1. UM ANÃO NUMA ÁRVORE
 

 

Zaqueu era um homem rico. Gostava muito de dinheiro. Afinal, não era muito diferente de muita gente de hoje e de todos os tempos. Ora bem, naquele dia, Zaqueu já tinha escriturado todos os impostos. Fez todas as contas e fechou o livro. O dinheiro entrado tinha sido bastante. A sua profissão era cobrar impostos em nome do imperador. Em cada país e em cada terra conquistados, o povo tinha que pagar impostos. Pois bem! Na cidade de Jericó, o primeiro encarregado de cobrar esses impostos chamava-se Zaqueu.

 

Como era esperto, Zaqueu cobrava sempre um pouco mais do que lhe era devido. Assim, para além do seu salário normal, sempre ficava com mais dinheiro que ele fazia sobrar. E assim se tornara um homem rico, depois de muitos anos de profissão. Como é natural (e isso acontecia com todos os cobradores de impostos), o povo odiava-o de morte. Só que o povo não podia fazer nada, porque os cobradores eram protegidos pelas tropas romanas. O povo não tinha, pois, outro remédio senão limitar-se a criticar.

 

Como é fácil de calcular, Zaqueu importava-se bem pouco que na cidade não gostassem dele. Aliás, nem se importava sequer que alguns o odiassem. Ganhava bom dinheiro e, além disso, estava bem protegido. E era isso que ele queria. O resto, para ele, era secundário. Diziam-lhes muitas na cara, mas ele procurava afastar o pensamento para longe dessas críticas. O dinheiro era uma coisa de que ele gostava e... a gente que criticasse à vontade. Não lhe faltava nada em casa. Aliás, até se podia permitir coisas que não lhe faziam falta, mas que eram sinal dum certo status social. Enfim, era um homem que vivia bem...

 

Naquele dia, porém, não se sabe bem porquê, tinha decidido trabalhar menos. E veio dar o seu passeio. Tinha ouvido falar dum certo Jesus, de quem toda a gente dizia maravilhas. Diziam que nesse dia vinha à cidade. Zaqueu estava curioso por saber o que é que ele tinha de especial. Queria saber de pessoa se era verdade ou não o que dele diziam. E, de facto, depois do almoço, saiu para ir passear. Notou que de facto havia muito movimento nas ruas da povoação. Todos falavam de Jesus. Todos o queriam conhecer de perto. Até Zaqueu se encheu de curiosidade. Também ele podia conhecê-lo pessoalmente e, quem sabe, talvez falar com ele.

 

Como era um homem influente, pensou que teria mais probabilidades de o ver que um pobre desgraçado qualquer. E estava tão convencido disso que até mandou preparar um banquete na sua mansão de luxo. Tinha que mostrar que era gente. Havia de convidar Jesus para jantar em sua casa. Os outros até iam ficar vermelhos de raiva. Como ninguém gostava dele, esta era a sua pequena vingança...

 

Seja como for, Zaqueu não era assim tão mau como o pintavam. O que lhe causava dissabores era a sua profissão. Mas, na verdade, ele tencionava ouvir da boca do próprio Jesus o que ele tinha para dizer. Eram quase seis horas da tarde quando Jesus chegou finalmente ao local. Logo se juntou uma multidão ao seu redor. Todos tinham ouvido falar tanto dele que era quase impossível que ainda houvesse alguém que não soubesse da sua chegada. Agora, sim, podiam vê-lo com os seus próprios olhos.

 

Zaqueu também lá estava. Só que não gostou muito daquele jogo do empurra. E, ainda por cima, acontece que era de tão baixa estatura que não conseguia ver absolutamente nada. E claro que ninguém saía da sua frente. E mais ainda porque todos o detestavam. Mas Zaqueu não era burro. Por isso, correu mais lá para a frente. Diante da sua casa havia uma árvore chamada sicómoro. Apesar de atarracado, Zaqueu não era assim tão velho como isso. Então lá conseguiu encarrapitar-se na árvore, pensando: «Com certeza que ele vai passar por aqui!»...

 

Quando, uns momentos mais tarde, Jesus ia a passar pela rua, viu um rosto curioso entre os ramos do sicómoro. «Olá!» – disse ele bem-humorado – «Então que é que o senhor faz aí?». Todos olharam para cima. Lá estava Zaqueu, o odiado cobrador de impostos que eles não podiam ver. Estava todo vermelho de vergonha por ter sido descoberto por toda a gente. «Não ligue a esse tipo!» – alguém gritou a Jesus – «Esse sujeito não é boa rês. Não merece sequer a nossa atenção. Só sabe arrasar-nos com impostos, mais nada. É um traidor que trabalha para o imperador». Jesus limitou-se a responder: «Mas vós odiais este homem assim tanto! Olhai que as aparências enganam!».

 

E, logo a seguir, Jesus disse: «Oiça, o senhor aí em cima! Desça dessa árvore. Eu quero ir a sua casa!». Zaqueu quase que caía da árvore com este pedido. Mas depressa se recompôs e desceu da árvore. Até tinha tido receio de o convidar. Mas agora já nem sequer precisava de o fazer. Ainda se quis desculpar, mas não valia a pena, de tal maneira tinha sido clara a maneira como Jesus o tinha dito... Dirigindo-se para casa, Zaqueu disse assim a Jesus: «Sabe, estou contente. Mas também muito admirado. É que, sabe, realmente não esperava. Para dizer a verdade, aquilo que as pessoas dizem de mim até tem a sua razão de ser. Não merecia esta consideração da sua parte. Não sou um bom cidadão...». «Pois, pois!» – atalhou Jesus – «Se você o diz, então é porque deve ser mesmo verdade. Mas, eu não tenho problemas por causa disso. Podemos conversar precisamente sobre esse assunto...».

 

Zaqueu ficou um tanto embasbacado com tudo o que lhe estava a acontecer assim de repente. Mas refez-se depressa. E foi a correr para casa. Tão depressa quanto as suas pernas lho permitiam. Pulava de contente. «Ele vem à minha casa! Ele vem à minha casa!». Mandou pôr a mesa que, à cautela já tinha preparado e mandou buscar garrafas e mais garrafas de bom vinho. Quando Jesus e os seus amigos chegaram, tudo estava já pronto...

 

Todos comeram e beberam do melhor. Conversaram sobre tudo e nada. Por fim, Zaqueu disse para todos: «Desculpem a desordem, mas realmente não estava à espera». E, depois, dirigindo-se especialmente a Jesus, continuou: «Não sei o que me acontece, mas dá-me a impressão que é como se me tivessem tirado toneladas de peso dos ombros. Eu sempre pensei: “Eu não presto para nada. Ninguém gosta de mim. Todos me odeiam. Ora, se todos pensam assim, é porque realmente eu não devo ser lá muito bom”. Mas agora, que vós entrastes em minha casa, tudo me parece diferente»...

 

Jesus deixou Zaqueu falar à vontade. E por isso ele desabafou por completo: «Eu não me tenho sentido bem com tudo o que tenho feito. Acho que chegou a altura de mudar. Vou devolver todo o dinheiro que cobrei a mais. Vou também dar metade do que possuo aos que têm mais necessidades. E depois começo vida nova». Lá fora, as pessoas tinham ficado escandalizadas: «Não pode ser! Jesus não pode ser um homem de bem! Senão, não ia comer a casa de Zaqueu!». Todavia, em breve seriam essas mesmas pessoas a descobrir que tinha acontecido um milagre em Zaqueu.