1. ENTRE CORINTO E ÉFESO
 

 

As cidades de Corinto e Éfeso eram cidades especiais. O que fosse, não se sabe ao certo. Mas a verdade é que Paulo ficou com saudades de ter lá passado algum tempo. E isto, apesar de saber perfeitamente que se tratava de cidades onde havia muita miséria: tanto material como moral. E, por isso, sabia que os cristãos estavam expostos aos maiores perigos morais. De resto, o tempo que tinha passado com eles tinha-lhe dado oportunidade de constatar isso mesmo...

 

Os cristãos de Corinto e Éfeso precisavam de ouvir de vez em quando algumas sugestões e até críticas para aprenderem a ser autênticos seguidores de Jesus. O tempo que Paulo tinha à disposição não era muito e, por isso, quase nunca podia voltar a passar pelos mesmos lugares. Mas a Corinto e Éfeso foi pelo menos mais uma vez. Seja como for, para obviar à dificuldade de ir aos lugares, lembrou-se de escrever mensagens, também chamadas cartas, por alguém que passasse por lá. Foi assim que ele começou a escrever as suas famosas cartas.

 

Na sua Segunda viagem a Corinto, como sempre, Paulo notou muito movimento; sobretudo perto do porto. Era um lugar onde havia sempre muita gente: marinheiros, gente do circo que apresentava os seus números ali mesmo no meio da rua. E havia também toda a espécie de gente que procurava fazer pela vida, como se costuma dizer; e isto sem olhar muito a meios...

 

Paulo já tinha notado todos esses problemas da primeira vez que tinha estado em Corinto. Mas muito mais desta segunda vez. Havia por ali muita gente que o que queria era divertir-se. Aquele espectáculo de mulheres à espera de clientela era já uma praga também ali em Corinto. Afinal de contas (pensava muita gente), as pessoas tinham o direito de adoçar as agruras da vida. Custava tanto ganhar a vida que, de vez em quando, as pessoas julgavam-se no direito de fazer algo de especial. Paulo, que não era cego nenhum, bem via esses encontros que, de resto, eram combinados à luz do dia.

 

Claro que Paulo não podia andar pelas ruas de Corinto a berrar contra essa pouca vergonha, porque ninguém estava a fazer nada de ilegal. De resto, ele não tinha autoridade civil para resolver esses problemas. Mas um dia teve a oportunidade de se referir a esse assunto, depois duma reunião em casa de alguns amigos. Estavam lá no fundo da sempre dois jovens de mãos dadas. O rapaz parecia inteligente e a moça um tanto exagerada na pintura e nos trejeitos. E Paulo foi bastante directo. Aliás, como era seu timbre, porque não andava de facto com rodeios: «Sabeis como é que se tratam os homens e as mulheres lá no porto?! Mal. Pois bem, eu acho que não deve acontecer assim convosco...».

 

Todos olharam para Paulo e para os jovens. Paulo prosseguiu: «Vós – aliás, nós todos – somos cristãos. Jesus quer que sejamos livres e isso é verdade. Mas nós temos obrigação de compreender muito bem que liberdade não quer dizer libertinagem. Eu entendo que haja muita gente que não pensa assim, mas a nossa maneira de ver as coisas deve ser diferente. Por isso, quando um rapaz acha que a sua namorada tem que ceder aos seus caprichos, então essa moça é sua escrava e não namorada, entenderam?»... O rapaz, meio envergonhado, acenou logo que sim com a cabeça. «Pois bem!» – concluiu Paulo – «era isto que eu andava há muito tempo para vos dizer. Agora, que já o disse, estou mais descansado!».

 

Paulo continuou a falar desse assunto e de outros durante mais algum tempo na mesma zona da cidade. Depois, teve que se deslocar a outros sítios. Por outro lado, ele não queria ir para Jerusalém sem passar por Éfeso. E foi precisamente o que fez. Entretanto, antes de Paulo partir para Jerusalém, chegou à cidade um jovem chamado Apolo, que era natural de Alexandria. Esse jovem era um homem eloquente e, além disso, sabia muito de Bíblia. E mais: era um homem todo cheio de fervor. E, desde que se convertera à doutrina de Jesus, pregava e ensinava com precisão tudo quanto se relacionava coma vida de Jesus.

 

Áquila e Priscila já conheciam esse jovem, até porque não era a primeira vez que ele vinha a Éfeso. Era com uma energia e uma eloquência fora do comum que falava; de maneira que os judeus não eram capazes de resistir aos seus argumentos. Discutia com eles publicamente e demonstrava, com a Bíblia na mão, que Jesus era precisamente o Messias prometidos que eles esperavam.

 

Apesar das suas capacidades, a verdade é que Apolo era só meio cristão, digamos assim, porque tinha recebido só o baptismo dum grupo de pessoas que tinham ainda João Baptista como seu líder. Um dia, Paulo, encontrando-se com algumas dessas pessoas, perguntou-lhes: «Recebestes o Espírito Santo quando abraçastes a fé?». Sabiam tudo às mil maravilhas, mas, quando Paulo lhes fez esta pergunta, responderam simplesmente: «Espírito Santo?! Mas nós nem sequer ouvimos dizer que existe o Espírito Santo!». Paulo concluiu, portanto, que eles tinham recebido apenas o baptismo de João Baptista, o que não era suficiente. Por isso, começou a instruí-los sobre esse assunto e finalmente eles foram baptizados no nome de Jesus.

 

Em Éfeso, Paulo ia à sinagoga, como costumava fazer onde quer que estivesse. E isso durou cerca de três meses. Falava sem qualquer respeito humano e argumentava de tal maneira que muitos dos seus ouvintes se convenciam de facto do que ele dizia. No entanto, nem todos aceitavam o que ele dizia...

 

Numa dessas ocasiões, apareceu inclusivamente um grupo de pessoas que começou a fazer propaganda contra ele e contra a nova religião que ele pregava. Eram pessoas que o tinham escutado durante bastante tempo e depois, por sua vez, procuravam dissuadir a multidão do que Paulo dizia. E a coisa ficou tão feia que Paulo teve que tomar uma decisão drástica: afastá-los do grupo. Depois, com os que lhe eram fiéis, foi arrendar uma casa grande, a casa de Tirano, onde ensinava as pessoas diariamente.

 

Depois dessa decisão, as coisas compuseram-se um pouco. E então Paulo, achou que se devia demorar por ali ainda algum tempo. E, por sinal, há que dizer que não foi assim tão pouco tempo. Éfeso era uma linda e bela cidade. Foram cerca de dois anos ali, de maneira que todos (tanto judeus como gregos) tiveram a oportunidade de ouvir a palavra do Senhor...

 

É verdade que, antes de ele ter estado em Éfeso, já ali havia comunidades de cristãos, mas era uma cidade difícil. Seja como for, felizmente, Paulo conseguiu formar alguns colaboradores valiosos, antes de partir. Dignos de menção foram Timóteo, Erasmo e Tito. Por outro lado, aconteciam coisas extraordinárias, porque o Senhor Jesus fazia curas e coisas prodigiosas por intermédio de Paulo. E assim Paulo pôde finalmente deixar a cidade tranquilamente. De resto, não podia adiar por muito mais tempo o seu regresso a Jerusalém.