1. ENCONTRO COM UM ETÍOPOE
 

 

Os amigos de Jesus ou apóstolos bem depressa começaram a ser alvo de perseguição. Cumpria-se assim o que o Mestre lhes tinha dito: «Se a mim me perseguiram, também vos hão-de perseguir a vós». Como consequência da perseguição, começaram a ver-se obrigados a dispersar para fora de Jerusalém. E isso era mais evidente em relação aos chefes ou apóstolos, como é natural nestas coisas...

 

Um dos apóstolos que teve que abandonar Jerusalém foi Filipe. Mas isso não o preocupava grandemente, porque o Mestre também lhes tinha dito: «Não fiqueis só em Jerusalém, mas ide também por toda a parte». Filipe pôs-se, pois, a caminho rumo a uma pequena cidade da região da Samaria. Era uma cidade que ficava a Noroeste de Jerusalém e não muito longe da costa mediterrânea. Seguia por uma estrada por onde passavam com muita frequência caravanas de negociantes e estrangeiros...

 

Filipe seguiu precisamente por uma dessas estradas importantes de comércio. Não lhe foi difícil, portanto, encontrar-se com caravanas pelo caminho. Uma delas parecia ser constituída por gente fina, porque as carruagens estavam todas enfeitadas com mantas elegantes e cortinas de veludo. E, com efeito, numa das carruagens, ia bem refastelado o chefe da caravana. Quando Filipe se aproximou, esse estrangeiro estava entretido na leitura dum livro.

 

Filipe não demorou muito a meter conversa. Tratava-se, afinal, do funcionário mais importante duma rica senhora dum país distante, a Etiópia. A senhora tinha enviado esse seu mensageiro a Jerusalém porque queria conhecer melhor os livros antigos e misteriosos de Israel. De resto, ela tinha ouvido dizer que até uma das rainhas do seu país antigamente tinha ido a Jerusalém para se encontrar com o rei mais sábio de sempre. Também ela queria saber coisas sobre esse povo distante.

 

O seu embaixador, digamos assim, tinha conseguido alguns desses livros. Agora, pelo caminho, de regresso ao seu país, devorava tudo. Não queria chegar lá e não saber do que é que os livros tratavam. Filipe ouviu-o ler distintamente: «Deus prometeu que todos os homens de todas as nações, mesmo os povos que não pertencem a Israel, serão ajudados por ele. Deus vai mandar um seu mensageiro. As pessoas, porém, irão assassiná-lo...»...

 

Nesta altura, Filipe interrompeu a leitura e perguntou ao homem: «O senhor percebe realmente o que está a ler?». «Bem, para ser sincero» – respondeu-lhe o etíope – «não entendo lá muito bem. O que é que poderia entender, se se trata de coisas tão misteriosas?! Não poderia, por acaso, explicar-me este trecho? Olhe, faça o seguinte: suba para a carruagem e a gente pode conversar mais à vontade». Filipe não esperou que o etíope o convidasse mais uma vez...

 

A leitura prosseguiu e então Filipe começou a explicar-lhe as coisas: «Pois é! O Senhor também é daqueles que ainda não pertencem ao povo de Deus. Mas isso não tem importância. O que deve saber é que realmente Deus ajuda todas as pessoas de boa vontade, todas as pessoas bem-intencionadas». «Era nisso que eu ia pensando também. Mas, olhe, aqui fala-se também de “servo”. Quem é, afinal, esse servo que Deus mandou?». «Bem» – respondeu Filipe – «Isso posso explicar-lho eu. O servo que Deus mandou é Jesus que os nossos judeus mataram. Só que se enganaram. Ele, depois de três dias, estava novamente vivo e continua vivo»...

 

Filipe, durante a viagem, que era longa, contou ao etíope tudo o que sabia de Jesus. E não era pouco. Contou-lhe também que Jesus queria que todos pertencessem a Deus. Contou-lhe também que, desde que Jesus ressuscitara, cada vez mais gente se juntava ao grupo dos que tinham vivido com ele durante três anos. A única coisa que era preciso era acreditar que Jesus era realmente o enviado de Deus e que estava vivo. Disse-lhe também que havia uma cerimónia pela qual as pessoas ficavam a pertencer ao grupo das pessoas de Jesus de Nazaré...

 

A cerimónia era a do baptismo em nome de Jesus. O etíope procurou que Filipe lhe explicasse essas coisas. Entretanto, a caravana chegou a um lugar onde havia um riacho por onde tinham que passar. Então o etíope encheu-se de coragem e disse a Filipe: «Oiça! Eu acho que entendi o que o senhor acabou de me explicar. Não sei, sinto cá dentro qualquer coisa. É uma espécie de voz que me diz que esse Jesus é realmente o Messias. Não poderia também eu fazer parte desse grupo? E, já agora, aqui há água. Não poderia baptizar-me aqui mesmo?».

 

Logo de seguida, os dois dirigiram-se à corrente de água e aí Filipe baptizou o etíope. O homem, depois dessa cerimónia, não parecia o mesmo. Voltou feliz para a sua carruagem. Quando se voltou para agradecer a Filipe, já este tinha desaparecido dali. Tinha cumprido o seu dever e agora dirigia-se para outro lugar. Já ia a caminho doutra cidade. O etíope não teve outro remédio senão prosseguir sem Filipe.

 

Filipe foi mais para Nordeste, para a cidade de Cesareia, mandada construir por César Augusto e que fica mesmo perto do mar. Aí ele começou a evangelizar. Algum tempo depois, os outros apóstolos tiveram conhecimento de que, na Samaria, muitas pessoas acreditavam em Jesus e se baptizavam. Ficou então resolvido que Pedro e João se deslocassem até lá para confirmar na fé os que tinham recebido o baptismo.

 

Pedro e João demoraram-se em Cesareia bastante tempo. Aí ensinaram as pessoas e rezaram para que o Espírito Santo viesse sobre elas. E a verdade é que as pessoas se começaram a entusiasmar cada vez mais. E os apóstolos faziam coisas prodigiosas. Tanto que houve até um sujeito chamado Simão que, sendo conhecedor de artes mágicas, quis aprender os novos truques que, segundo ele, os apóstolos faziam. Então procurou suborná-los para que rezassem para que ele recebesse também o Espírito...

 

Perante uma proposta do género, Pedro não esteve com meias medidas e respondeu-lhe: «Vá o dinheiro contigo para a perdição! Então julgas que os dons de Deus se compram com dinheiro? Se não mudares de mentalidade, bem acabas tu e o teu dinheiro na desgraça, porque o teu coração não é recto diante de Deus!». Claro que esse tal Simão não recebeu coisíssima nenhuma, porque não tinha as devidas disposições. Simão Pedro e João passaram ainda bastante tempo na Samaria e particularmente em Cesareia. Contavam a história de Jesus por vilas e aldeias e explicavam como é que os livros antigos, sobretudo os profetas, se referiam a Jesus. O Messias realmente tinha vindo e continuava vivo. Sinal disso eram as coisas extraordinárias que os apóstolos e os que eram baptizados podiam fazer em nome de Jesus.