1. A ARTE DE CONSTRUIR
 

 

Naquela tarde, fazia um calor insuportável. Era o tempo das colheitas. Repousar à sombra duma árvore era dos momentos mais agradáveis do dia. Também Jesus e os seus amigos aproveitaram a altura mais quente do dia para descansar um pouco. Mas repousar não quer dizer não fazer nada. E Jesus aproveitava todas as oportunidades para contar algumas coisas aos discípulos. O diálogo, como se diz hoje, era um factor importante da vida de Jesus com os seus amigos.

 

No dia anterior, eles tinham tido várias experiências com a gente simples. E também tinham tido algumas discussões com os que julgavam que tudo sabiam. Desta vez, a discussão foi sobre um assunto que para Jesus era muito importante. Era um assunto que Ele gostava de abordar. Ele queria que, sobre certos assuntos, os discípulos ficassem com ideias muito claras. O tema preferido desta fase da vida deles então era assim: tudo tem que ser visto, pensado e feito na perspectiva de Deus. Ou seja, Deus tem que ser o assunto mais importante da vida.

 

Durante a conversa desse dia, Jesus disse aos discípulos: «Estou a lembrar-me dum facto interessante. Uma vez, houve dois homens que construíram a sua casa ao mesmo tempo. O primeiro construiu uma casa bonita, enorme e vistosa. O outro precisou de muito mais tempo e a sua casa não ficou tão grande nem tão bonita. Entretanto, passaram o Verão e o Outono. Choveu bastante e fez muito vento. O primeiro estava instalado com todo o conforto na sua moradia. O frio não entrava lá dentro. Tinha tapado todos os buracos e tinha uma boa lareira. O segundo não tinha nada desse conforto e o frio entrava por várias frinchas...

 

De repente, lá fora ouviu-se qualquer coisa como um estrondo. O homem com a casa bonita assustou-se todo ao olhar para uma das paredes: “Mas que é isto? O quadro todo torto? Mas eu não deixei o quadro torto!”. O facto, porém, é que não era o quadro que estava torto, mas sim a casa que tinha cedido dum dos lados. Alguns dias depois, surgiram outras fendas nas paredes. E, em pouco tempo, toda a casa se afundou no barro...

 

Ao contrário, na pequena casa do outro homem chovia. E fazia um frio de bater os dentes. A casa, aliás, tinha muitos defeitos. Mas, apesar disso, resistiu à ventania e à chuva. Aguentou o temporal dos últimos anos. Aguentou chuvadas e mais chuvadas. Sabeis porquê?» – perguntou Jesus aos discípulos sem esperar resposta – «Pois bem, o segundo homem construiu a sua casa sobre a rocha. Por isso, a sua casa era tão segura como realmente parecia... Ao passo que a outra casa, que parecia tão bonita e não tinha defeitos de construção, afinal não estava tão bem como parecia, pois não estava construída em terreno seguro, mas movediço».

 

A história é esta. Mas Jesus continuou: «Pois bem, meus amigos, há gente que se parece com este casarão construído sobre a areia. Há gente que até é capaz de gostar do que eu digo. Mas, quando chega a altura de fazerem alguma coisa, então, não fazem nada. Não se pode confiar neles. Parecem-se com esse casarão construído em terreno inseguro. Assim também nós. Quando queremos fazer alguma coisa como deve ser, primeiro, devemos pensar bem nas consequências. E também vós. Se quiserdes ser meus discípulos, tendes que saber o que vos espera. Não julgueis que, por serdes meus discípulos, sereis grandes homens. Se é assim que pensais, então estais muito enganados»...

 

E Jesus continuou: «Que ninguém julgue que, por ser meu discípulo, tem a vida facilidade, que vai ter uma vida regalada. Nada disso. Tem é que ver bem onde põe os pés. Tem que ser como aquele homem que, embora não podendo construir uma casa bonita, teve o cuidado de a construir sobre terreno sólido. Só assim é que os me seguirem podem ter a certeza que a sua vida não se afunda».

 

E, para a sua ideia ficar ainda mais explícita, Jesus contou um outro exemplo. Que é o seguinte. «Qual é o rei que parte para fazer a guerra contra outro rei sem pensar primeiro se é possível fazer-lhe frente com dez mil homens, sabendo que o outro rei vem contra ele com vinte mil? Se tem a certeza que pode vencer, muito bem. Mas, se não tem a certeza, então o melhor que pode fazer é ir ter com ele e fazer as pazes». Não é difícil entender estas coisas. No fundo, pelo menos em teoria, é tudo uma questão de bom senso.

 

A conversa entre Jesus e os seus amigos era calma. «Vós – continuou Jesus a dizer – no futuro tereis que dizer às pessoas uma série de coisas que não são fáceis de aceitar. Mas há muitas formas de as dizer. E é importantíssimo que gosteis das pessoas, mesmo das que não gostem de vós; e até dos que vos tratam mal e perseguem. Deveis dizer a toda a gente que Deus não vem só para os que sabem a Lei de Moisés de cor, mas sim para todos. Deveis dizer que Deus quer estar com quem é pobre, com quem passa fome, com gente que tem muitos problemas. É disso que deveis falar sempre e a toda a gente, quer eles queiram ouvir quer não...».

 

Havia um ar de admiração e algumas dúvidas na mente dos discípulos. Mas as coisas tinham que ficar claras. E Jesus continuou: «O vosso trabalho, no futuro, não vai ser fácil. Vai exigir de vós muitos sacrifícios e sobretudo muito sofrimento. A vossa missão vai ser muito complicada. Chegareis mesmo a deparar com situações em que as pessoas procurarão fazer-vos mal, estando convencidas que estas a fazer mas é bem. Tendes que estar preparados para tudo isso!...».

 

«Mas não vos esqueçais duma coisa importante. O que disserdes aos outros tem que ter credibilidade. Quer dizer, vós só haveis de conseguir convencer as pessoas se fizerdes o que disserdes. É certo que se podem dizer muitas coisas correctas, mesmo não as praticando, mas isso de pouco vale. Talvez haja sempre quem aproveite essas palavras, mas isso não será a regra geral. É um pouco como a casa bonita. É vistosa, mas, bem lá nos fundamentos, aquilo é tudo falso. Não resiste às menores provas. Assim é também connosco. Não bastam só as aparências...».

 

Amigo ouvinte, quando, com a nossa vida, demonstramos que é importante o que dizemos, então as pessoas acreditam. Saber dizer coisas bonitas sobre o que se deve fazer não basta. Também isso é necessário. Mas é necessário algo mais. Dizer sem mexer palha de pouco adianta. Para que as nossas palavras tenham eficácia, é preciso fazer e ensinar a fazer. Só isso tem efeito duradouro.

 

Vamos concluir com mais algumas recomendações de Jesus aos seus discípulos: «Pensai bem na vida que quereis seguir. É preciso muito esforço e muito trabalho. E, pronto, por hoje, é tudo. Acho que já tendes matéria suficiente para pensar durante muito tempo. Agora, que já está menos calor, vamos seguir viagem. E então, mais uma vez, coragem! Mãos à obra! Vamos procurar todos viver aquilo de que estivemos aqui a falar!». E Jesus e os discípulos seguiram viagem.