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Os amigos de Jesus, no dia combinado, partiram e percorreram muitas aldeias e lugares a pregar o que Ele lhes tinha ensinado. Na sua viagem, encontraram muita gente. Conversavam com os que se dispunham a ouvi-los e contavam tudo o que Jesus fazia e quais eram os seus planos acerca das pessoas. Como lhes tinha sido dito, alguns receberam-nos e escutaram-nos e outros nem sequer quiseram falar com eles. Houve até gente que não os tratou lá nada bem...
Quando regressaram dessa missão, naturalmente quiseram contar a Jesus tudo o que lhes tinha acontecido durante aquelas duas semanas em que tinham actuado sozinhos. Mas a notícia de que eles tinham ido por aldeias e lugares já se tinha espalhado pelas redondezas. E agora, que eles tinham regressado, eram tanto os curiosos que iam e vinham que eles nem sequer tinham tempo para comer. Pelos vistos, saíram-se bastante bem da missão. Então Jesus disse-lhes: «Sei que vindes cansados. Vamos retirar-nos para um lugar isolado para descansar e conversar sobre o que se passou. Aproveitamos para tirar algumas conclusões».
Tomaram então um barco para irem para um lugar onde pudessem estar à vontade. Só que muita gente, ao ver a direcção em que ia o barco, apercebeu-se do lugar para onde iam. E espalhou logo a notícia. Era uma oportunidade que não se podia perder. Todos queriam saber o que os discípulos de Jesus tinham sido capazes de fazer sozinhos. Por isso, acorreram de todos os lados para o lugar para onde eles iam. E aconteceu inclusivamente que alguns deles chegaram ainda primeiro que Jesus e os seus discípulos...
Ao desembarcar, Jesus viu ali muita gente. As pessoas tinham acorrido ao local e, por isso, não havia nada a fazer. Então Ele aceitou a situação. E, dirigindo-se a todos, disse: «Quando vier o prometido de Deus, a sua grande preocupação serão os pobres e os que não têm ninguém que os proteja. Quem passar fome, vai ter que comer. Quem estiver triste, vai encontrar motivos para sorrir. Quem trabalhar para que haja paz entre as pessoas, vai receber a sua recompensa». E Jesus foi falando neste tom durante bastante tempo. Tanto, tanto tempo que tanto Ele como os discípulos e até a multidão que o escutava se esqueceram de comer...
No caso presente, as pessoas que o escutavam não esperavam nada de bom da vida. E então, ao ouvi-lo, enchiam-se novamente de coragem e esperança. E de novo começavam a pensar que um dia a vida iria melhorar. Sentiam que, afinal, ainda havia que alguém que se preocupava. Ao pressentir estes sentimentos por parte das pessoas, Jesus teve pena deles e pensou nas palavras dum dos profetas, o profeta Ezequiel, que tinha falado de ovelhas e de pastor. E ali estava aquela gente toda. Era isso mesmo. Eram como ovelhas sem pastor. Tinham necessidade de alguém. Esse pastor era Ele próprio. Mas, depois dele, haviam de ser os seus amigos a guiá-los e a confortá-los...
Entretanto, como a hora já ia adiantada, um dos discípulos, João, lembrou a todos: «Bons amigos, já está a entardecer. É hora de voltardes para casa. Não se pode ficar aqui toda a noite ao relento. Estamos longe de qualquer povoação e, portanto, é melhor irmos dispersando, porque, senão, depois vamos ter problemas graves, sobretudo por causa dos mais idosos e das crianças»...
Mas, vendo que não se podia mandar aquela gente assim sem comer, Jesus pensou que os discípulos podiam resolver esse problema. Então, um deles perguntou-lhe como isso era possível, se não tinham para lhes dar de comer. Então Jesus respondeu-lhe: «Compreendo a tua preocupação, mas não se podem mandar assim para casa. Não aguentariam a caminhada, sobretudo os mais idosos e as crianças». E então perguntou ao discípulo que tinha mencionado a comida: «Olha lá, não há mesmo nada aqui?». «Pois bem» – respondeu-lhe o discípulo – «por acaso já andei por aí e já verifiquei o que havia. É por isso que ponho o problema. O que temos são só cinco pães e dois peixes, mais nada».
Jesus pensou no assunto e depois disse à multidão que se tinha juntado ali: «Minha boa gente, prestem-me um pouco de atenção só por mais uns minutos. Apesar do cansaço, foi muito bom ficarmos todos juntos a conversar. Até nos esquecemos da hora e de comer. Ora, acontece que temos pouca comida para tanta gente. Só cinco pães e dois peixes. Mas Eu vos fazer-vos mais um pedido: gostaria que ficásseis ainda mais uns instantes. Eu vou ver se se arranja qualquer coisa para comer. Já disse a alguns dos meus amigos para irem tratar disso. Entretanto, aproveitem a relva que há por aí e sentem-se em grupos. Havemos de arranjar para todos. Fiquem descansados!». As pessoas olhavam umas para as outras um pouco incrédulas, mas, pronto, fizeram o que Ele lhes disse. Antes de mais, Jesus disse o que os hebreus costumavam dizer antes das refeições: «Deus, nosso Pai, deixa vir a nós o teu Reino. Aconteça o que tu quiseres. O que te pedimos é que nos dês o pão nosso de cada dia. Ámen». Os discípulos trouxeram-lhe a pouca comida que havia. Jesus procedeu à bênção do costume...
Então os discípulos começaram a distribuir o que tinham, passando pelo meio da multidão. Eles sabiam que algo de especial ia acontecer, porque Jesus tinha sido muito categórico. E até João, que acreditava mais em Jesus, ficou espantado com o que estava a acontecer. Tinham tão pouca comida e estava a chegar para toda a gente. E, no fim, ainda acabou por sobrar. Como podia ser aquilo? E não foi só João que ficou espantado. Todos ficaram impressionados. E não foram apenas os discípulos. Toda aquela gente não percebeu nada do que se passou. E não era pouca gente. Sem contar mulheres e crianças, eram cerca de cinco mil pessoas...
Depois de se despedir e mandar para casa toda aquela gente, Jesus disse aos discípulos para subirem novamente para o barco. Tinham que voltar ainda para a outra margem do lago. Talvez agora, sim, encontrassem algum lugar solitário para descansar. Mandou os discípulos à frente, enquanto ele ficava ainda em terra. Os discípulos acharam aquela atitude um tanto estranha, mas depois das coisas a que tinham assistido, não se atreveram a contraria o Mestre.
Embora lhes tenha custado, os discípulos fizeram-se ao mar. Cochichavam uns com os outros sobre o que tinham presenciado. Era noite cerrada. Foi então nessa altura que Jesus veio ao encontro deles caminhando por cima da água. Ao verem aquilo, os discípulos assustaram-se, como nunca lhes tinha acontecido. Julgavam até que estavam a ver algum fantasma. A João ainda lhe pareceu que era Jesus, mas não acreditaram que isso fosse possível...
Mas, ao reconhecerem a sua voz, ficaram mais descansados. Então Pedro, para se certificar mesmo, quis também ele ir ao seu encontro caminhando sobre as águas. Mas logo a seguir encheu-se de medo. Jesus segurou-o e disse-lhe: «Homem de pouca fé! Então, depois de ver tantas coisas, ainda duvidas?