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Como eu disse na conversa anterior, é impossível saber o que realmente aconteceu ao princípio.
E isso é tão impossível para o autor ou autores do primeiro livro da Bíblia como o é para os inventores de teorias que supostamente explicariam tudo. A verdade é que as teorias são com frequência fruto de alguma intuição genial. E também, por vezes, são fruto da inteligência. Mas, infelizmente, por vezes, os inventores de teorias julgam-se superiores a todo o resto dos homens e os trata como menores. E o mais triste é que muita gente se deixa levar por charlatães. Bem, mas vamos mas é a outra história, pois não estamos aqui para polemizar...
Como se sabe, a primeira mulher chamava-se Eva. Eva, à letra, significa simplesmente origem ou mãe dos homens. Não é, pois, um nome próprio, mas sim um substantivo comum para significar a mãe dos homens. O primeiro homem, como se sabe também, chamava-se Adão. E também aqui é interessante notar que a palavra «Adão» significa pura e simplesmente «ser humano»...
O que se sabe é que, segundo a história bíblica, Deus fez uma espécie de jardim para Eva e Adão. Bem, era mais que um jardim, como nós entendemos hoje a palavra jardim. Mais propriamente, era uma região, onde havia de tudo: relva, flores, animais, frutos, enfim, tudo o indispensável para viver. Era uma espécie de quinta ou herdade onde eles viviam. Eles tratavam dos animais e comiam dos frutos que encontravam em toda a parte. Estavam nus, mas não sentiam vergonha um do outro.
Um dia, Eva foi passear. Ia colher alguns frutos para comerem os dois. De repente, ouviu uma voz estranha. Não estava habituada àquela voz. E não era a de Adão. E ela não conhecia mais ninguém. «É verdade que não podeis tocar em nada?» – perguntou a voz. Eva respondeu: «Não, não é verdade. Porquê?». Olhou à sua volta e de repente viu uma serpente. E esta: «Não é verdade?! Não compreendo. Então Deus não disse que não podiam comer das árvores aqui?». «Não, não é bem assim! Podemos comer de tudo. Isto é, só não podemos comer do fruto daquela árvore ali que dá tanta sombra. O que Deus nos disse foi o seguinte: “Não é preciso ter medo desta árvore, mas não deveis comer dos seus frutos!”. Foi isto o que Deus nos disse, mais nada!». E Eva encolheu os ombros e continuou a colher frutos...
A serpente calou-se por uns instantes, mas não desistiu. Deu uma risadinha e prosseguiu: «Ora, ora, então Deus não vos deixa comer do fruto desta árvore? Claro! Ele não quer que vós vos torneis como Ele! Mas é uma árvore tão linda, não é? E então os frutos, esses são saborosíssimos!». Eva ainda resistiu durante algum tempo, mas depois acabou por se deixar tentar pelo belo aspecto da fruta. De facto, concordou que aquela fruta era mesmo boa e que, se calhar, Deus não queria mesmo que eles fossem como Ele. E Eva colheu um dos frutos e comeu. Havia algo de estranho naquela árvore. Ela comeu e chamou logo Adão, que estava a chegar. E Eva deu-lhe a comer da fruta.
Quando os dois olharam de novo para a árvore, ficaram com medo, não sabendo bem porquê. Ou, se calhar, até sabiam. É que tinham desobedecido às ordens de Deus. Então, levados pelo medo, esconderam-se atrás duns arbustos. Um pouco mais tarde, Deus veio fazer um passeio pelo jardim. Era já a tardinha. Durante o dia, tinha sido quente e agora fazia uma aragem muito agradável. Estranhou não encontrar nem Adão nem Eva pelo caminho. Eles estavam quase sempre no mesmo lugar e, nesse dia, não estavam lá...
«Adão, Adão, onde estás?» – perguntou Deus.
Adão e Eva não podiam continuar a fingir que Deus não estava ali. Então saíram do seu esconderijo.
Estavam com vergonha e saíram dali de olhos baixos.
Então Adão defendeu-se logo de caminho: «Comi do fruto da árvore proibida, mas a culpa foi da mulher que me deste».
Eva, por sua vez, respondeu: «Eu? Eu não tive culpa nenhuma. Foi a serpente que estava lá na árvore que me disse para colher a fruta e que não havia nenhum problema. E eu peguei numa fruta e comi».
Então Deus exclamou:
«O que a serpente fez não me interessa para o caso. Eu tratarei disso depois. Mas vós achais que a serpente tem mais razão que Eu, não é? Eu nem sei o que vos hei-de fazer. Vós quereis ser iguais a Mim? Mas não vedes que isso não pode ser? Quereis ser mais do simples homens? Isso é impossível. Mesmo comendo dos frutos desta árvore...»
Adão e Eva continuavam tristes e assustados. Então Deus disse-lhes:
«Contentai-vos com ser pessoas normais. Bem, já que não obedecestes às minhas ordens e quereis ser independentes, fazei como entenderdes, mas... fora daqui. Já que tendes a pretensão de ser iguais a Mim, pois então ide e tratai da vida. A partir de agora, sereis vós que tereis que tratar de vós mesmos, já que vos julgais tão grandes e valentes». E assim Adão e Eva saíram do jardim.
Foi com tristeza que Deus viu partir Adão e Eva. Então, antes de eles partirem, movido de compaixão, Deus cobriu-os com umas peles para os agasalhar do frio. E disse-lhes ainda:
«É pena que não queirais ficar aqui comigo! Paciência! Fizestes a vossa própria escolha e agora tendes que aguentar as consequências. Mas Eu estarei sempre convosco, porque sou Deus, mesmo que vós vos não deis conta disso. De resto, vós sem Mim, afinal de contas, não podeis viver».
E, ainda antes de Adão e Eva deixarem o jardim, Deus disse-lhes:
«A escolha que fizestes está feita, mas nem por isso Eu vos vou deixar. Ainda hão-de vir tempos em tudo se comporá. E, quanto à serpente, o assunto também não fica assim. Há-de vir alguém que lhe esmagará a cabeça, até a destruir por completo».
Amigo ouvinte, esta é mais uma das histórias que corriam naqueles tempos e que ajudavam as pessoas a conversar sobre certos assuntos que eram importantes para a vida. Como, por exemplo, os que se relacionam com as perguntas fundamentais do homem. Perguntas como estas: Donde vim? Qual foi a minha origem? Que ando eu a fazer neste mundo? Para que serve a vida? E, depois desta vida, o que há? Estas e outras perguntas parecidas são as perguntas que nos seguem sempre e às quais temos que dar uma resposta.
Pois bem, mesmo hoje, os autores modernos também utilizam histórias e imagens para responder às perguntas mais importantes da vida. As pessoas não ligam muito a teorias. Preferem coisas mais simples que dão respostas mais directas. Se assim se faz mesmo na literatura actual, então por que não aceitar também que o autor ou autores do primeiro livro da Bíblia tenha feito o mesmo. E foi isso mesmo o que o autor ou autores da Bíblia quiseram fazer para responder às perguntas mais importantes da vida. E nada melhor que as histórias de que ele se aproveitou para os homens do seu tempo.