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Os reinos de Israel e de Judá tinham sido destruídos. E as suas capitais, Samaria e Jerusalém, tinham sido arrasadas. Os judeus viviam isolados e perseguidos no cativeiro da Babilónia. Não possuíam nada de seu. Nem sequer um lugar para reuniões ou um templo. Tinham apenas as suas recordações e as suas tradições.
E tinham também as suas histórias sobre Deus e sobre o aparecimento dos povos. Essas histórias passavam de geração em geração através da tradição oral. E era com agrado que contavam essas histórias, porque lhes transmitiam ânimo e coragem. Além do mais, contribuíam para conservar a sua identidade. Parecendo que não, pelo menos assim sempre se ia mantendo a esperança de que, um dia, as coisas poderiam mudar e eles poderiam regressar...
O ambiente, é certo, era de sofrimento e dispersão. Mas foi precisamente nessas circunstâncias que as pessoas começaram a perguntar-se qual era a finalidade da sua vida. Dum modo particular, começaram a quer saber não só como é que eles, povo de Deus, se tinham formado, mas também como é que tudo tinha começado. Como é que teria aparecido a terra e o mundo? Perguntavam-se também como é que as pessoas podiam ser tão más – como os babilónios, por exemplo – quando, afinal, Deus quer que sejam boas e façam o bem...
Os judeus tinham, pois, as suas tradições. Bem, às vezes, mais do que tradições propriamente ditas, eram histórias. Enfim, tinham histórias para explicar como é que tudo tinha aparecido. Tinham histórias para provar demonstrar que as pessoas se tratam mal umas às outras. Tinham histórias sobre como é que eles tinham começado a existir como povo. Pois bem, para as coisas não se perdessem para sempre, e com a ajuda de Ezequiel, algumas pessoas começaram a pensar que seria útil e conveniente pôr essas histórias por escrito para que se perpetuassem. Eu procurarei contar algumas dessas histórias em duas ou três conversas...
Uma das histórias que eles contavam no cativeiro da Babilónia era assim. No princípio, não havia nada. Só existia Deus. Tudo era escuridão e caos. Mesmo que houvesse luz, não havia ninguém para a ver; e também não havia coisas para ver. Não havia nem céu nem terra, nem nada. Então, um dia, em tempos imemoriais, Deus disse: «Está tudo muito escuro. É preciso que haja luz». Foi assim que Ele disse. E, como tudo o que Ele diz tem valor, então foi isso mesmo o que aconteceu. E a luz apareceu... Deus ficou contente e disse: «Quando for escuro, chamar-se-á “noite” e, quando estiver claro, chamar-se-á “dia”». E, de facto, assim aconteceu: escurecendo, fez-se noite e depois, ao clarear da manhã, já era de dia. E depois deste dia, veio outro dia e assim por diante...
«Agora» – disse Deus – «tem que haver algo para cobrir o que já há lá em baixo». E criou o mundo. Por cima dele, Deus com todo o cuidado uma espécie de grande tecto, redondo e azul, uma camada de ar e dentro dele as nuvens. Ao tecto Deus chamou céu. Depois, veio a noite e a manhã seguinte. Este era o segundo dia. Depois, Deus, olhando para a água, disse: «Toda esta água deve ficar junta e dela deve separar-se tudo o que for seco». E assim aconteceu. À parte seca Deus chamou terra e é a terra que nós conhecemos. E à água Deus chamou mar e é também o que nós conhecemos. E então Deus disse assim: «Está bem assim!». E continuou: «Agora falta qualquer coisa. Na terra devem crescer plantas». Deus tinha destinado a terra para isso mesmo. Então Ele disse: «Assim é que é bom!». E veio outra noite e outra manhã e assim passou-se o terceiro dia.
E Deus disse ainda: «Quero que o dia seja mais bonito ainda e a noite mais romântica e não tão escura. Vou fazer grandes lâmpadas para iluminar a terra. E Deus fez duas grandes fontes de luz para a terra: uma para o dia e outra para a noite. Uma era o sol e a outra era a lua. E depois fez todas as estrelas que são tantas que ninguém as pode contar. Quando o quadro ficou pronto, Deus deu uma espreitadela e viu que não era nada feio. E, pela primeira vez, a noite ficou mais clara e, no dia seguinte, todas as coisas muito mais bonitas. Este foi o quarto dia.
Mas Deus não parou por aí e então disse: «O mar não deve assustar ninguém. Ainda não há vida nele. Mas vai ser diferente a partir de agora. Vai haver lá muito peixe». E assim aconteceu realmente. E fez ainda animais para povoarem os ares, que eram os pássaros. E, quando Deus viu que todos tinham vida, disse: «Muito bem, está tudo muito bonito. E assim deve continuar a ser. Os animais devem viver e reproduzir-se». Este foi o quinto dia.
No mar havia peixes, no ar pássaros, na terra plantes e animais. Tudo era muito bonito. Mas Deus ainda não estava totalmente contente. E pensou: «Bem, chegou a vez de eu fazer o homem. Eu quero alguém que se pareça comigo e que tenha poder de decidir sobre as coisas. Alguém que tenha inteligência, vontade e sentimento». E Deus fez o homem. Quando Deus fez o homem, também quis que pudesse haver mais homens. Então fez homem e mulher. E Deus disse ao homem e à mulher: «Olhai bem para isto. Tudo é vosso. Fui Eu que fiz tudo, mas, de agora em diante, quero que vós tomeis conta de tudo. Mas lembrai-vos duma coisa: vós sois meus. Deveis, pois tomar conta de tudo como Eu quero». E veio a noite e clareou outra manhã. Era o sexto dia.
O céu e a terra estavam prontos. Na terra viviam os animais e os homens. No mar viviam os peixes. No ar e nas árvores viviam os pássaros. Deus olhou para tudo o que tinha feito e então, descansou. E esse dia ficou como o dia livre para os homens. E assim, como Deus descansou, também os homens deviam descansar um dia por semana.
Bom, amigo ouvinte, talvez alguém tenha estranhado esta forma de contar uma história que as pessoas aprenderam doutra maneira. Pois bem, no fundo devo dizer que não é assim tão diferente daquilo que aprendemos. Seja como for, o que interessa não é tanto a forma e a maneira como a gente conta as coisas. O que interessa é o conteúdo. E o conteúdo fundamental é simples e é o seguinte: tudo depende de Deus, independentemente das histórias e também das teorias que se utilizam para contar como aconteceram as primeiras coisas no mundo.
A este propósito, não julguem, por exemplo, os defensores de teorias como o evolucionismo que são capazes de explicar melhor as origens do mundo do que as histórias bíblicas. Talvez possa parecer um atrevimento da minha parte afirmar isto, mas estou convencido disso. Afinal o que são as teorias que há para explicar as origens do mundo? Não passam duma hipótese de trabalho, como se costuma dizer. Porventura a teoria do evolucionismo e a teoria do chamado «BigBang» explicam quem foi a origem do universo, de tudo o que existe? Não me parece. Pelos menos em termos absolutos. Até porque essas teorias explicam a explosão do mundo sempre a partir de alguma coisa. E isso, como me parece óbvio, não me parece explicação aceitável.