1. O DRAGÃO ENFURECIDO
 

 

   João, o apóstolo João, em sonhos, viu e interpretou um livro misterioso e comunicou o seu conteúdo aos cristãos que, na altura, sofriam perseguição. A primeira coisa que João viu em sonhos, depois de abrir o livro, foi um cavalo branco que vinha a galope. O cavalo lembrou-lhe reis poderosos que governavam países ricos e que moravam em palácios grandiosos. Na segunda página, viu um cavalo ruivo. E esse cavalou fez lembrar a João batalhas violentas, generais que se armam para manter o poder. Um cavalo daquela cor lembrava-lhe a guerra e o sangue...

 

   Na terceira página, João viu um cavalo preto. Vinha logo a seguir ao cavalo ruivo. E João, ao ver o cavalo preto, lembrou-se logo de tempos de carestia, quando não havia nada e o que havia era muito caro. O cavalo lembrava-lhe, portanto, a fome. E, na quarta página, João viu um cavalo muito feio, cinzento e magricelas. E dava-lhe a impressão que este cavalo tinha algo a ver com o cavalo anterior, porque lhe lembrava os tempos em que a fome é tão grande que muita gente morre por causa disso...

 

   Deixemos agora que seja o próprio João a contar: «Depois, na quinta página, vi pessoas que se tinham esforçado ao máximo durante a vida. No entanto, havia muita coisa que não tinha dado certo. Essas pessoas estavam assustadas por causa da guerra e da fome. Estavam assustadas por causa de tanta gente que continuava a matar. Mas há mais: ainda em sonhos, vi a sexta página. E vi que nessa página estava escrito o seguinte: vai haver um grande terramoto, a lua vai ficar vermelha, o sol vai escurecer, as estrelas vão desaparecer e até o próprio céu vai como que encolher...».

 

   «Mas isso não foi o pior que eu vi nessa página. O pior foi que todos os homens se exploravam uns aos outros e acabavam na miséria. Mas, de repente, entrevi o futuro. E era assim: esses homens que tinham explorado os outros, ficaram de tal maneira envergonhados que bem gostariam que a terra os engolisse, mas a terra não os engolia. E, por isso, tiveram que ficar ali para servir de espectáculo a toda a gente... Depois vi a sétima página, que era última. Foi nessa altura que, de repente, uma quantidade enorme de trombetas começou a tocar ao mesmo tempo. Ia, finalmente, acontecer o que Deus queria. Agora, ia ficar tudo bem. Era a música para festejar o novo tempo que começava. Estas coisas não se compreendem muito bem, mas vós, meus amigos, sabeis muito bem que tudo isso pode e vai acontecer».

 

   «De repente» – continua João – «mudou o cenário e eu vi de novo que ainda havia muito sofrimento. Sonhei que homens maus ainda reinavam no mundo. Mas também vi que Deus ia mudando tudo devagar... Então, nessa altura, compreendi que não importava que os maus continuassem por mais algum tempo a praticar o mal... desde que os homens honestos continuassem a ser bons e honestos...»

 

   «De repente, tudo o que era mau e horrível como que se corporizou numa espécie de dragão voador que incendiava casas e matava pessoas. Esse dragão perseguia sobretudo uma mulher que tentava fugir com o seu filho. Felizmente, essa mulher encontrou um esconderijo. E, nessa altura, saíram os soldados de Deus e atiraram com o dragão ao chão. Ele arrastou-se um bom pedaço pelo chão, deixando atrás de si a destruição. Quase que apanhava no seu rasto a mulher e o filho, mas a mulher conseguiu escapar graças a umas asas que os anjos de Deus lhe deram…»

 

   «Depois, no seu desespero, vi que a boca do dragão ficou enorme e que dela saía como que um rio de água. Era para agora a mulher e o seu filho, mas a terra abriu-se ao meio e engoliu a água do rio. Mas, mesmo assim, o dragão não deixou de fazer mal. Continuou a mover-se e a fazer destruição entre os filhos dos homens que eram amigos dessa mulher e do seu filho...».

 

   «Mas o meu sonho» – continua a dizer João – «infelizmente não acabou aí. De repente, vi sair do mar uma besta esquisita. Por um lado, vinha do mar, mas, por outro, parecia-se com um leopardo, mas tinha patas de urso e fauces de leão. Só sei que o dragão moribundo lhe transmitiu os seus poderes. E o mais grave é que muitas pessoas julgaram essa besta como uma espécie de deus. E muitos deixaram-se levar por esse novo culto. E essas pessoas vinham de toda a parte...».

 

   «Depois, no sonho, tornou a passar diante de mim o tal livro do princípio, mas não vi os nomes dessas pessoas lá. Mas o livro desapareceu depressa. E então eu vi uma outra besta, que não vinha do mar, mas da terra. Tinha dois grandes chifres. O ruído que fazia parecia-se com o do dragão. Pelo aspecto e pela forma como as pessoas a receberam, fiquei com a impressão que esta nova besta ainda iria dominar tudo e todos os homens...». Mas o sonho de João ainda não terminou. Ele continua a contar: «Finalmente, tornei a ver o cordeiro. Mas, desta vez, era um cordeiro bem nutrido. De vez em quando, parecia-me mais um homem que um cordeiro. E vi que atrás desse cordeiro que me parecia homem ia uma grande multidão que se dirigia até ao trono de Deus...».

 

   «Depois, vi um anjo a voar em todas as direcções e a dizer a toda a gente: “Temei a Deus e dai-lhe glória, porque chegou o tempo do seu julgamento!”. Logo a seguir, vi outros anjos. Estes iam dizendo o que iria a acontecer a cada um dos monstros e bestas que eu tinha visto antes. Finalmente, apareceu um homem montado num cavalo branco. Parecia cansado. Havia algo de estranho nele: por um lado, tinha a roupa rasgada; e, por outro, estava vestido com uma veste mais brilhante que o próprio sol. E, de repente, vi que esse homem era igual ao Jesus que tinha vivido entre os homens...».

 

   «Esse homem montado num cavalo branco continuava ao lado dos homens e atrás dele vinham todos os soldados de Deus. Tinham lutado contra o dragão e as bestas do mal. E tinham vencido. E nada tinha sobrado nem do dragão nem das bestas. Os homens estavam finalmente livres. Pois bem, meus amigos – dizia João – agora Jesus é rei, mas um rei diferente de todos os outros reis e imperadores que tinham governado antes dele».

 

   «Depois disso, vi muitos tronos. Àqueles que se sentaram neles foi dado o poder de julgar. Vi ainda as almas do que foram decapitados por terem dado testemunho de Jesus e por terem acreditado na Palavra de Deus. E vi também todos aqueles que não adoraram a Besta e a sua imagem. Era uma multidão que ninguém podia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas».

 

   «Estavam diante do trono em que, às vezes, eu via um ancião de barbas brancas e outras um Cordeiro que por vezes me parecia que estava vestido com um longa veste branca. Depois disso, vi um outro grande trono branco e também Aquele que estava sentado nele. Não sei explicar, mas, nessa altura, o céu e a terra como que fugiam da sua presença. Vi muita gente, mas pareceu-me que tudo o resto desaparecia: a terra, o mar, o céu, enfim tudo. Era como se tudo parasse no ar».