1. NADA É IMPOSSÍVEL
 

 

Naquele dia, eles tinham muito que fazer. Por isso, saíram de casa logo de manhã muito cedo. Tinham que percorrer vários quilómetros. Durante a sua breve passagem por Naim, Jesus tinha recebido um convite para almoçar. Quem o tinha convidado fora um fariseu. Não é certo quais fossem as intenções do fariseu, mas a verdade é que Jesus não se importava muito com o que os outros diziam a esse respeito.

Ele sabia perfeitamente que, nestas coisas, tem a razão o ditado popular que diz: «preso por ter cão e preso por não ter cão»...

 

Aliás, Jesus já tinha experiência dessa situação. Segundo se sabe, João Baptista, por exemplo, não bebia nem anda em banquetes; antes pelo contrário. E, apesar de tudo, pela forma como dizia o que tinha a dizer, alguns chegaram a dizer que estava endemoninhado. Jesus aceitava alguns convites para almoçar e jantar e então havia também sempre alguém que se achava no direito de o criticar, dizendo, por exemplo, que era bêbado. Bem, mas, seja como for, desta vez aceitou também o convite do fariseu e à hora combinada lá estava ele...

 

A presença de Jesus naquela casa naturalmente não passou inobservada. Chegou até ao conhecimento duma mulher que, pelos vistos, há muito tempo desejava encontrá-lo. Muito provavelmente até se terá juntado ali mais gente, porque aquela mulher não tinha lá muito boa fama. Tinha a fama de ser uma pecadora da cidade. Todos lhe apontavam o dedo, embora muitos dos que a acusavam não tivessem escrúpulos de qualquer espécie em se aproveitar dos seus serviços...

 

Pois bem! Essa mulher, ao saber que Jesus estava à mesa em casa daquele fariseu, não esteve com meias medidas; tal era o seu desejo de se encontrar com Jesus. Levou consigo alguns vasos de perfumes e, sem se importar com as frases brejeiras que lhe dirigiam, entrou por ali dentro sem respeito humano. Os judeus comiam recostadas à volta da mesa, com os pés descalços virados para fora. Ela foi então direita à mesa e começou a chorar em altos brados, de maneira que as suas lágrimas caíam nos pés de Jesus. Mas logo os enxugava com os seus cabelos e ungia-os com o perfume que tinha levado...

 

Imagine-se o escândalo que aquela cena não terá causado! Até o fariseu que tinha convidado a Jesus se escandalizou e começou a pensar no seu íntimo: «Afinal, dizem para aí tantas coisas deste homem... até dizem que é profeta! Se fosse profeta, certamente sabia que espécie de mulher é esta!». E, no fundo, se calhar, ele não estava à espera senão disto para depois poder acusar Jesus disto e mais aquilo. Mas Jesus antecipou-se: «Simão (assim se chamava o fariseu), tenho uma coisa para te dizer. Havia dois homens que deviam uma certa quantia de dinheiro a um credor. Nenhum deles tinha com que pagar. O credor então, vendo isso, perdoou as dívidas aos dois. Agora, diz-me uma coisa: Qual destes dois homens deve estar mais reconhecido?»...

 

O fariseu não precisou muito de puxar pela cabeça para dar a resposta certa: «Pois – disse ele – está-se mesmo a ver que quem deve estar mais reconhecido é aquele a quem mais foi perdoado!». «Julgaste bem!» – respondeu-lhe Jesus – «Pois bem, vês esta mulher? Eu entrei em tua casa e não me deste água para lavar os pés e ela banhou-mos com as suas lágrimas e enxugou-mos com os seus cabelos. Ora bem! Digo-te uma coisa: a ela são perdoados muitos pecados, porque é muito reconhecida». E, voltando-se para a mulher, disse-lhe: «Mulher, vai em paz! Salvou-te a tua grande fé».

 

Daquele sítio, Jesus foi com os discípulos para outra localidade. Aí viram um homem que andava a rondar perto do cemitério. Quando o viram, estava agachado e completamente nu. Tinha uns olhos esbugalhados e furiosos. Metia medo. Costumava dormir ali perto numa caverna. Quem o visse dizia que era doido varrido. E, por vezes, tornava-se violento. Contava quem já o conhecia que era mesmo como uma fera. Era perigoso. Por isso, até já o tinham amarrado com cordas e correntes de ferro. Mas, inexplicavelmente, ele arrebentara com as cordas e as correntes e tinha fugido para os montes. Agora, todos tinham tanto medo dele que davam uma volta só para não se encontrarem com ele...

 

Até Simão Pedro e João tiveram nojo desse homem. E não só eles. Toda a gente. Mas Jesus não pensava assim e aproximou-se dele. De repente, o homem começou a gritar e a atirar pedras contra os presentes. Berrava como um possesso: «Fora daqui! Fora daqui! Eu dou cabo do primeiro que se aproximar!». Mas Jesus continuou a aproximar-se. Nessa altura, ele gritou ainda mais forte: «Não, não! Tu não te podes aproximar. Este aqui não é o teu lugar. Fora! Eu não quero nada contigo. Fora! Eu não te quero aqui perto de mim!»...

 

Mas Jesus chegou-se ainda mais perto. E, sem se perturbar, perguntou ao homem doido: «Como te chamas?». «Eu não me chamo nada. Eu sou tudo. Eu sou uma multidão. Sei lá eu como é que me chamo?!». De repente, deu um pulo e o seu corpo caiu no chão como um peso morto. Daí a pouco, todo ele tremia em convulsão. Da boca saía-lhe uma baba asquerosa. Contorcia-se todo e batia com as mãos e a cabeça no chão com toda a força. Mas Jesus mantinha-se calmo.

 

Compadecido do desgraçado, Jesus disse com voz firme: «Vamos, levanta-te»! Depois, agarrou-o pelos ombros e sacudiu-o: «Basta! Fora deste homem! Ele não tem culpa nenhuma». Nesse preciso momento, o homem deu um urro medonho e caiu de bruços novamente. Nem sequer se mexia. Parecia mesmo morto. Os amigos de Jesus e os curiosos ficaram todos assustados. Mas Jesus pegou nele pelo braço e ajudou-o a pôr-se de pé. Ele encostou então a cabeça ao ombro de Jesus e começou a chorar...

 

Só depois disso é que ele acalmou. Logo a seguir, vestiram-no e deram-lhe algo de comer e beber. O homem não parecia sequer o mesmo. Não era o mesmo de facto. Estava feliz e o seu rosto tinha-se iluminado de alegria. Sorria abertamente para todos. Aquele homem, que tinha estado possuído por muitos demónios, agora tinha um comportamento perfeitamente normal. E tudo isso se devia à acção de Jesus.

 

esus, com este episódio, demonstrava mais uma vez que a Deus nada é impossível. Deus, como dizem e professam todos os que O admitem, fez tudo do nada. E, por isso, não tem dificuldade de qualquer espécie para expulsar os demónios das pessoas; como não tem dificuldade em ressuscitar pessoas. E só Ele o pode fazer. Ora, para quem tem olhos de ver e inteligência para entender, se Jesus faz isso mesmo, é porque se trata de um Homem muito especial. Mais: é sinal de que Jesus é igual ao próprio Deus. Antes de abandonar o local com os seus discípulos, Jesus procurou ainda os familiares do doente e entregou-o aos seus cuidados. Mas ainda lhe perguntou mais uma vez: «Homem, como te chamas?». E ele agora já respondeu com toda a calma: «Chamo-me Adão!».