1. MUDANÇA DE 180º

 

Os romanos eram os senhores de toda a terra. Também da terra de Israel. E a província da Palestina era governada por um rei que eles lá tinham posto: um tal Herodes. Na zona do Lago Tiberíades, vivia um homem como tantos outros. Chamava-se Simão. Também ele já tinha ouvido falar de Jesus; como tantos outros. Tinha ouvido falar da sua bondade e dos milagres que fazia. Também lhe tinham dito que, apesar de não ter grandes estudos, Jesus falava bem e sobretudo de maneira que toda a gente o entendesse...

 

Um dia, esse homem chegou também à cidade onde vivia Simão. Ao que parece, Jesus era um homem que não parava um instante. E tinha vindo àquele lugar para falar com as pessoas. Mas Simão é que não estava lá muito interessado nessas coisas. Era um sujeito casmurra e não ia em fanatismos. Para ele, isso não passava de poesia. Ele tinha que trabalhar para manter a família e não havia tempo para essas idiotices. Quem tivesse tempo a perder que fosse ouvir o novo pregador. Ele, não, não tinha tempo para essas coisas...

 

Simão era uma pessoa remediada. Tinha um barco e redes. Era pescador. Ir à pesca, escolher e vender os peixes dava-lhe muito trabalho. Quase que não tinha tempo para consertar as redes e reparar o barco. Era da pesca que ele vivia e a vida era dura. Até porque os romanos controlavam tudo e ele nem sequer podia juntar umas economias. Apesar de tudo, com muito trabalho, a coisa lá ia dando.

 

Um dia, por acaso, Jesus apareceu lá pela praia, quando Simão estava a puxar o barco para a areia. E naturalmente meteu conversa; como se faz nessas alturas: «Então, como é que foi a pesca hoje»? Simão nem sequer levantou a cabeça. Limitou-se a responder-lhe com voz de desânimo: «Qual boa! Não foi nada boa. Levantei-me às quatro da manhã, andei por aí este tempo todo e... não apanhei nada. Sorte maldita! Apanhei uns peixes que nem sequer dão para matar a fome a um gato! Isto está muito mal. E, ainda por cima, andam para aí uns tipos, como esse Mateus, que nos dão cabo do juízo por causa da raça dos impostos. Para o inferno com ele, mais os impostos e os romanos! A sorte deles é eu não saber doutro ofício. Senão, já me tinha pirado daqui! Mas... como é que ia de sustentar a família?!»...

 

Jesus foi ouvindo toda a conversa. Por fim, quando Simão já não tinha mais nada a dizer, sorriu. Foi só nessa altura que Simão olhou para Ele de frente. Então Jesus propôs a Simão o seguinte: «Ouve! Talvez não acredites, mas eu tenho cá um pressentimento. Vamos sair os dois para o alto mar, para onde a água for mais funda. Quando chegarmos lá, então lanças a rede para o lugar contrário». «Não vale a pena insistir!» – respondeu Simão – «Não dá nada. Com o barco que tenho, isso não dá nada. É muito difícil lançar a rede para o outro lado...». Jesus olhou com calma para Simão, mas ao mesmo tempo com firmeza...

 

Depois de barafustar ainda um pouco, Simão acedeu (como, de resto, acontecia sempre): «Está bem. Vou tentar mais uma vez. Mas só mais uma vez. Se isto não der nada, então a culpa é tua! Esta brilhante ideia é tua e não minha. Portanto, depois quem tem que aguentar com o que os outros disserem és tu!». E lá saíram para o alto mar com o barco. Simão lançou a rede conforme Jesus lhe tinha dito. Quando foi para a tirar de novo para o barco, não conseguiu: «Parece que a rede ficou presa a alguma coisa!». Disse isso por dizer. É que no alto mar não era muito provável encontrar coisa alguma...

 

Na verdade, a rede não estava presa a nada. Estava era cheia de peixe! Regressaram a custo para a praia. O barco até começava já a deixar entrar água de tão carregado que estava. Jesus e Simão estavam lá dentro com peixes até aos joelhos. Acenaram então para os irmãos e parentes e amigos de Simão, que esperavam por ele. Tinham vindo saber se ele tinha pescado alguma coisa. Simão era um sujeito muito popular, porque era um amigo generoso. Lá tinha as suas manias e os seus berros de raiva, mas eles já o conheciam de ginjeira... E todos se precipitaram para o barco para ajudar a tirar o peixe.

 

Amarrado o barco, Simão, voltando-se, disse:«Ainda não consigo acreditar no que os meus olhos viram!».

Jesus respondeu-lhe: «Pois olha, Simão! Só se acreditares é que compreendes o que aconteceu. Estas coisas são assim: se a gente não acredita, não compreende. E mais: se acreditares, vais ver que ainda vão acontecer mais coisas. Já agora, Simão, diz-me uma coisa: “Então tu vais a andar toda a vida a pescar. Eu proponho-te uma coisa (e não julgues que estou a troçar de ti! Não estou, não senhor!): E se tu te fizesses pescador de homens?”».

- «Pescador de homens? O que é isso?».

- «Bem, Simão, como é que te hei-de explicar... olha, há muita gente que anda triste e com problemas. Tu sabes bem disso. Há gente que não sabe como fazer, há gente que não acredita em nada, nem sequer em Deus. Ora bem, tu és um tipo que se dá bem com toda a gente: podes ajudar as pessoas. Repara, Simão, isso é que é trabalho que compensa de verdade!».

 

Não foi fácil convencer Simão. Mas, quando compreendeu bem a proposta, deixou o barco e as redes e foi com Jesus. Descobriu que Jesus era um homem diferente. E, como sinal de que realmente a sua decisão estava tomada, até ficou a chamar-se, a partir de então, Pedro, em vez de Simão...

 

Mas não foi Simão que seguiu a Cristo. Aliás, nem sequer foi ele o primeiro a fazer parte do grupo de amigos dele. Mas todos eles tinham uma coisa em comum: não eram nem ricos nem santos, mas eram todos simples; a maior parte deles pescadores e analfabetos. Mas tinham bom coração. Digo quase todos, porque nem todos eram assim. Havia, por exemplo, um de quem Simão não gostava muito. Recolhia os impostos para os romanos. Simão conhecia-o bem. Era o Mateus.

 

Mas também Mateus, no fundo, não era má pessoa. Ele fazia um serviço aos romanos, é verdade, mas o que ele queria era governar a sua vida. E, como sabia ler e contar, era natural que tivesse optado por essa profissão. Mas o curioso é que, depois de compreender as coisas, também Mateus deixou a sua profissão e seguiu a Jesus. A condição que Jesus exigia era essa: deixar tudo e segui-lo.

 

Claro que nenhum deles tinha ideias claras acerca de Jesus. E como é que podiam tê-las se o conheciam há tanto pouco tempo? Era natural. As pessoas vão-se conhecendo quando convivem umas com as outras. Não há outra maneira de ficar a conhecer as pessoas. Seja como for, todos eles foram atraídos, digamos assim, pela natural bondade e simpatia de Jesus. Muito provavelmente, ficaram também muitos impressionados com a sua religiosidade...

 

Mas não foi só isso que impressionou os seus amigos. Havia nele qualquer coisa de misterioso. E eles não foram capazes de resistir. E com razão, pois, aos poucos, foram compreendendo que Jesus não era um homem qualquer. Descobriram que Ele era um homem excepcionalmente unido a Deus...