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Paulo estava em Atenas só de passagem. A sua meta era Corinto. Corinto era uma cidade muito diferente de Atenas. Não era nem de longe tão famosa e tão bela. Claro que os seus habitantes gostavam dela mais do que de Atenas, porque era a cidade onde eles tinham a sua vida. O facto, porém, de não ter tão importante como Atenas, não quer dizer que não fosse importante. E até era muito importante economicamente falando. Era por aí que passavam todas as mercadorias vindas do Oriente. Era por lá que passavam as embarcações que seguiam para Roma e para todo o Ocidente de então.
Corinto era, de facto, um porto muito movimentado. Por lá formigava uma multidão de gente de todas as proveniências e raças. Havia lá muita riqueza. E, como é natural, havia também muita miséria: miséria material e moral. Mas era gente que trabalhava no duro. E isso não era nada de estranho a Paulo. Apesar de ter estudado em Jerusalém, Paulo nunca deixara de exercer a profissão que já tinha com o pai. Como o seu pai, Paulo era fabricante de tendas...
Em Corinto, Paulo encontrou um compatriota judeu. Chamava-se Áquila e estava casado com uma senhora chamada Priscila. Como Paulo, que era natural de Tarso, também Áquila era um judeu nascido fora da Palestina. Tinha nascido no Ponto, que ficava perto do Mar Morto, na actual Turquia. Tinha chegado a Corinto há pouco tempo, vindo da Itália juntamente com a esposa. A isso tinha sido obrigado por um édito do imperador romano Cláudio, segundo o qual todos os judeus tinham que abandonar Roma. Pois bem, Áquila era fabricante de cobertores. Com uma profissão parecida, Paulo e Áquila resolveram abrir uma loja juntos.
Aos sábados, iam os dois à sinagoga. Paulo falava e dissertava sobre Jesus, tentando convencer tanto os judeus como os gregos. E durante a semana, Paulo trabalhava, ao mesmo tempo que ia metendo conversa com os trabalhadores do porto, com os construtores de navios e com os vendedores nos mercados. Enfim, aproveitava todas as oportunidades que se lhe ofereciam para contar tudo que se relacionava com a história de Jesus...
Com o tempo, Paulo foi fazendo amigos. E assim se iam juntando algumas pessoas, de maneira que já formavam grupos razoáveis. Era gente de todos os níveis sociais: marinheiros, trabalhadores do porto, um turco que tinha fugido do seu país e até o presidente duma sinagoga, um tal Crispo e toda a sua família. Num dos grupos, havia também um velhinho magro e entrevado, alguns mendigos e, por incrível que pareça, também uns comerciantes endinheirados e os donos de alguns estaleiros da cidade...
Um dos que aceitaram a sua mensagem e se fizeram cristãos era um sujeito chamado Tito Justo, que tinha posses razoáveis. Era grego e costumava frequentar a sinagoga. Como bom grego, era curioso e gostava de novidades. E era por isso também que aparecia com frequência. Morava num grande casarão, mesmo ali ao pé da sinagoga. E era em casa dele que se costumava reunir a comunidade que se tinha formado à volta de Paulo. A comunidade era constituída por gente rica e pobre e até por gente que nem sequer sabia estar sentada à mesa... A opinião de Paulo acerca desse assunto, ou seja, acerca do facto de as pessoas se misturarem assim umas com as outras, era muito clara: «Se levarmos as palavras de Jesus realmente a sério, então devemos viver em conformidade com essas mesmas palavras». E, para que todos entendessem melhor o que ele queria dizer, fez a todos a seguinte sugestão: «Vamos comer sempre juntos; assim como Jesus fazia com os seus amigos. Então teremos oportunidade de conversar com calma!». A maioria dos presentes achou a ideia óptima. E assim começaram a fazer.
Certo dia, Paulo atrasou-se para o jantar. À última da hora, teve que consertar uma tenda. Tinha que a entregar imediatamente, porque o dono lho tinha pedido. Quando chegou finalmente a casa de Tito, ficou todo furioso com a cena com que deparou. À mesa, estavam sentados alguns dos ricos comerciantes e dos donos dos estaleiros. Bebiam, cantavam e estavam animadíssimos. Mas nisso não havia grande mal. O que o surpreendeu foi o facto de eles estarem a ser servidos pelo velhinho entrevado. E também pelo facto de os outros (marinheiros, mulheres, desempregados e mendigos) estarem sentados à parte, meio assustados e envergonhados...
Então, ao entrar, Paulo levantou logo a voz: «Mas o que é isto?» «Finalmente, chegou Paulo!» – alegou-se o mais gordo deles todos – «Venha, venha, sente-se aqui com a gente!». Paulo então rebentou mesmo: «Então vós não tendes as vossas próprias casas para encherdes a barriga? Aqui não quero disto. Vós achais que isto é uma refeição como Jesus gostaria de ver? Alguns a encher a barriga à custa dos outros? Então não sois capazes de repartir? E quem é que vos ensinou a fazer discriminações? Jesus foi um homem que deu a sai vida pelos outros. E vós?»...
Tito ficou envergonhado. Paulo tinha razão. Ele bem procurou explicar-se, mas, claro, era explicação só para acalmar Paulo. E isso foi realmente o que aconteceu. Por fim, já mais calmo, Paulo disse a todos: «Na próxima vez, não há distinções. Vós, os que sabeis mais e tendes mais dinheiro, para aprender, ireis servir os outros, os que ficaram hoje de lado. Na próxima, eles serão os hóspedes de honra». Talvez tenha custado aos que não estavam habituados senão a ser servidos, mas foi realmente o que aconteceu.
Paulo demorou-se em Corinto um ano e meio. As coisas correram-lhe bastante bem. Mas, como é natural, nem tudo eram rosas. Muitos dos judeus que lá viviam eram tradicionalistas e, por isso, não concordavam que Paulo e os cristãos fizessem coisas que não estavam de acordo com a tradição judaica. E, à semelhança do que fizeram com Jesus e com os outros apóstolos, também aqui andavam a ver se arranjavam motivos para poderem acusar Paulo...
E tanto fizeram que um dia arranjaram mesmo testemunhas para o acusarem ao governador romano Galião, dizendo que induzia as pessoas a prestarem culto a um Deus que era contrário à lei deles. Galião não ligava nenhuma às coisas e às tradições judaicas e, de resto, não via nisso nenhum mal. Por isso, limitou-se a responder-lhes que Paulo, ou qualquer outro dos seus amigos, não tinham cometido nenhum crime e, portanto, não havia razão para proceder contra eles.
Depois de um ano e meio, Paulo despediu-se dos irmãos e embarcou para a Síria. Acompanharam-no Áquila e Priscila. Fizeram escala em Éfeso e aí Paulo fez como fazia em todos os lugares onde ficava: foi à sinagoga falar sobre Jesus. Os judeus que viviam lá receberam-no bem e queriam que ele ficasse lá. Mas não podia. Seguiu, pois, para Antioquia, antes de regressar a Jerusalém para se encontrar com os Apóstolos.