1. ENCANTOS DE PRINCESA
 

 

«Shalom»... um programa feito e apresentado pelo Centro Diocesano dos Meios de Comunicação Social especialmente para si... Amigo ouvinte, os melhores votos de saúde e felicidades... Esteja aqui connosco { de segunda a sábado } e sempre a esta hora... Então, em nossa companhia e durante cerca de quinze minutos, boa audição!...

 

Com o exílio definitivo na Babilónia, apesar de ainda terem regressado à sua terra, Israel praticamente desapareceu como nação. Então, pouco a pouco, os israelitas foram-se espalhando pelo mundo à procura de melhor vida. Foram-se instalando em várias cidades. Como tinha sido, por exemplo, o caso de Jonas. Muitos outros co-nacionais tinham feito o mesmo. Viviam no meio de outros povos, que olhavam para eles com desconfiança. De resto, como sempre acontece em relação a minorias, que vivem noutras cidades.

 

Como minoria, os judeus eram marginalizados. O que acontece com as minorias em toda a parte. Não é de admirar que essas coisas acontecessem. Nessas circunstâncias, os judeus eram frequentemente maltratados, vistos com suspeita, presos e, por vezes, até condenados à morte. E tantas vezes sem razão para isso, porque, como regra, não se tratava de gente que fazia mal aos outros. Antes pelo contrário. E, para provar isso, contava-se uma história exemplar. Era a história duma judia que tinha feito carreira, se assim se pode dizer.

 

Era assim a história de Ester. Havia um imperador muito rico e poderoso que se chamava Assuero. Depois de três anos de governo, esse imperador decidiu que devia fazer uma festa deslumbrante no seu palácio e nos jardins adjacentes. E foi tudo preparado a preceito. Por toda a parte, havia tendas com cortinas azuis e vermelhas, franjas douradas, cadeirões almofadados. O vinho era servido em copos e taças doiradas. Aí estavam também as melhores bandas do país. Era uma festa de luxo que só a um imperador como Assuero era permitido fazer...

 

Por outro lado, a imperatriz Vasti também tinha mandado preparar um salão de festas só para as senhoras. Seja como for, na festa do imperador, havia todas as coisas boas deste mundo. O imperador comia, bebia e brindava com todos. E, pouco a pouco, como é natural, foi ficando alegre, falador e até atrevido. A uma dada altura, sai-se com esta para provocar a corte ali reunida: «Aposto que a minha esposa é mais bonita que todas as mulheres juntas!». E, mesmo que ninguém tenha respondido, ele continuou: «Então, não dizem nada? Vamos apostar mesmo?».

 

Os criados saíram e foram contar à imperatriz o que se tinha passado. Claro que a imperatriz Vasti não achou graça nenhuma à ideia. Nem em sonho pensava em desfilar à frente dum grupo de bêbados. Limitou-se a responder: «Digam a sua Majestade que não estou para brincadeiras tolas»! E os criados repetiram palavra por palavra o que ela lhes tinha dito. O imperador ficou mais vermelho de raiva do que já estava e pôs-se a discutir o que devia fazer, porque aquela afronta não podia ficar assim. Então um mais bajulador sugeriu: «Majestade, isso não é só uma ofensa. É também um perigo. Já viu o que acontece se toda a gente vier a saber que a imperatriz não obedece ao imperador»?

 

E o tal bajulador começou a perorar sobre o papel da mulher e sobre as suas obrigações. Em resumo, ele dizia que a mulher o que tinha a fazer era obedecer e mais nada. E acabou o seu discurso com a tirada habitual: «Afinal, quem é que manda»? O imperador gostou do discurso e então sentenciou solenemente: «É verdade, a coisa não pode ficar assim. Tenho que demonstrar quem é que manda aqui». E aquele incidente, por incrível que pareça, foi motivo suficiente para Assuero se desfazer da imperatriz que ele desterrou para um país distante

 

A partir desse momento, Assuero começou a pensar em arranjar uma outra imperatriz ainda mais bonita que a primeira. Alguém lhe sugeriu então uma espécie de concurso de beleza. E dito e feito. Os seus funcionários percorreram todo o país à procura de candidatas. As escolhidas eram levadas a um salão e aí eram trucadas, para parecerem ainda mais bonitas. A que fosse julgada mais bonita seria a nova imperatriz para substituir a primeira...

 

Ora, acontece que numa das dependências do palácio trabalhava um homem chamado Mardoqueu. Mardoqueu tinha sido deportado de Jerusalém para a Babilónia. E tinha criado, desde tenra idade, a menina Ester, sua sobrinha, que tinha ficado órfã de pai e mãe. Agora, Ester era já mulher feita e era muito bela. Para Mardoqueu, era como se fosse sua própria filha. O seu tio então conversou com um sujeito chamado Egeu, que era o responsável pelo concurso de beleza, e perguntou: «Oiça! A minha sobrinha não poderia ser também candidata»? Egeu olhou para a moça e ficou encantado. E respondeu-lhe: «Claro que pode. Olhe, mande-a ir ter comigo amanhã ao palácio».

 

Tinha chegado o grande dia para Ester. Egeu mandou que pusessem à sua disposição as roupas mais bonitas. Assim, ficava ainda mais bonita do que era. Entrou então no palácio e foi conduzida a um salão enorme. Entretanto, Mardoqueu esperava impacientemente pelo dia em que os seus sonhos se realizassem. Todas as jovens concorrentes tinham que se sujeitar a uma preparação que durava doze meses. Depois, quando chegava a sua vez, cada uma era apresentada ao rei. Se fosse escolhida, podia passar do harém para o palácio do rei.

 

Chegou também a vez de Ester. E pode-se dizer que tudo aconteceu por acaso. Um dia, entrou por engano numa grande sala. Não lhe pareceu ver ninguém. Mas, afinal, tinha-se enganado. Sentado atrás duma grande mesa, estava um homem. «Desculpe-me, senhor!» – apressou-se ela a dizer – «Com certeza que me perdi. Não me poderia dizer, por favor, como é que a gente chega até ao salão do imperador? E, já agora, diga-me: ele é uma pessoa simpática?». «Claro que lhe posso dizer!» – respondeu o homem – «O imperador sou eu mesmo». E, rindo, olhou para ela; e ela olhou também para ele com olhos espantados.

 

Vendo que, afinal de contas, o imperador não era assim tão terrível como lho tinham pintado, Ester até gostou dele. E o mesmo aconteceu com o imperador, que, muito sinceramente, não desgostou nada dela. Como se costuma dizer, aquilo foi amor à primeira vista. E tanto é verdade que o imperador a escolheu logo como a mais bonita do concurso, mesmo sem haver concurso nenhum. E, alguns dias depois, colocou-lhe na cabeça o diadema real e proclamou-a imperatriz em lugar de Vasti. Com o tempo, foram-se conhecendo cada vez melhor. E não tardou muito que o casamento fosse marcado.

 

O imperador Assuero mandou preparar um grande banquete, o maior banquete de sempre. Todos os seus príncipes e servos teriam que se trajar a rigor em honra da nova imperatriz Ester. Mais: decretou que ia haver um mês de festejos em todas as províncias do seu reino. Foi um mês de benefícios e muita liberalidade para com toda a gente. O imperador chegou mesmo a enviar mensageiros por toda a parte, para comunicar estas notícias. As festas iam revestir-se dum fausto nunca até então visto. A nova imperatriz pôde escolher as suas amigas preferidas para fazerem parte da corte. Celebrou-se o casamento com toda a pompa e circunstância, como se costuma dizer. E, mais ainda, Assuero não pensava senão em ser agradável a Ester.