1. FRUTOS E NÃO FOLHAS

 

Um dia, Jesus e os seus amigos foram colher figos. As figueiras, como as pessoas sabem, têm grandes folhas. É preciso a gente aproximar-se bastante da árvore para ver os figos. Jesus sabia dessas coisas muito bem. E, nesse dia, por acaso, Jesus foi a uma figueira que tinha muita folha. Mas, ao aproximar-se, não viu nenhum fruto. Então, aproveitou a ocasião para dizer aos discípulos: «Para mim, quando uma figueira não tem figos, não é realmente figueira. E, sendo assim, não serve para nada. E a figueira, ainda mais que qualquer outra árvore. Não dando frutos, não presta mesmo para nada. Nem sequer para lenha. Por isso, o melhor é arrancá-la. Ora bem, assim também, homem que não dá frutos dignos de homem, não merece o nome de homem...».

 

Ao saírem dali, passaram por uma seara. Colheram então umas espigas de cevada. Isso ao menos dava para comer. Pois bem, com estas e com outras, Jesus ia-lhes dizendo uma série de coisas. Iam conversando de tudo o que viam. E, entretanto, chegaram a uma pequena aldeia, que quase nem aldeia chegava a ser. Dir-se-ia mais propriamente um lugar, uma pequenina povoação...

 

Lá na aldeia, havia uma pequena praça. Como, de resto, há em qualquer povoação. Lá estava sentado um homem que todos achavam o mais inteligente do lugar. Aliás, ele próprio se achava um autêntico génio. É que ele sabia mais histórias sobre Deus do que qualquer outro. Pois bem, quando Jesus e os seus amigos chegaram, ele quis logo mostrar que sabia. «Hoje, vi-vos lá no meio da seara a colher espigas e a comer os grãos. Não tendes vergonha? Então não sabeis que fazer isso hoje, que é o Dia do Senhor, é proibido? O dia de hoje é só de Deus. E, por isso, ninguém pode fazer nada, nem sequer debulhar espigas de trigo ou cevada para comer. Está escrito na Lei que hoje nem sequer se pode cozinhar...

 

O homem falou e falou e... parecia que não havia meio de parar. Jesus teve que o interromper. E não esteve com muitos rodeios: «Tu não percebes nada de nada. Deus não reservou nada este dia para Si mesmo. Ele escolheu um dia por semana para Lhe prestarmos homenagem, para as pessoas deixarem de trabalhar, mas foi para poderem ficar juntas. E isso não quer dizer que estejamos dispensados de nos ajudar e nos querermos bem uns aos outros. Então, não é a Lei que diz também que devemos amar os outros como a nós mesmos»?

 

Agora, era o homem que estava a olhar para Jesus admirado. E Jesus continuou: «Deus é Pai de todos, não é verdade? Pois bem, se é Pai de todos, então devemos amar-nos todos como irmãos. Se é assim, então Eu acho que hoje, mais do que noutro dia qualquer, temos que nos ajudar uns aos outros. Em resumo, «não foi o homem que foi feito para o sábado, mas sim ao contrário: o sábado é que foi feito para o homem».

 

A seguir, Jesus prosseguiu o caminho, deixando ali o homem parado e de boca aberta, no meio da praça. Já fora daquela aldeia, encontraram um homem que tinha uma das mãos doente. As pessoas tinham um certo nojo dele por causa daquela mão assim. O Evangelho diz que a mão estava seca. Provavelmente seria até algum sinal de lepra. E sabe-se como os leprosos metiam medo naquele tempo (Aliás, infelizmente, ainda hoje, metem medo, apesar de se saber que se podem curar). O facto é que aquele homem não podia trabalhar e, por isso, tinha que se contentar com esmolas. Mas até isso era um grande problema, pois os habitantes da aldeia nem sequer o deixavam entrar. Até o tinham chegado a apedrejar.

 

No dia de sábado, ninguém fazia mal a esse homem com a mão seca, mas também ninguém o ajudava, porque as pessoas julgavam que nesse dia nem sequer caminhar podiam. Mas Jesus, ao ver aquele homem doente, apertou-lhe a mão. O doente já nem sequer se recordava de alguém lhe ter tocado há imenso tempo. Nem sequer os seus familiares; quanto mais!.... Mas, naquele dia, não foi só Jesus que lhe apertou a mão. Até os amigos de Jesus se sentaram ao pé. Repartiram com ele alguma comida que tinham consigo; sobretudo algumas frutas que tinham apanhado pelo caminho...

 

Como é fácil de calcular, o homem não cabia em si de contente. Nunca lhe tinha acontecido nada igual. A princípio, ficou todo desconfiado. Nunca ninguém lhe tinha tocado. Aliás, as pessoas nem sequer se aproximavam dele. Ou então, quando alguém se aproximava mais um pouco, era para o tratar mal e para o expulsar do lugar em que estava. Agora, porém, Jesus e os seus amigos estavam ali sentados ao pé, conversando e rindo. Mais, ajudaram-no a levantar-se e levaram-no para perto dum lugar onde havia água fresca...

 

Mas Jesus tinha ainda outros planos para esse dia. Achou que era uma altura boa para dar uma lição aos seus discípulos e também aos habitantes da aldeia. Então deu ordens para regressar à aldeia, levando o doente no meio do grupo. E, como era o Dia do Senhor, foram directamente para a sinagoga, ou seja, para a igreja daquele lugar. As pessoas ficaram horrorizadas ao verem Jesus e aquele doente ali.

Então, um dos chefes do templo avançou e fez a Jesus esta pergunta para o poder acusar:

«Os nossos antepassados disseram-nos que ao sábado não se pode fazer nada. Agora, diz-nos lá tu: é permitido curar ao sábado?»...

Jesus, como fazia com muita frequência, não lhe respondeu directamente. Só dava respostas directas quando quem fazia perguntas o fazia para saber algo de verdade; e não quando Lhe faziam perguntas só para O poderem acusar. Neste caso concreto, respondeu fazendo uma outra pergunta: «Ouve lá, quem de vós, tendo uma ovelha, se ela, ao sábado, cair no poço, não vai lá para a tirar para fora? Ora bem, então responde-me a isto. O que é que vale mais: um homem ou uma ovelha? Faço a pergunta doutra maneira: É lícito ou não fazer bem ao sábado?».

Claro que ninguém Lhe respondeu. Então, Ele disse ao homem doente: «Estende a mão»! Ele estendeu a mão e a mão ficou sã como a outra.

 

Os fariseus presentes ficam cheios de raiva. E de tal maneira que saíram logo dali. Depois, reuniram-se para ver se arranjaram motivo para acusar e liquidar Jesus. Mas Jesus afastou-se do lugar. Pelo caminho, foi comentando o acontecido com os seus discípulos... Disse-lhes nomeadamente isto: «Gosto muito mais de gente simples como aquele homem da mão ressequida. Muito mais do que daquele sabichão lá da praça e os sabichões lá do templo. Julgam que sabem tudo, mas não percebem nada.

 

Esses sabichões são como a figueira que vimos antes. Parecia uma árvore tão bonita e a verdade é que não presta para nada, porque não dá frutos. Assim é também com as pessoas que julgam que sabem tudo. Ficai a saber uma coisa: para saber quem alguém é, não basta ouvir o que ele diz, é preciso esperar pelo que faz. Se alguém diz palavras bonitas sobre Deus, mas não faz o que Ele quer, não é digno de ser levado a sério. As árvores conhecem-se pelos frutos. Pois bem: com os homens é também assim».