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Os desastres naturais não são exclusivos dos tempos que correm. Sempre houve desastres naturais. O que sucede é que hoje os desastres são mais causados pela incúria das pessoas. E também sucede que hoje essas notícias chegam ao conhecimento de mais gente e muito mais depressa, por causa dos chamados meios de comunicação social. Chegam praticamente ao mesmo tempo que acontecem. Mas em todos os tempos tem havido desastres...
Também no tempo de Jesus havia desastres naturais. Bom, mas o que nos interessa neste momento, por acaso, até nem é um desastre natural. O facto é que aconteceu algo de terrível. Num lugar chamado Siloé, aconteceu um acidente. Estavam a construir uma torre, quando, devido ao descuido dos construtores, tudo aquilo desabou. Dezoito operários morreram soterrados sob os escombros. Foi um desastre que chocou toda a gente. Um tão grande número de mortos chocou aquela aldeia e as povoações vizinhas.
Todos comentavam o acidente e procuravam responsabilizar os construtores. Falaram também do assunto a Jesus e aos seus amigos, quando estes chegaram. Na praça, rodeado de gente, em cima dum estrado, estava um homem que procurava acalmar os presentes: «Pois, é verdade! Foi um acidente horrível! Mas que culpa temos nós disso?! A culpa foi dos trabalhadores. Não podemos culpar-nos a nós próprios. Eu tenho cá para mim que aqueles pedreiros não eram gente de bem. Para dizer a verdade, por aquilo que ouvi dizer, naquela aldeia só há gente ruim. Eles nem sequer acreditam em Deus. Eles são uns ateus. Portanto, se isso lhes aconteceu, é um castigo. Gente assim não merece melhor sorte do que essa. É isso: foi um castigo de Deus... esses ateus!».
Aquele homem fartava-se de falar nesse tom e ninguém parecia reclamar. No fundo, se calhar, todos estavam de acordo com o que ele dizia. E depois dessa arenga toda, o homem saiu dali todo satisfeito. Foi nesse momento que se aproximou Jesus e tomou a palavra: «Mas que discurso, meus senhores! Afinal de contas, o que foi que aconteceu?». Claro que se tratava de uma pergunta retórica, para poder conversar e corrigir o que aquele homem tinha dito...
«Não é nada!» – procurou explicar um dos presentes. E outro acrescentou: «O que aconteceu!? Então não sabe? Pois, olhe. Havia um grupo de pessoas que estavam a construir uma torre aqui perto. Estavam a carregar os tijolos para cima dos andaimes. Queriam fazer um pequeno muro lá em cima. Vai senão quando houve um problema na parede da frente. E o que se sabe é que a torre não aguentou o peso deste novo muro e desabou. Os pedreiros estavam lá em cima do andaime. Caiu o muro e o andaime por aí abaixo e todos caíram. E aquilo não era uma altura assim tão pequena! E então as pedras e os tijolos caíram em cima deles. E é o que está à vista: dezoito mortos e alguns feridos. Foi isso. O que é que a gente há-de fazer? São coisas da vida! Não há mais nada a fazer»!
Jesus não gostou muito das últimas frases do relator e disse: «Não percebo essa maneira de raciocinar. Então você aceita tudo assim tão facilmente? Então acha que as coisas acontecem assim sem mais nem menos? Como é que diz que não se pode fazer nada? Ora essa! Certo que se pode fazer sempre qualquer coisa. Não nos podemos contentar assim com ficar à espera que as coisas aconteçam. Quando acontece um acidente assim, a gente tem que fazer qualquer coisa. Quanto mais não seja, pelo menos uma coisa se pode fazer: por exemplo, tirar conclusões... e também uma outra coisa: ajudar as famílias das vítimas».
Jesus então continuou: «É mais que evidente que os construtores, antes de começarem a fazer um muro destes, deviam ter visto primeiro se o terreno oferecia garantias de segurança ou não. Vir agora dizer que tudo aconteceu por castigo de Deus é uma estupidez de todo o tamanho! Se vós conheceis a Bíblia, sabeis muito bem que está lá escrito que Deus não gosta que as pessoas morram. Ele um Deus dos vivos e não dos mortos. Não tem, pois, nenhuma graça virem dizer que a morte de alguém é um castigo de Deus! Isso é uma explicação que não pega. É mas é um descuido das pessoas. E, por isso, o que é preciso fazer é ter cuidado! Não vamos, pois, dizer que isso é vontade de Deus, porque não é nada disso!».
As pessoas começaram a cochichar umas com as outras. E rapidamente se juntou ali muita gente. E havia já muitos que diziam que esse tal Jesus, afinal de contas, tinha razão. Começavam a admitir que era assim mesmo como Ele dizia. Então Jesus continuou: «Eu acho que podemos tirar mais conclusões. Quando acontece um acidente do género, devemos é concluir que ainda há muitas coisas que não são como Deus quer que sejam. Quando há uma desgraça como esta, devemos mas é lembrar-nos de que há coisas a mudar, para que a vida das pessoas seja melhor e mais segura. É melhor pensarmos nisso em vez de nos resignarmos e ficarmos à espera que tudo se arranje por si só»...
As considerações de Jesus foram interrompidas pela objecção dum dos presentes: «Mas que culpa temos nós!? Esses homens morreram por sua própria culpa! Foi mesmo um castigo de Deus, não haja dúvidas! E depois... até foi bem feito! Realmente é gente reles que não merecia senão que isso lhes tivesse acontecido! O que o outro senhor disse antes é que é verdade, sim senhor!»... Aí, Jesus não aguentou mais e respondeu: «Então porque é que o que esse senhor disse tem mais valor do que o que eu estou a dizer? Eu não só nego isso, como acrescento mais umas coisas. Olhem, tenham cuidado com homens como ele! Garanto-vos que o que ele disse não é senão uma maneira fácil de explicar as coisas. Mas não é verdade. Vós próprios sabeis que Deus não se vinga de ninguém. Pessoas como ele usam até o nome de Deus para dar mais força às suas ideias, mas isso não é a maneira de agir de Deus...»
As pessoas entreolhavam-se. Após uma pequena pausa, Jesus continuou: «O senhor que falou antes disse que a morte daqueles operários era um castigo de Deus. Ele quem acha que é? Porventura será melhor do que os pobres coitados que morreram soterrados sob os escombros da torre? Vós achais que Deus pensa assim? Sim, vós, meus amigos, achais que Deus quer que aconteçam desgraças como esta? Vós achais que para Deus aqueles operários valem menos que os sábios de Jerusalém? Pois bem, se alguém acha isso, então está muito enganado. Deus não é assim. Deus não quer a morte de ninguém, mas sim que as pessoas vivam...»
E Jesus aproveitou para completar esta ideia: «Não, meus amigos, Deus não quer que aconteçam tragédias às pessoas. Deus não quer que isso aconteça. Agora, se as pessoas, por descuido, provocam certas desgraças, então a conversa já é outra. Nós somos livres e também podemos fazer asneiras. E a falta de cuidado é uma delas. Deus fica triste por essas coisas acontecerem. Isso é que é verdade. Não me venham dizer que isso é um castigo de Deus. O que tem é que se ter cuidado para que as desgraças não aconteçam. É isso, mais nada. O que é preciso é fazer todos os esforços para que as coisas sejam feitas o mais perfeitamente possível. Assim evitar-se-ão outras desgraças como esta!».