1. A VIAGEM DE REGRESSO

 

Ciro, rei dos persas, foi-se apoderando de tudo o que encontrava à sua frente e acabou por vencer também a última resistência do rei da Babilónia. Então, para assinalar esse facto, foi organizada uma marcha solene de soldados que desfilaram numa demonstração de imponência e poder pelas ruas da capital babilónica. As profecias de Isaías, e sobretudo do chamado segundo Isaías, realizaram-se plenamente. Ciro era realmente um rei diferente dos anteriores...

 

Ciro não incendiou prédio nenhum e não deportou o povo em massa; como tinham feito outros. Nem sequer tratou mal ninguém, sobretudo entre os civis. A vida na cidade continuou praticamente inalterada. Cada um podia prestar culto ao deus que melhor entendesse. Mas a medida que mais agradou a muitos dos habitantes da Babilónia, sobretudo os judeus, foi a de Ciro ter decretado que os antigos prisioneiros agora podiam regressar à sua pátria, se assim o desejassem. Mal se pode imaginar, pois, a alegria que reinava entre os judeus.

 

Aquele que tinha sido aluno do segundo Isaías e a quem as pessoas começaram a chamar terceiro Isaías, por se parecer muito com o professor, estava muito feliz e então reuniu os seus concidadãos e disse-lhes: «Finalmente, vamos todos voltar para Jerusalém, a nossa capital, para a nossa pátria». Ele nem sequer imaginava que o regresso pudesse ser tão depressa. A notícia espalhou-se depressa por toda a parte. E até foi inventada uma espécie de música muito simples cujo refrão era o seguinte: «Jerusalém, Jerusalém! Sacode o pó que te cobre de vergonha. Rejubila, finalmente, Jerusalém. Enfeita-te toda para nós, Jerusalém, que estamos a caminho com trepidação».

 

O terceiro Isaías conversava muito com os seus amigos. Um dia, um deles disse-lhe: «Então, sempre vais com a gente, não é verdade»? ««Pois claro!» – respondia ele – «E de que é que estamos à espera? Quanto mais depressa nos pusermos a andar daqui para fora, melhor. Se quiserdes, podemos iniciar a nossa viagem já para a próxima semana. Não deve demorar muito a arranjar as coisas. O que temos é pouco. De resto, para que é que havemos de levar muitas coisas pelo caminho?»...

 

Muitos aceitavam o seu convite para partir com entusiasmo. Mas outros manifestavam ainda um certo receio. É que alguns deles viviam ali na Babilónia há muitos anos e aí tinham feito a sua vida, apesar das dificuldades. O sapateiro, por exemplo, já tinha instalado uma loja de sapatos para senhoras. O alfaiate tinha um «ateliê» de costura bem fornecido e não queria perder a clientela. O açougueiro tinha uma boa loja de carnes e um outro tinha um bom negócio com as suas antiguidades. Para eles, tudo se tornava muito mais difícil...

 

Quando o professor Isaías foi ter com eles para os convidar, um respondeu-lhe: «Olha, o nosso desejo seria partir já agora contigo. Mas, sinto muito, ainda há meses comprei um terreno para construir uma nova fábrica e não posso deixar tudo assim sem mais nem menos. Mas, claro, não vou ficar aqui para sempre. Quando tudo estiver bem montado e quando tiver juntado bastante dinheiro, então vendo tudo e, nessa altura, sim, podem contar comigo». O vizinho dele tinha comprado uma bela junta de bois e, claro, não dava jeito, pelo menos nos tempos mais próximos. Um terceiro respondeu-lhe: «E como é que faço agora? Acabei de casar com uma moça aqui da Babilónia. Não me vou agora meter em trabalhos. Quando estivermos bem na vida, então certamente não vou ficar por aqui».

 

Pois é! A verdade é que, apesar da notícia de que podiam voltar para a sua terra, os que estavam dispostos a regressar eram muito menos do que se podia pensar. O terceiro Isaías ficou muito decepcionado, mas era evidente que não podia obrigar ninguém a partir. Aliás, a reacção foi bastante fria, mas ele não podia fazer mais nada. Então, escondeu-se no seu quarto e quase que chorou. Paciência! Realmente não podia fazer mais nada...

 

De qualquer forma, numa madrugada da semana seguinte, o terceiro Isaías saiu dali com um grupo relativamente pequeno de pessoas. E infelizmente também não foram muitos os que se despediram dele. Muitos estavam cansados das suas promessas e a verdade é que tinham ali na Babilónia as suas vidas arrumadas. De resto, eles ainda se lembravam que um dia o profeta não os tinha tratado muito bem. Com efeito, tinha-lhes chamado covardes por não quererem voltar para Jerusalém, agora que era possível...

 

Seja como for, embora atrasado, ainda foi ter com eles um homem, o professor mais ancião, uma espécie de director da escola, onde o terceiro Isaías ensinava. Chegou ao pé do profeta e disse: «Sou mais velho do que tu (quase que podia ser teu pai!), mas tu és mais corajoso do que eu. Não vos posso acompanhar, mas quero continuar aqui para ajudar os que ficam. Já sou velho e aqui talvez ainda possa ser de utilidade a alguém. No entanto, quero desejar-te muitas felicidades e sobretudo desejar-te que tenhas muito força e coragem, para assim chegardes todos sãos e salvos a Jerusalém. Ide na paz do Senhor!».

 

Desde a destruição de Jerusalém e do cativeiro dos judeus na Babilónia, tinham-se passado setenta anos. O velho professor abraçou o professor, despedindo-se com muita comoção. Já de longe, gritou ainda: «Vós é que sois o verdadeiro povo de Israel»! E ficou ali a acenar para o pequeno grupo que se perdia na curva do caminho...

 

O decreto do rei Ciro que permitiu o regresso dos judeus dizia assim: «O Senhor, Deus do céu, deu-me todos os reinos da terra e encarregou-me de Lhe construir um templo em Jerusalém. Quem de vós pertence ao seu povo? Que o seu Deus esteja com ele! Cada um suba até Jerusalém e construa o templo do Senhor. Todos os sobreviventes, onde quer que residam, sejam munidos pelos habitantes das suas localidades de prata, ouro, cereais, gado e ofertas voluntárias para o templo do Senhor em Jerusalém». Graças a este decreto, os chefes de família das tribos de Judá e Benjamim, os sacerdotes e os levitas e todos os que Deus tinha inspirado no coração, regressaram a Jerusalém para reconstruir o templo e o país inteiro.

 

O governador que presidia aos destinos de Jerusalém nessa altura era um senhor chamado Dário. Tinha sido nomeado pelo rei da Babilónia e não sabia ainda que a Babilónia tinha caído sob a alçada do rei da Pérsia. Por isso, pôs muitas dificuldades a que o tempo do Senhor começasse a ser construído. E mandou alguém informar-se primeiro à Babilónia para saber quem é que tinha dado autorização para que as obras fossem levadas a cabo. Só depois de obter informações seguras, é que os trabalhos puderam continuar. Depois de alguns anos, os judeus puderam, finalmente, festejar a sua inauguração. Por outro lado, pouco a pouco, foram chegando à capital de Judá, Jerusalém, outras famílias da província e também dos que tinham emigrado. E, depois disso, o aspecto da cidade era quase como o de antigamente.