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Suponho que todos sabem o que é a vida militar. Mesmo os que nunca tenham feito directa experiência disso. Pelo menos, pelo que terão visto em qualquer reportagem de televisão ou até mesmo em algum filme. Pois bem! Então imaginemos neste momento uma cena de treinos de recrutas. Aprumar! Em frente! Marchar! Um, dois, três, quatro, alto! Aprumar! Direita volver! Um, dois, três, quatro. Um, dois, três, quatro! No lugar! Descansar!...
Bem, chega de marcha! Mas foi isto mais ou menos que se passou um dia na Galileia. Era assim o capitão romano que comandava os soldados. Eram exercícios normais na localidade em que estaca destacada a companhia de cem homens. Nessa altura, o imperador romano era, digamos assim, o senhor de todo o mundo conhecido. Em todos os lugares e, portanto, também em Israel, ele tinha capitães e oficiais que obedeciam às suas ordens. Estes oficiais tinham soldados e empregados que lhes obedeciam a eles também.
De repente, aquele capitão romano saiu do meio dos seus homens, atravessou a praça apressado e dirigiu-se a sua casa. Passando pela cozinha, perguntou pelo seu empregado Onésimo. Onésimo era o seu melhor empregado. E o capitão interessava-se muito por ele. Este era um capitão um pouco diferente dos outros oficiais romanos. Apesar de as ordens do imperador serem sagradas, ele tratava toda a gente (e não apenas os romanos) como pessoas...
Ora bem, acontece que o seu empregado tinha caído doente. E a doença parecia grave. Eles conheciam-se há muito tempo e o capitão gostava dele como se fosse da família. Agora Onésimo estava doente e ninguém sabia o que ele tinha. Deitado na cama, passava mal, muito mal. E o capitão não queria que Onésimo morresse. Uma razão era que ele era o seu melhor empregado. Mas não era só isso. O capitão gostava das pessoas. Mas, infelizmente, ninguém sabia o que fazer. Ele podia dar ordens aos seus soldados, mas não podia dizer ao seu criado: «Vamos, é uma ordem, melhora e levanta-te!»; ou assim algo do género.
Ora, acontece que Jesus passou precisamente naquele dia pela povoação onde o centurião romano estava destacado. Este ouviu falar disso e ficou muito impressionado com o que se dizia de Jesus. Então, com a coragem que lhe era natural, habituado como estava a lidar com pessoas, rompeu entre as pessoas que se tinham reunido ali na praça, e disse: «Eu não sou da vossa raça, não pertenço ao vosso povo e também não sigo a vossa religião. Mas, aqui neste lugar, sou eu quem dá ordens. Mas, agora, eu não venho aqui dar ordens. Eu venho fazer um pedido. Os romanos não costumam fazer isso, mas eu não tenho vergonha de o fazer».
Perante isto, Jesus interrompeu o que estava a dizer. E toda aquela gente ficou a olhar para o capitão. «Então, que é que queres?» – perguntou Jesus. «Pois bem! É o seguinte. Como eu ando sempre muito ocupado, passei muitas das minhas responsabilidades ao meu subordinado Onésimo. Não sei se terá sido por causa disso, mas o facto é que ele agora está muito doente. Pelo que oiço dizer, eu acho que só tu, Jesus, o podes curar. Têm-me dito tais coisas de ti que tenho a certeza que, se quiseres, me podes ajudar. Quando tu falas, realmente acontece sempre algo. É por isso que te estou a fazer este pedido».
Alguns dos judeus, sabendo que o centurião, apesar de pagão, tratava toda a gente com simpatia, insistiram também com Jesus para que lhe curasse o criado: «Ele merece que lhe faças esse favor. Ele gosta da gente e favorece o nosso povo. Aliás, foi ele que mandou construir a nossa sinagoga». Jesus concordou em deslocar-se a casa do centurião para lhe curar o criado. Então o capitão disse-lhe: «Não, não é preciso. Não te incomodes. Eu não sou digno de que entres em minha casa. Basta dizeres uma palavra e tenho a certeza de que o meu criado ficará bom. Quando tu dizes alguma coisa, acontece mesmo».
Jesus olhou para o capitão com simpatia e com algum assombro. E o capitão, notando isso, insistiu: «É verdade: quando tu dizes alguma coisa, sei que acontece. Muito mais do que quando digo eu. Tu sabes muito bem que, quando eu, por exemplo, digo aos soldados: “ide para ali”, eles vão logo para lá. E basta eu dizer ao meu criado: “faz isto!” e ele não tem dúvidas; faz mesmo. Todos obedecem às minhas ordens. É isso mesmo. Eu sei que basta tu dizeres uma palavra e o meu criado fica logo melhor».
Jesus, olhando então para toda a gente que estava ali a assistir ao facto, disse: «Vocês viram? Este homem não é daqui, nunca vai à nossa igreja, não é da nossa religião. E, apesar de tudo, ele acredita que eu posso curar-lhe o servo. Pois bem! Digo-vos uma coisa: ele tem uma fé muito maior que muitos de nós. Digo-vos mais: ainda há-de chegar a altura em que se sentarão ao pé de Abraão muitos do Oriente e do Ocidente, que não são judeus e não têm a nossa fé, e muitos dos nossos serão excluídos, porque não têm fé suficiente». E Jesus, dirigindo-se de seguida ao capitão, disse-lhe: «Assim como acreditaste assim acontecerá. Vai para casa e vai ver se o teu criado está melhor». E o capitão obedeceu e foi. E, ainda não tinha entrado em casa e já alguém lhe vinha dizer que o criado estava bom.
Como Jesus não gostava de publicidade, logo a seguir a esta cura, deixou a aldeia com os discípulos e foi para uma pequena cidade chamada Naim. Ora, quando estava a chegar à cidade, depararam com um funeral. Era o funeral do filho único duma viúva. A pobre da viúva chorava desconsolada. E tinha razão, porque aquele filho era a sua única esperança e o seu único consolo... Vendo a viúva naquele estado, Jesus compadeceu-se dela e mandou parar o cortejo fúnebre: «Mulher, não chores!». Aproximou-se então do caixão e tocou-lhe. Os que o levavam, ficaram surpreendidos. Nunca lhes tinha acontecido uma coisa semelhante. Então ele mandou destapar o caixão e depois disse: «Jovem, levanta-te»! E então o que era morto sentou-se e começou a falar. As pessoas, naturalmente, ficaram cheias de medo. E bem depressa a notícia se espalhou por toda a parte.
Por acaso, presenciaram o facto alguns discípulos de João Baptista, que estava na prisão por ter dito uma série de verdades a um dos representantes dos romanos. Perante a estranheza do facto, foram contar tudo a João Baptista. Então este pediu a dois deles para irem perguntar a Jesus se realmente era ele o Messias. Foi o que eles fizeram. Foram ter com Jesus e fizeram-lhe a pergunta: «És tu o Messias ou devemos esperar ainda por ele?». Ao que Jesus lhes respondeu: «Ide dizer a João o seguinte: “Os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos ficam curados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e a Boa Nova é anunciada aos pobres».
João Baptista compreendeu logo que se tratava realmente do Messias porque tinha sido descrito assim mesmo pelo profeta Isaías. E a verdade é que, a partir desse momento, nunca mais se fala de João Baptista, a não ser para dar a notícia da sua morte às mãos de Herodes.