em prática».
O doutor da Lei pensou um pouco e depois disse: «Está bem, amar a Deus… isso eu entendo-o muito bem. Mas agora amar o próximo é que eu já não entendo lá muito bem. Quem é que é o meu próximo? Qualquer pessoa? Também os que não são da nossa terra?». Pela maneira como falava, Jesus pensou que aquele doutor não era bem como os outros. Como regra, os doutores da Lei faziam perguntas para ver se entalavam (passe a expressão) os outros. Mas este não era assim. Então Jesus resolveu dizer-lhe: «Quem é o meu próximo? Boa pergunta. O senhor quer saber se qualquer pessoa é o próximo? Pois bem, o senhor vai saber a resposta imediatamente. Escute só a história que lhe vou contar já...».
As pessoas apertaram-se ainda mais para ouvir. Então Jesus começou. Uma vez, um homem passou precisamente por esta terra. Voltava de Jerusalém para Jericó. Tinha feito uns negócios bem bons em Jerusalém. Enfim, tinha ganho umas boas coroas. Como os meus amigos sabem, nas montanhas aqui perto, escondem-se alguns homens que lutam contra os soldados romanos. Vós sabeis isso melhor do que eu, não é verdade? Esses revolucionários precisam de muito dinheiro para comprar armas e mantimentos. Ora, acontece que esses homens armados assaltaram o comerciante e espancaram-no, de tal maneira que ele desmaiou. Rebuscaram os sacos do homem e fugiram com todo o dinheiro. E deixaram ali o pobre do coitado meio morto no meio do caminho...».
Ora, deu-se o caso que passou por lá um sacerdote do templo de Jerusalém. Era a sua vez de cumprir as funções no templo. E que é que fez? Viu o homem caído no chão e pensou consigo mesmo: «Parece-me morto. É melhor nem sequer tocar nele, porque senão fico impuro». E desviou-se para o outro lado. Algum tempo depois, passou pelo mesmo caminho um ajudante do sacerdote. Era um levita, como sabeis. Também ele viu o homem deitado à beira do caminho a sangrar. Mas também ele teve medo de sujar as mãos e passou pelo outro lado do caminho...».
Finalmente, chegou também um homem qualquer que, por acaso, era samaritano. À semelhança dos outros, também ele viu o homem estendido no caminho. E o que fez? Aproximou-se e, ao notar que estava sem sentidos e que havia sangue ao pé da cabeça, pensou: «Malvados! Quem teria feito isto? Maldito dinheiro! Tudo por causa do dinheiro. Oxalá ainda esteja vivo!». E, sem muitos problemas de consciência, socorreu o pobre homem. Com muito esforço, lá pegou no homem e colocou-o em cima da sua mula...».
Esse samaritano sabia que não estava longe da povoação, porque passava por ali com frequência. Havia lá uma espécie de pensão, logo à entrada. Levou então o homem. Ao chegar, bateu à porta e disse ao dono da estalagem para tratar daquele ferido. Pagou adiantado, para que cuidassem dele até regressar. Ia a Jerusalém tratar duns negócios, mas voltava dali a dois ou três dias. Quando se certificou de que iam realmente tratar do homem, seguiu viagem...».
As pessoas estavam todas suspensas dos lábios de Jesus. Incluindo o doutor lá da capital. Então Jesus disse: «Pois bem! A história é esta. Agora, diga-me lá (e dirigiu-se dum modo particular ao doutor da Lei) uma coisa. Imagine que o senhor era o homem que leva uma surra valente e fica ali à beira do caminho meio morto. Pois bem! Segundo a história que eu contei, quem é que seria o seu próximo? Por outras palavras, quem é que teria estado mais perto de si?». «Bem» – gaguejou o doutor da Lei – «Sim, bem, quer dizer, não sei, pois é, bem... o meu próximo, neste caso, pois, sim, seria o samaritano!».
Claro, não tinha nada que saber. E, por isso, Jesus limitou-se a tirar a conclusão prática: «Ora aí tem, meu amigo! Também eu acho que é assim mesmo como o senhor está a dizer» – concordou Jesus. «O que é que tem então a fazer para cumprir o seu dever?. É muito simples: vá e faça, o senhor também, nem mais nem menos como esse samaritano!».