1. TODOS PARA A FESTA!
 

 

Quando Jesus contou a história do filho pródigo, as pessoas ficaram impressionadas. Mas isso não quer dizer que elas não tenham percebido a ironia fina que ela continha. O pai da história não era um pai qualquer. Os pais normais não costumam proceder assim. Então os presentes deduziram que se tratava da representação do próprio Deus. Para Deus, há sempre a possibilidade de a gente se corrigir; mesmo depois de ter feito as piores asneiras. E então foram capazes de tirar outra conclusão: até o odiado Zaqueu se podia corrigir...

 

Quem sabe se em Zaqueu não se tinha operado também uma conversão! Bem vistas as coisas, parecia que qualquer coisa de especial tinha acontecia. Doutra forma, como é que explicava a decisão repentina de restituir tudo aos que tinham sido defraudados e de ajudar os que não tinham nada? E então o inaudito aconteceu: não se sabe bem por que força, a casa de Zaqueu foi literalmente invadida pelos presentes...

 

Zaqueu não cabia em si de contente. Afinal de contas, as pessoas até nem eram aquilo que ele julgava. Então ele disse a Jesus: «Repare só nisto. Todos entraram em minha casa. Aqui há gente que nem sequer conheço. Até entraram mulheres que dizem que não têm lá muito boa fama! Imagine só! Eu nem sequer sei o que dizer!». Jesus sorriu: «Ó homem! Estas coisas acontecem. As pessoas nem sempre são o que parecem. Eu acho que é precisamente isso que está acontecer com elas. Discutiam, barafustavam, protestavam... mas, no fundo, são boa gente...».

 

Então Jesus continuou: «Zaqueu, não sabes a história daquele homem que ficou rico e quis dar uma festa? Não, não sabes. Pois bem, eu vou contar-ta. Talvez assim compreendas o que está a acontecer. Pois então... a história é assim. Havia um homem rico. Ele gostava muito de fazer grandes festas. Um dia, por ocasião duma ocorrência mais solene, que era o casamento do seu filho, ele quis fazer a maior festa da sua vida. Mandou então convites a todas as pessoas mais importantes da cidade».

 

Mas, acontece que os convidados não apareceram. Não estavam para isso. Tinham outras coisas mais importantes a fazer. Um deles, por exemplo, desculpou-se assim: «Sabe, acabo de receber a nota duns recibos do banco (alguns bons milhares) e tenho que pensar bem no que hei-de fazer. Estou a pensar em comprar umas propriedades. Como compreende, tenho que ir dar uma vista de olhos, para não acontecer que compre gato por lebre. Portanto, diga lá ao seu patrão que me desculpe. Teria muito gosto (acrescentou ele), mas infelizmente não posso»...

 

Um outro arranjou uma desculpa semelhante: «Sabe, tenho muitas terras para cultivar e agora as coisas não estão nada fáceis. Eu vou precisar dumas 50 juntas de bois para lavrar tudo. Por isso, como pode calcular, tive que contratar alguém que me tratasse do assunto. E eu tenho que ir lá ver se os bois são valentes e se realmente servem para o serviço que tenho em vista. Sinto muito, mas não me é possível aceitar o convite...».

 

Um terceiro (e estas coisas também acontecem!) era recém-casado. E... que melhor desculpa que essa? «Calcule!» – disse ele a quem lhe entregava o convite – «Acabo de contrair matrimónio e ainda não fomos à nossa lua-de-mel. Até já marquei viagem e tudo. Não vamos agora desdizer tudo, compreende! Sinto muito, gostaria de ir, mas não me é realmente possível». E fechou a porta.

 

E assim foram-se desculpando uns e outros. Ninguém aceitou o convite para ir à festa do rico. Todos inventaram mil e um compromissos. Mas a história ainda não terminou. Então esse homem rico, depois disso, ficou irritadíssimo com as pessoas que tinha convidado. Não sei como lhes terá retribuído a falta de educação, mas não deve ter sido muito simpático. Mas não é isso que interessa. Chamou os seus cozinheiros e criados e deu-lhes estas ordens: «As coisas já estão preparadas e os convidados não quiseram vir. Então, ide pela cidade e pelos becos escuros e trazei-me todos os que por lá houver; gente pobre que não tem onde cair morta».

 

Foram então à festa daquele senhor rico todos os que os seus empregados encontraram pelo caminho. Mas, depois de ter entrado toda essa gente, ainda sobraram alguns lugares. Então o homem rico disse aos seus empregados: «Ide dar mais uma volta pela cidade e vede se encontrais mais gente. Convencei as pessoas a virem à festa a minha casa. Não importa quem seja. Podeis trazer toda a espécie de gente. Só nessa altura, é que daremos início à festa»... E, de facto, assim aconteceu.

 

Quando Jesus acabou de contar a sua história, Zaqueu pensou consigo mesmo: «Realmente a minha casa hoje parece-se mesmo com a casa dessa história!». E, com efeito, tinha-se juntado ali tanta gente que parecia que nunca mais acabava. Era gente desconhecida até; gente que nunca tinha ido a festa nenhuma. Parecia mesmo que estava toda a gente daquele bairro em casa de Zaqueu.

 

Quando a grande festa em casa de Zaqueu estava quase a terminar, Jesus tomou mais uma vez a palavra e disse a toda a gente ali reunida: «Com muita probabilidade, vós ainda não compreendestes a razão por que eu aceitei vir a casa de Zaqueu para fazer uma festa. Pois bem. Deixai-me dizer o seguinte: para Deus, não há nem ricos nem pobres, não há cidadãos nem aldeões, não há nacionais e estrangeiros. Não diz a Bíblia que todo o mundo e todos os homens foram criados por Deus? Se é assim, então as pessoas não se medem pelo que parecem externamente, mas por aquilo que são interiormente...»

 

«Pelo que diz respeito ao nosso amigo Zaqueu» – insistiu Jesus – «garanto-vos que as disposições do seu coração são superiores às de muitos dos que julgam que cumprem toda a Lei e que, no entanto, lá bem no fundo, estão cheios de raiva e de ódio. O ódio e a inveja matam… Todos têm lugar diante de Deus. Ninguém pode impedir que as pessoas, sejam elas quais forem, se aproximem de Deus. Se calhar, um dia, ainda vamos ficar muito admirados por pessoas que julgávamos pecadoras, ainda chegarem ao paraíso primeiro do que nós»!

 

Jesus nesse dia estava em maré de histórias. Por isso, aproveitou a ocasião para contar mais uma. Essa história dizia respeito precisamente aos que confiavam muito em si mesmos e se julgavam justos e que, por isso mesmo, desprezavam os outros. Dois homens foram rezar ao templo. Um era fariseu e o outro publicano. O fariseu, de pé, rezava assim: «Ó Deus, dou-te graças por não ser como o resto dos homens...». Por seu lado, o publicano, mantendo-se a distância, nem sequer ousava levantar os olhos, mas batia no peito dizendo: «Ó Deus, tende compaixão de mim, porque sou pecador». Pois bem. Garanto-vos que o publicano voltou perdoado para casa e o fariseu não».