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Certo dia, Jesus estava em frente duma espécie de casa de pasto daquele tempo. Estava ali descontraído a conversar com algumas pessoas. Era sábado, o dia de descanso dos judeus. Era assim como o domingo para nós. Enquanto Jesus conversava com as pessoas, passou por ali um rapaz a cavalo. Montava um cavalo de raça, com uma sela enfeitada com figurinhas e franjas douradas... O moço desceu do cavalo mesmo em frente da casa de pasto. Vinha de longe e estava com sede.
Tinha-lhe apetecido dar um passeio a cavalo e agora apetecia-lhe tomar qualquer coisa. Todos abriram alas para ele passar. Jesus não pôde deixar de notar que, para as pessoas fazerem isso, se devia tratar de alguém rico e importante. Aliás, notava-se isso pela sua maneira de falar. Era uma maneira de falar elegante. Nem sempre os ricos são educados, mas este... via-se mesmo que era educado.
O jovem cumprimentou as pessoas. Podia não ter feito isso. E, se calhar, ninguém lhe levava a mal.
Os ricos às vezes julgam-se tão importantes que nem sequer se dignam cumprimentar a gente pobre. Mas este moço não era assim.
Apesar da sua condição, cumprimentava toda a gente e todos o estimavam... Ora bem, esse jovem rico já tinha ouvido falar de Jesus. E, pelos vistos, já o conhecia também de cara, porque, quase instintivamente, se dirigiu a ele para o cumprimentar:
«Suponho que o senhor é Jesus de Nazaré. Têm-me falado muito de si. Pois então, muito prazer em conhecê-lo pessoalmente. O meu nome é Tiago. Posso oferecer-lhe algo de beber?», perguntou a Jesus.
«Aliás, hoje todos podem beber à minha conta!», disse ele, dirigindo-se a todos os presentes.
E, depois, dirigindo-se de novo a Jesus, disse: «Estou contente por poder falar hoje consigo. Há já muito tempo que ando a ver se o encontro e só hoje o consegui»...
O jovem sentou-se ai mesmo na mesma mesa de Jesus e mandou vir de beber para todos. Então o jovem continuou: «Ainda o outro dia me contaram umas coisas sobre si que me deixaram impressionado. E agora que tenho a oportunidade de falar consigo, deixe-me fazer-lhe uma pergunta. Eu sei que o senhor é uma pessoa muito boa. Pois bem, eu gostaria de ser também assim. É verdade! E foi por isso mesmo que aproveito o tempo livre de hoje para vir ter consigo...».
Jesus olhava para o jovem com uma certa simpatia. Então o jovem continuou: «Ora bem, a pergunta que eu gostaria de lhe fazer é a seguinte: O que é que eu tenho que fazer para ser realmente bom como o senhor?». «Bem» – respondeu Jesus – «Achas que eu sou bom?! Tu é que sabes. Mas deves saber também que mesmo bom só Deus. Agora, cada um tem que ser bom à sua maneira, conforme a sua maneira de ser e o seu estilo de vida. Para isso, basta a gente fazer o que em consciência acha que deve fazer. Basta cumprir as suas obrigações. E, quanto a isso, acho que deves saber muito bem o que temos que fazer... não se deve matar, não se deve roubar, não se deve abusar das pessoas, não se deve querer a mulher dos outros, deve-se respeitar o pai e a mãe...».
Jesus ia citar os mandamentos todos, quando o jovem o interrompeu dizendo: «Eu sei isso muito bem. Eu conheço os mandamentos. Julgo que sempre me esforcei por cumprir o que está na Lei do nosso Deus. Mas agora... eu acho que é preciso fazer mais qualquer coisa. Sinceramente, tenho-me esforçado por pôr em prática os mandamentos, mas tenho a impressão que ainda me falta qualquer coisa. Não sei bem o quê, mas falta qualquer coisa...».
O rapaz estava satisfeito consigo mesmo. Jesus percebeu isso bem. E diga-se, em abono da verdade, que havia motivos para isso. O rapaz estava a ser sincero, porque realmente procurava cumprir os mandamentos. Além disso, era um moço simpático. Então, Jesus, vendo que ele podia fazer realmente algo mais, disse-lhe: «Eu acho que sei o que te falta. Melhor, não te falta nada, porque o que tens é demais. Tens coisas a mais. Com todas essas coisas, não é fácil, eu diria mesmo, é impossível, fazer coisas que te satisfaçam. Sabes, com tudo o que tens, não tens liberdade suficiente para te dedicares àquilo para que te puxa o coração...».
O jovem não estava a entender bem onde é que Jesus queria chegar. E então perguntou: «Oiça, eu não estou a entender lá muito bem o que me está a querer dizer. Não se poderia explicar melhor?». «Claro que posso! O que eu acho é que te falta renunciares a tudo o que tens e começares uma vida nova!». «Dar tudo o que tenho aos outros?!», perguntou admirado o rapaz. «É isso mesmo! Só depois disso é que podes começar tudo de novo. Então, sim, podes juntar-te a mim e aos meus amigos». O jovem rico quase que não conseguia acreditar no que estava a ouvir. E naturalmente ficou muito pensativo...
Logo a seguir, o rosto do jovem rico começou a ficar triste e a endurecer-se. «Não posso!» – quase que gemeu – «Gostava muito de fazer parte do vosso grupo (palavra de honra que gostava!). Mas, sinto muito, não posso. Há lá em casa muitos negócios a seguir. O meu pai já tem a sua idade e eu é que tenho que começar a tratar de tudo. Temos grandes fazendas. Temos empregados. Alguém tem que se encarregar de tudo isso»...
O jovem, depois de pagar a conta, já se ia levantar para se ir embora. No entanto, quis ainda precisar a sua posição. Além dos motivos de ordem familiar (alguém teria que tratar dos assuntos e negócios da casa), havia também motivos de ordem pessoal. E, por isso, o jovem disse ainda: «Posso dispor de muito dinheiro. Se de repente eu não tivesse nada, nem saberia o que fazer da minha vida. Sem tudo isso, eu sentir-me-ia perdido. Sinto muito. Gostava, mas não posso. Não posso de maneira nenhuma!». E o jovem rico saiu dali a correr, montando no seu belo cavalo.
«Que pena!» – murmurou Jesus depois disso para os discípulos. «É um moço com muitas qualidades, mas não tem condições para nos seguir, coitado! Garanto-vos que me parece um moço excelente. Mas, infelizmente, o dinheiro deixa as pessoas cegas. Isso acontece com toda a gente. E acontece certamente com ele. É verdade! Quando alguém é muito rico, é muito difícil mudar de estilo de vida. Já é muito mais fácil quando não se tem nada ou quase nada. Quando não há nada a perder, então as coisas tornaram-se realmente mais fáceis...».
E Jesus rematou as suas considerações aos discípulos nos seguintes termos: «É verdade! Quando a gente não tem nada a perder, então já não se tem medo de arriscar. Agora, se se tem muito dinheiro, mudar de vida é quase impossível. É como se a gente quisesse passar um camelo pelo buraco duma agulha. Não digo que seja impossível, mas quase. Deus lá tem os seus caminhos, porque a Ele nada é impossível, mas que é muito difícil, disso não tenhais dúvidas!».