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Paulo e Barnabé ficaram bastante tempo em Antioquia. Mas, depois, decidiram percorrer outras localidades. Em Antioquia já tinham sido organizados vários grupos de cristãos capazes de tratar de si mesmos. A primeira paragem de Paulo e Barnabé foi na Ilha de Chipre. Apesar de objectivamente a distância não ser muito grande, no entanto, não faltaram peripécias. Viagens dessas, nesse tempo, eram complicadas e envolviam sempre muitos riscos.
Depois de desembarcarem foram até à cidade de Pafos, que ficava à beira-mar. Nesse tempo, essa cidade era porventura o centro populacional mais habitado. Era, enfim, uma espécie de capital da Ilha de Chipre. Era aí que morava um homem de quem Paulo já tinha ouvido falar. Tratava-se dum romano chamado Sérgio Paulo, que, por acaso, era até comandante e governador da Ilha que estava sob o domínio dos romanos...
Sérgio Paulo era um homem fino e culto. Além disso, era uma pessoa de boa índole e muito aberto a toda a gente, mesmo aos não romanos. Costumava convidar para sua casa escritores, poetas, sábios e homens religiosos para conversar e para discutir com eles. E, quando chegou ao seu conhecimento que tinham acabado de chegar à Ilha alguns adeptos do novo profeta Jesus, Sérgio Paulo mandou chamá-los logo. O comandante romano já tinha ouvido falar de Jesus e também de alguns amigos dele que, indo de Jerusalém a Roma, faziam escala por Chipre.
Sérgio Paulo tinha ficado com uma certa curiosidade por causa dessas visitas. A nova religião parecia-lhe uma coisa estranha, mas, ao mesmo tempo, achava-a extraordinária. Andava, pois, já há algum tempo desejo de ter conhecimento mais directo das coisas. E agora, que estava na cidade alguém que se dizia era uma das pessoas mais cultas e que vinha com a missão de falar desse Jesus, achou que lhe convinha aproveitar a ocasião. O assunto estava a despertar nele cada vez mais atenção.
Paulo e Barnabé foram então convidados a irem a casa do governador Sérgio Paulo. Por acaso, nesse dia, também lá estava um sujeito chamado Elimas que era assim uma espécie de conselheiro do governador. E então, mal viu entrar Paulo e Barnabé, teve logo o cuidado de avisar o governador. Apontando para os dois recém-chegados, com uma vez trémula que denotava uma certa raiva, disse: «Governador, estes homens cheiram a falsidade, mentira e trapaças. Tenho cá um pressentimento que não vieram com boas intenções...».
Paulo e Barnabé ficaram admirados com aquela recepção. E então Paulo perguntou a Sérgio Paulo: «Quem é este homem?». Sérgio respondeu-lhe: «O nome dele é Elimas. E sabe invocar forças ocultas. Dizem que ele é capaz de transformar, por exemplo, pedras como estas, assim grandes, em pão. Olhem, silêncio, que ele vai começar a sua exibição». Paulo pensou de si para consigo: «Bem, sempre quero ver em que é que isto tudo vai dar!». E sentou-se.
Elimas começou o espectáculo. Vestia um manto bem largo, de mangas compridas. Colocou então sete pedras ao redor do cesto que tinha perto de si e deu sete voltas, recitando palavras indecifráveis e fazendo gestos estranhos. Depois, colocou todas as pedras, uma por uma, dentro do cesto e ajoelhou-se em frente do cesto. A seguir, fechou os olhos em sinal de concentração e depois murmurou, de forma que todos ouvissem e percebessem: «Destas pedras farei pão. Ó Deus grande e santo, ajudai-me a fazer este milagre!». As pessoas estavam à espera do milagre...
Elimas era um judeu que fazia magia e ganhava a vida enganando os outros. E aí estava ele, nesse momento, a multiplicar as palavras, para ver se distraía os presentes. A um dado momento, Paulo saltou do lugar onde estava sentado e berrou para ele: «Pára com isso, homem! O que tu tens é ronha e astúcia. Mas vergonha não tens nenhuma. Filho do diabo, inimigo da justiça, quando é que deixarás de afastar as pessoas de bom coração dos caminhos rectos? Não, Deus não se presta a brincadeiras dessas. Deus não colabora com esses teus truques baratos!». E pegou no homem pelos ombros e sacudiu-o de alto abaixo com quanta força tinha...
Foi então que, para surpresa de todos os presentes, lhe caíram das mangas largas vários pães. Obviamente, para enganar as pessoas, tinha-os escondido nas mangas. Perante isto, o nosso homem tratou de se safar dali o mais depressa possível. Sérgio Paulo, romano de gema, que gostava de ver a razão das coisas, até achou graça àquilo tudo. E, voltando-se para Paulo, disse-lhe, batendo-lhe no ombro: «Sim, senhor, esta foi boa! Já agora, eu gostaria que vocês me mostrásseis o que sabeis fazer». Paulo respondeu-lhe: «nós não viemos para aqui para isso. Não sabemos fazer truques de magia. O lhe podemos contar é o que Jesus disse e fez. Mas nada. De resto, é esta a única maneira que nós sabemos de ajudar as pessoas»...
Sérgio respondeu logo a Paulo: «O que eu disse foi só para conversar. Agora, o que a mim me interessa realmente é saber o que disse esse Jesus. Vós pareceis-me absolutamente convencidos. E isso deixa-me intrigado. Eu gostaria de saber mais alguma coisa sobre essa figura. Pela experiência que tenho e pelo que conheço, sei perfeitamente que há judeus muito inteligentes. Ora, se muitos de vós dizem que esse Jesus era realmente Filho de Deus, é porque aí há de facto algo de especial. Como hei-de dizer? Gente que não estivesse convencida disso, não andaria para aí a dizer em toda a parte que um crucificado é Filho de Deus...».
E Sérgio Paulo continuou: «A mim isso é que me causa admiração. Eu acho que não é natural que alguém venha dizer que um crucificado é Filho de Deus. E, por outro lado, verifico que há cada vez mais gente que acredita nesse facto. Pelo que sei, há já centenas e milhares de pessoas de pessoas que defendem isso. Ora, para mim, isso quer dizer que algo deve estar por trás. Humanamente falando, isso não tem explicação possível. O que me causa curiosidade é que um condenado à morte possa ser considerado Deus».
Sérgio, o comandante romano, era um homem culto e inteligente. Por seu lado, nem Paulo nem Barnabé eram trouxas, passe a expressão. Entendiam-se bem e, por isso, ficaram a falar sobre essas coisas pela noite fora. Sérgio fazia perguntas e mais perguntas. E tanto Paulo como Barnabé, mas sobretudo Paulo, respondiam com reflexões e factos sobre a vida de Jesus. E falavam sobretudo do que estava a acontecer dum modo particular desde que os amigos de Jesus tinham recebido a força de Deus...
Paulo ficou contente com a receptividade de Sérgio. Era a primeira vez que um romano percebia bem estas coisas. E, a partir desse momento, ficaram amigos. E ficaram tão amigos que, mesmo ali, em casa de Sérgio, Paulo decidiu que, para ser mais eficaz a sua acção junto dos cidadãos romanos, era conveniente ficar. Com o tempo, o comandante romano converteu-se à nova doutrina e foi um dos grandes animadores das comunidades dos amigos de Jesus entre os concidadãos.