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O criado preparou dez camelos e partiu, levando consigo também valiosos presentes da parte do seu amo. E tomou o caminho da Mesopotâmia, em direcção à cidade de Nahor. Antes de chegar à cidade, encontrou-se com uma jovem, que tinha ido buscar água à fonte. A jovem chamava-se Rebeca. Pediu-lhe de beber. Ali beberam também os acompanhantes, mais o gado todo.
Segundo o costume, a jovem convidou o peregrino a ir pernoitar em casa do seu pai. Mas, antes disso, foi avisar o pai. A jovem foi, pois, à frente e contou ao pai tudo o que lhe tinha acontecido. A jovem tinha um irmão de nome Labão. Este então foi ao poço receber o peregrino, que trazia uma mensagem do seu amo Abraão, que também ele era natural dessa região. Ao vê-lo junto ao poço, Labão disse-lhe: «Que estás a fazer aí parado? Vem daí, homem de Deus. Já está tudo preparado lá em casa e também temos lugar para o outro pessoal e para os camelos».
À noite, o criado de Abraão recusou-se a iniciar a refeição sem contar o motivo que o trazia àquela terra: «Eu sou um dos criados de Abraão. Deus abençoou o meu amo com muitos bens. E a sua mulher Sara, apesar da sua muita idade, deu-lhe um filho, chamado Isaac, que está agora em idade de casar. Ora, o meu amo fez-me jurar que não escolheria para o filho de Isaac uma mulher senão entre as da sua raça. Foi então que eu lhe disse: “E se ela se recusar a acompanhar-me?”. Ao que ele respondeu: “Tenho a certeza que Deus te vai ajudar e vais encontrar uma mulher entre os meus familiares”. Ora bem, é por isso que eu estou aqui. E tive tanta sorte que, ao chegar ao poço, encontrei uma jovem que me indicou a vossa casa. Tenho a impressão que essa jovem é precisamente a mulher que o Senhor destinou para o filho do meu amo».
Os convivas, e dum modo particular Labão, bebiam as palavras do criado de Abraão. E nessa atitude ficaram, porque este continuou: «Agora, se quiserdes demonstrar ao meu amo a vossa afeição, dizei-me que aceitais a proposta. Senão, dizei-mo também. Assim como vim, assim voltarei». Então o pai de Rebeca, que se chamava Betuel e que era sobrinho de Abraão, respondeu-lhe: «Foi o Senhor que preparou tudo. Nós não sabemos o que dizer. Aqui está Rebeca. Leva-a e que ela seja a mulher do filho do teu amo». Ao ouvir isto, o criado deu graças a Deus e depois ofereceu a Rebeca objectos de ouro, prata e vestidos. E ofereceu também ricos presentes ao irmão e à mãe... Só depois disso é que comeram.
Logo no dia seguinte, fizeram-se os preparativos para regressar à terra de Abraão. O irmão e a mãe de Rebeca ainda pediram ao criado de Abraão para se demorar mais uns dez dias, mas isso não era possível. Ele tinha um prazo para cumprir a sua missão. Por isso, Rebeca, segundo os usos e costumes daqueles tempos, partiu logo com ele. Foi, porém, acompanhada por uma das suas irmãs e por uma criada. Por seu lado, os pais dela cumpriram o seu dever de piedade filial, abençoando-a deste modo: «Que Deus te abençoe e que possas vir a ser a mãe de milhares e milhares! Que a tua descendência possa desbaratar todos os teus inimigos»!
Rebeca era muito bela. Mas era sobretudo dotada de muitas qualidades. Apesar de ser ainda jovem, tinha uma personalidade forte e independente. Não é, pois, de admirar, que tenha decidido fazer logo o que lhe parecia uma indicação clara por parte de Deus. Mesmo contra a maneira de ver dos seus, achou que não podia recusar esse convite. Tudo o que tinha acontecido não podia ser apenas mera coincidência. Por isso, a partida não constituiu qualquer espécie de problema...
Sendo assim, puseram-se a caminho. O camelo que levava Rebeca era conduzido por um servo da casa dos seus pais. A viagem do criado de Abraão até à terra de Rebeca tinha levado vários meses. E a viagem de regresso demorou mais ou menos outros tantos. Felizmente, não encontraram dificuldades de maior durante a viagem. Ao contrário do que costumava acontecer por carreiros em que os assaltantes abundavam. Por outras palavras, pode-se dizer que tudo correu às mil maravilhas. É claro que Rebeca ainda chorou durante o trajecto, devido às saudades que sentia dos seus familiares, sobretudo do pai, da mãe e do irmão. Mas a certeza de que estava a cumprir a vontade de Deus ajudou-a a ultrapassar tudo.
A viagem ao todo deve ter demorado pelo menos um ano inteiro. Entretanto, durante esses meses todos, na terra de Abraão tinham acontecido algumas coisas. A mais desagradável fora a morte da mãe de Isaac. Mas, por outro lado, Sara tinha morrido contente, porque via que as coisas estavam a correr bem em relação ao seu filho. Ela tinha dado descendência a Abraão e podia morrer descansada. E mais descansada ficou quando soube que o seu filho em breve ia casar.
Quando Rebeca chegou à casa de Abraão, o seu futuro esposo estava ausente. Durante o período de luto, tinha-se afastado para uma propriedade que ficava afastada da terra onde habitavam agora. Ele tinha ido até Negueb, que era a terra onde tinha nascido. Ora, o costume mandava que a noiva não podia assentar arraiais, digamos assim, sem primeiro se encontrar com o noivo. Ela e os acompanhantes tiveram, pois, de continuar a viagem para ir à procura de Isaac.
Encontraram-no uma tarde, em que ele tinha saído para dar um passeio pelo campo. Ao erguer os olhos, viu ao longe, na linha do horizonte, uma fila de camelos que se aproximavam. Esperou pela caravana para ver o que era. Quando chegaram mais perto, Isaac correu para eles. Por sua vez, Rebeca, ao ver o jovem, desceu do camelo, perguntando ao criado: «Quem é este jovem que vem ao nosso encontro pelo campo fora»? Quando o servo lhe respondeu que era o seu amo, Rebeca cobriu logo o rosto com um véu. Fazia também parte dos costumes a noiva só retirar o véu diante do noivo no dia do casamento...
Todos pararam para descansar e, a seguir, montaram uma tenda provisória, pois não podiam regressar a casa nesse mesmo dia. O servo contou a Isaac tudo o que lhe tinha acontecido lá na terra dos seus antepassados. Graças a Deus, a notícia tinha sido recebida muito bem pelos pais e pelo irmão de Rebeca. E esta, por seu lado, tinha compreendido perfeitamente que todas as coincidências eram um sinal claro de que isso era o que Deus queria para ela. Tinha, por isso, decidido energicamente pôr-se a caminho para casar com o seu parente Isaac.
No dia seguinte, Isaac conduziu Rebeca para a terra onde ficariam a morar, instalando-a na tenda que pertencia à sua falecida mãe. E o casamento celebrou-se alguns dias depois. O facto de ela ficar a morar nessa tenda de alguma forma serviu de consolação pela perda da sua mãe. Como nos contos de fadas, poder-se-á dizer que viveram felizes e contentes, o que não quer dizer que não tenham tido problemas. Tiveram-nos, como toda a gente normal. Mas isso foi aceite como uma parte integrante da vida de todos os dias.