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Depois de longa viagem, um grupo dos que tinham estado no cativeiro da Babilónia chegou, finalmente, a Jerusalém. Subiu o morro que ia dar à cidade cantando e dançando. Podia, finalmente, construir de novo um templo para Deus. Mas, quanto mais se aproximava, mais decepcionado ia ficando. A cidade não era nada daquilo que os seus avós tinham contado. Só havia ruínas, montes de pedras e casas abandonadas. E a pouca gente que lá vivia desconfiava dos recém-chegados...
As pessoas que viram esses recém-chegados começaram logo a cochichar: «Que quererão estes aqui»? «Somos judeus!» – explicou o chefe do grupo – «e viemos reconstruir a cidade». «Reconstruir a cidade?!» – responderam os outros – «Essa é boa! O que vocês querem é tirar-nos as nossas terras. Não. Nada feito. Vão-se mas é embora, antes que aconteça algo de desagradável!». Assim, os retornados da Babilónia foram novamente perseguidos e maltratados.
Mas eles não desistiram; até porque não podiam regressar para a Babilónia. Mas, sempre que levantavam uma construção, logo era destruída pelos locais. Os que tinham ficado na Babilónia acabaram por chegar ao conhecimento do que estava a acontecer. E a reacção resume-se em frases de circunstância: «Estão a ver? Eu bem disse que não ia dar certo. Foi o que eu sempre disse, mas ninguém quis ouvir. A culpa foi toda deles; e particularmente de quem os levou para lá»!
Pouco se sabe ao certo sobre este período difícil dos retornados da Babilónia. A verdade é que a reconstrução de Jerusalém e do país foi muito demorada. E os inimigos continuaram a atacar de todos os lados. Ao menos se tivessem um rei que os guiasse. Mas não tinham rei e nunca mais iriam ter rei. Havia, no entanto, a esperança de que, no futuro, viesse realmente alguém que os libertasse para sempre dos sofrimentos e da perseguição dos inimigos. E pediam constantemente a Deus que apressasse esse dia de ventura e de glória.
Só que os judeus esperavam um libertador à maneira política. E Deus não trabalha assim, passe a expressão. Deus manifesta o Seu poder pura e simplesmente como quer e quando quer. Não precisa dos conselhos de ninguém. A prova disso é que apareceu duma maneira toda especial há dois mil anos e as pessoas não O descobriram. Apareceu como um menino, a chorar, a tiritar de frio. E essa era uma imagem pouco condizente com a ideia que os judeus tinham de Deus. E, de facto, eles recusaram-se a aceitá-lo...
O amigo ouvinte permita que eu faça algumas considerações acerca disto. Também hoje, as manifestações de Deus continuam a ser como Deus quer; não como nós imaginamos. Ele continua, como sempre, a manifestar-se das formas mais estranhas. Talvez Ele já tenha começado a libertar-nos e nós ainda não nos tenhamos dado conta disso. Como aconteceu em Belém, assim também Deus na nossa vida se pode manifestar sem dizer uma única palavra. Por isso é preciso estar com atenção...
Quando, por qualquer circunstância que nem sequer controlamos, nos libertamos da mania de possuir, de querer ser isto e mais aquilo a todo o custo, talvez seja Ele que está a levar por diante o seu plano de libertação. Quando, por qualquer razão, começamos a deixar de pensar primeiro em nós, talvez seja Ele a actuar. Isso parece-nos uma coisa estranha? É possível, mas a verdade é que os caminhos de Deus são infinitos e, como regra, são paralelos ou são até os mesmos dos homens. Deus sempre foi e continua a ser um Deus estranho!
Quando Deus decidiu fazer-se homem em Jesus Cristo, nasceu pobre, contradizendo todas as normas protocolares. E agora, à distância de tantos anos, nós continuamos a estranhar essa maneira de proceder. E, lançando um olhar retrospectivo sobre a vida de Jesus de há dois mil anos, talvez dêmos connosco a pensar que, enfim, se fôssemos nós, teríamos procedido doutra maneira para resolver os problemas. Se tivéssemos sido os pais de Jesus, ter-lhe-íamos dado uma educação esmerada e, assim, mais facilmente, poderia ter atingido os seus objectivos... E mais: se calhar, achamos que Ele se devia ter tornado uma pessoa importante para levar tudo à sua frente...
E, no entanto, tudo se passou precisamente ao contrário daquilo que teriam sido planos humanos bem congeminados. Inclusivamente, talvez cheguemos mesmo a dizer que houve falta de prudência e bom senso; que a sua maneira de proceder não foi a mais correcta para resolver a situação da humanidade. É que Deus não é prudente à nossa maneira. Aliás, humanamente falando, Deus parece que tem a mania de ser um imprudente. Foi tão imprudente que, por amor do homem, Se fez também Ele homem e, ainda por cima, Se deixou cravar numa cruz. Mas já se viu um Deus semelhante! Imprudência até à loucura!
Mas voltemos ao caso de Jesus. Uma pessoa aparentemente igualzinha a outra qualquer. Passam-se vários anos... e o que é que acontece? Bem, para decepção dos judeus do seu tempo e também para decepção nossa, não acontece nada de especial. O seu pai, José, trabalha no duro como carpinteiro. Como qualquer outro trabalhador. Levanta-se de manhã cedo, enquanto o Menino ainda dorme. Maria também não faz nada de especial. É uma tradicional dona de casa como outra qualquer: lava, limpa, vai à fonte, prepara a comida...
O Menino também cresce normalmente; como qualquer outro garoto da sua idade e do seu ambiente. Não frequenta a escola, porque a sua família é pobre. Aprende a Bíblia da boca dos seus pais e das explicações que o padre daquele tempo faz lá no templo deles. Mas então, sendo Jesus Filho de Deus, não merecia coisa melhor? Nós, claro, teríamos programado tudo muito melhor. Pois é, mas Deus tem a mania de nos surpreender...
Quando me ponho a pensar nestas coisas, também faço perguntas assim: porque é que Deus não resolveu solucionar os problemas duma vez para sempre com um golpe de mágica? Afinal, as perguntas resumem-se todas numa: porque é que Deus, feito homem em Jesus Cristo, quis passar por todos os trabalhos, quando podia ter feito doutra maneira? Reconheço que é uma pergunta a que pessoalmente não sei dar nenhuma resposta satisfatória. A não ser uma: o amor de Deus pelos homens. E o que isso quer dizer? Bem, quando se ama alguém, faz-se tudo para se parecer o máximo com esse alguém. E foi isso o que Deus fez...
E assim continua a manifestar-se Deus hoje. O que é preciso é saber estar atento ao sinais para O descobrir. É preciso possuir uma espécie de sexto sentido. Como o tiveram, por exemplo, os Magos que, O souberam descobrir numa casa pobre qualquer, em que o chefe de família era um tal José e a dona de casa uma tal Maria.