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Simão Pedro e João estavam ainda a falar com as pessoas no templo de Jerusalém. Vendo que se juntava cada vez mais gente, os guardas aproximaram-se para ver do que se tratava: «Que é que aconteceu?». E todos começaram a falar ao mesmo tempo. Todos começaram a contar o que tinha acontecido à porta do templo. Gerou-se uma confusão enorme. Ninguém entendia nada do que estava a dizer...
Por fim, depois de terem imposto um pouco de ordem, os guardas lá conseguiram perceber o essencial: que havia um mendigo sempre à porta; e que tinha sido curado por aquele sujeito ali (e apontavam para Pedro). «Ele fez isso em nome de Jesus de Nazaré!» – acrescentou logo outro – «E foram vocês do templo que mandaram matar esse homem!». Os guardas ficaram assustados com tanta gente junta. Foram então falar com um sujeito qualquer que veio acompanhado por mais guardas. Ao ver que Pedro e João estavam a falar ao povo da pessoa de Jesus e que tinha ressuscitado, esse chefe do templo ficou todo irritado. Então disse com voz de poucos amigos a Pedro e João: «Acompanhem-nos até ao chefe dos sacerdotes!»...
Os presentes começaram a protestar. Mas os guardas não estiveram com cerimónias. Deitaram as mãos a Pedro e João e trancaram-nos na sela duma prisão durante toda a noite, pois já era tarde e o chefe dos sacerdotes já não os podia receber.. No dia seguinte, reuniram-se os sacerdotes e autoridades da cidade. Perguntaram então a Simão Pedro: «Como é que foi que curou esse homem? Como é que conseguiu fazer isso? explique-nos!». E todos olharam com olhos ameaçadores para ele. Mas Simão Pedro não se atrapalhou. Aliás, dava mesmo a impressão que ele estava mais à vontade que os sacerdotes que remexiam inquietos nas suas roupas e nas suas togas...
Simão Pedro olhou para um lado e para outro e depois começou com toda a solenidade: «Chefes do povo e autoridades! Já que somos interrogados sobre o bem que fizemos a um doente e sobre a maneira como ele foi curado, fiquem a saber todos: foi em nome de Jesus de Nazaré, que foi mandado crucificar por vós e que Deus ressuscitou dos mortos. É por ele que este homem está curado. Os senhores julgam que Jesus está morto, mas uma coisa é certa: a história não acabou aí. Antes pelo contrário, agora é que tudo está a começar, porque esse Jesus está vivo. E digo-vos mais: não há salvação senão nele, pois não há mais ninguém a quem Deus tenha dado o poder de salvar!».
Ao verem o assombro de Pedro e de João e sabendo, além disso, que eles eram plebeus e iletrados, os chefes do povo e as autoridades religiosas ficaram espantados. «Espera aí!» – interrompeu um dos sacerdotes do templo, dirigindo-se aos outros membros do conselho – «Mas estes dois não eram discípulos desse tal Jesus?». «Pois fomos! É isso mesmo!» – confirmou Pedro imediatamente.
Aquela frontalidade de Pedro e João deixaram os sacerdotes e as autoridades completamente assombrados. Como é que aqueles sujeitos se atreviam a falar assim com as autoridades? E o chefe dos sacerdotes já ia a explodir de raiva quando um dos seus colegas mais velhos o acalmou, murmurando-lhe ao ouvido: «Calma! Não podemos perder o controlo. O mendigo que era paralítico está aí como prova. Se não tivermos cuidado, ele vai por aí fora contar tudo o que nós fizermos e, depois, quem fica mal somos nós. Não vale a pena levantar ondas!».
Os sacerdotes começaram a cochichar entre si. Via-se que estavam pouco à vontade. Não sabiam o que deviam fazer naquele caso. O mendigo e os apóstolos Pedro e João estavam à espera duma decisão. O mendigo então não entendia mesmo nada. Não percebia o motivo daquela agitação toda. Mas Simão Pedro acalmou-o dizendo: «Calma, homem! Vais ver que tudo se compõe!»...
A assembleia dos sacerdotes e as autoridades não podiam negar a cura que se tinha realizado naquele coxo. Impor um castigo a Simão Pedro e João seria uma atitude irracional. Mas também viam que não era bom que a notícia se espalhasse entre o povo. Iam, portanto, deixá-los ir com uma condição: que, de ora em diante, não falassem mais desse Jesus de Nazaré. Por isso, o chefe dos sacerdotes, dirigindo-se a Simão Pedro, disse-lhe: «Não se pode encher a cabeça das pessoas com mais coisas deste género! Ide embora e não faleis mais de Jesus!».
Mas Pedro é que não esteve pelos ajustes: «Então dizei-me vós: é justo obedecer-vos a vós ou obedecer a Deus? Nós não podemos deixar de falar de Jesus, porque essa é uma obrigação que sentimos em consciência.». O chefe dos sacerdotes quase estoirou de raiva, mas não pôde detê-los por mais tempo. Eles, afinal, não tinham feito nada contra a Lei. E então, rangendo os dentes de raiva, soltou-os ali mesmo.
Quando Simão Pedro e João voltaram a casa, foram recebidos em festa. A notícia já se tinha espalhado e estava a zona toda cheia de gente. E eles tiveram que contar a história toda tintim por tintim. Todos davam glória a Deus. E, a partir desse facto, muitos quiseram juntar-se aos amigos de Jesus. E, com efeito, muitos dos que ouviram Pedro abraçaram a fé. E o número dos crentes, contando apenas os homens, elevou-se a cerca de cinco mil.
Depois disso, reuniram-se todos numa casa grande para agradecer a Deus o facto de Pedro e João terem sido capazes de estar à altura da situação. Na altura, João disse a todos: «Meus amigos, Simão Pedro tem razão. Não podemos ficar aqui parados. Temos que esquecer o medo. Temos que nos encher de coragem e continuar a contar a todos o que aconteceu com Jesus e como ele agora continua vivo e quer que nos reunamos em seu nome».
Entre os discípulos de Jesus havia também um jovem chamado Estêvão. Foi dos primeiros a aceitar o que Simão Pedro dizia. E agora era já amigo dos apóstolos. Nessa altura, estava junto da janela daquela casa. De repente, chamou a atenção aos outros: «Olhem lá fora! Olhem lá fora! Venham ver!». Todos se precipitaram para a janela...
Lá fora, no meio da rua, era o mendigo curado que corria atrás da criançada. Era uma coisa que ele nunca tinha feito durante toda a sua vida. As crianças riam. Não era por estarem a fazer pouco dele. Nada disso. Riam de bom gosto. E até eram tão espertas que corriam devagar para que o mendigo as pudesse agarrar. E o homem também ria às gargalhadas. Era realmente um homem novo!