1. O MAIS IMPORTANTE É...
 

 

O encontro com aquele jovem rico deixou os amigos de Jesus pensativos. E também se notava no rosto de Jesus uma certa tristeza. Os discípulos notaram isso claramente. Eles bem procuraram explicar a situação e a atitude do rapaz, mas era apenas um esforço de desanuviar as coisas. Ele não tinha acolhido a sugestão de Jesus e agora pouco havia a fazer. Mas isso não impede que o caso tenha deixado a todos um pouco tristes e pensativos...

 

Seja como for, enquanto iam para outra localidade, Jesus aproveitou para lhes repetir a eles pessoalmente o que tinha proposto ao jovem rico: «Quando a gente tem muita coisa, muito dinheiro, é muito difícil mudar. É preciso estar realmente desprendido para não medo de arriscar». Mas, mesmo assim, nem os próprios discípulos entendiam ainda muito bem essas coisas. Tanto é verdade que, contra a expectativa de Jesus, Pedro lhe diz assim de repente: «Então... e nós que deixámos tudo para te seguirmos, qual será a nossa recompensa?».

 

Esta pergunta feita por Simão Pedro não vinha de maneira nenhuma desanuviar o ambiente. Antes pelo contrário. Então Jesus disse-lhe: «Olha, tenho muito pena que me faças uma pergunta dessas, Simão. Mas, mesmo assim, vou-te responder: “Quem deixar a casa, os irmãos, a mãe, o pai, os filhos, os campos, para me seguir, não se preocupe. Receberá cem vezes mais. Mas não será nada fácil, porque isso representa muito sacrifício e muita incompreensão e até perseguições. Mas, se fordes fiéis, no fim, ainda tereis a vida eterna!».

 

As palavras de Jesus parecem claras. Mas, se calhar, só em teoria. Porque, na prática, são bastante mais difíceis de engolir (passe a expressão!). O mesmo terá acontecido com os apóstolos. Tanto é verdade que, não muito tempo depois deste episódio, dois deles, que eram irmãos, vieram ter com Jesus para lhe pedir um favor. Eram eles os irmãos Tiago e João, que eram filhos de Zebedeu...

 

Olharam em redor, para que nenhum dos outros ouvisse, e disseram assim a Jesus: «Não seria possível fazer-nos o que te pedimos?». «Dizei lá o que quereis!». E eles: «Olha, concede-nos que, na tua futura glória, nos sentemos um à tua direita e outro à tua esquerda!». Jesus olhou para eles e ficou triste; ainda mais triste do que quando viu partir o jovem rico. «Mas, será possível!?» – respondeu Jesus – «Há tanto tempo que andais comigo e ainda vos atreveis a fazer uma proposta destas! Com certeza que não sabeis o que estais a pedir! Mas, já agora, dizei-me: sois capazes de suportar os sofrimentos de que vos falei?»...

 

Jesus tinha-lhes dito, no dia anterior, que em breve ia ser condenado à morte em Jerusalém pelos chefes do povo e pelos sacerdotes do templo. Mas, mesmo assim, os dois irmãos responderem sem pestanejar: «Certamente que somos capazes de suportar os sofrimentos!». Respondeu-lhes então Jesus: «Bom, quanto a isso, também vós tereis que sofrer. Mas agora, quanto ao sentar-se à minha direita ou à minha esquerda, isso não é assunto para discutirmos aqui. Deus é que sabe. E vós um dia também o sabereis, mas não agora»...

 

Os outros discípulos, apesar de todas as cautelas, tinham ouvido a conversa e ficaram fulos (passe a expressão!). E manifestaram-no claramente. É que vários deles não tinham papas na língua, como se costuma dizer. Então Jesus chamou-os a todos e disse: «Suponho que não é novidade para nenhum de vós como é que os chefes das nações governam os seus súbditos e como exercem o domínio sobre eles. É pela força que eles exercem a sua autoridade. Pois bem, não deve acontecer assim entre vós».

 

Sempre que Jesus lhes dizia coisas assim, eles ficavam a olhar uns para os outros. Mas Jesus não desistia: «Eu já vos expliquei mais que uma vez que o Reino de Deus não é como os reinos deste mundo. Se persistis em falar em termos de reino, então ficai a saber uma coisa: no meu Reino, quem quiser ser grande, deve ser o criado de todos. Quem quiser ser o primeiro tem de fazer-se o último de todos. Aliás, a mim parece-me que vos tenho demonstrado claramente que eu próprio não vim para ser servido, mas sim para servir. Aliás, já agora, digo-vos mais: não vim apenas para servir, mas para dar a vida por todos»...

 

Vendo que este era um assunto importante, Jesus continuou a insistir com os discípulos: «Quando a quem é maior ou menor, acho que não vos deveis preocupar. Afinal, o que importa é que digais a todas as pessoas o que Deus faz por elas. O importante é que digais a todos que Deus os ama de tal maneira que lhes mandou o Seu Filho. E não foi para que tivessem mais dinheiro, mas sim para que tivessem algo que vale muito mais que o dinheiro. Deus mandou o Seu Filho para que tivesse a vida e sobretudo a vida eterna. É isso o que vos deve importar em primeiro lugar».

 

E continuou: «Que sentido faz estardes a discutir quem é menos ou mais importante. Mas, se insistis em saber isso, eu digo-vo-lo: será mais importante aquele que declarar diante de todos quem eu sou. Ao contrário, não será importante aquele que não disser quem eu sou aos outros... Até parece impossível que ainda não compreendais estas coisas! Não quero dizer que as coisas não têm valor. Claro que têm, mas o problema o problema é que as pessoas pensem que o dinheiro é a coisa mais importante da vida. E não é!».

 

«Eu já vos contei uma vez um exemplo que atesta o que eu quero dizer. Mas parece-me que já vos esquecestes disso. Não quero que me entendais mal. Cada um tem que trabalhar para não ser de peso aos outros. Ser parasita também é um mal. Agora, daí a pensar que o dinheiro, o poder, a fama, a importância... são tudo, isso mais devagar! Não, isso não é tudo. Há algo mais importante que tudo isso. De resto, já vos disse uma vez e agora repito-o: de que vale ganhar o mundo inteiro, se depois acabamos por nos perdermos a nós mesmos? Não vale de nada!».

 

Desta vez, Jesus não deixou escapar em claro as pretensões que todos os discípulos tinham de serem importantes no futuro Reino. Por mais incrível que pareça, eles continuavam a pensar ainda num futuro reino terreno, semelhante a tantos outros... E, para terminar aquele dia, Jesus voltou a recordar-lhes uma história que ilustrava esta verdade muito simples: a vida não depende da abundância dos bens que alguém possa ter.

 

E a história é assim. Havia um homem rico, cujas terras um ano lhe produziram tanto que ele não tinha onde recolher tudo. Então começou a pensar: «Como é que vai ser para guardar toda a minha colheita?! Já sei, disse ele. É simples: deito abaixo os actuais celeiros e mando construir outros maiores! Então, sim, posso gozar a vida à vontade!». Só que, nessa noite, infelizmente, morreu. E a pergunta final: «Para que é que lhe serviu tudo o que acumulou?!».