1. UM DIA NA VIDA DE PEDRO
 

 

Os encontros de Simão Pedro e dos outros apóstolos pelas ruas da cidade de Jerusalém continuaram durante todos os dias que duraram as festas da Páscoa. As coisas que eles contavam e sobretudo a paixão e segurança com que as contavam impressionavam as pessoas. Muita gente começava a acreditar no que eles diziam. Tanto que a casa onde viviam já começava a ficar pequena demais. Maria, a mãe de Jesus, e as outras mulheres já não tinham mãos a medir para atender tanta gente...

 

As pessoas iam-se convencendo que, de facto, Jesus era realmente o enviado de Deus. Mas isso não lhes bastava. Eles queriam saber o que era preciso fazer de concreto. Quando então começaram a perguntar a Pedro o que tinham que fazer, ele respondeu-lhes: «Pois bem. Para fazerdes o que Deus quer, juntai-vos a nós. Vamos todos começar uma vida nova. Vamos fazer como fez João Baptista, quando Jesus começou a vida pública. Alguns ainda se recordarão certamente que o próprio João Baptista disse o seguinte: “Eu baptizo-vos com água, mas depois de mim vai vir alguém que vos baptiza com água e com o Espírito Santo!”. Pois bem, esse alguém é precisamente Jesus de Nazaré. Portanto, quem se baptizar em nome de Jesus, começa uma vida nova e aceita a vontade de Deus...

 

Muitos aceitaram então o baptismo e começaram a fazer parte do grupo. Alguns, que não tinham onde ficar, até moravam na casa onde estavam os apóstolos. À noite, reuniam-se à volta da mesa e contavam as coisas que tinham acontecido durante a vida terrena de Jesus. De vez em quando, sobretudo no dia em que Jesus tinha ressuscitado, faziam um jantar parecido ao que Jesus tinha feito com os discípulos antes de morrer...

 

Com o tempo, e como é natural, aquela casa já não bastava para tanta gente. Então as pessoas começaram a reunir-se em outras casas espalhadas pela cidade. Eram casas que pertenciam aos que iam acreditando e se faziam baptizar. Era aí que se encontram. Aí iam de vez em quando os que tinham conhecido pessoalmente a Jesus. Mais: os apóstolos, além de se reunirem em casas particulares, continuavam a frequentar o templo e aí contavam também o que lhes tinha acontecido...

 

Num desses dias, foram ao templo para rezar. Eram cerca das três horas da tarde. E então aconteceu um facto estranho. Pedro e João foram também rezar ao templo de Jerusalém. Ora, junto do portão do templo, costumava estar sentado um mendigo que era coxo desde o nascimento. Era para ali trazido por um parente logo de manhã e ali ficava todo o dia. Mas ninguém reparava muito nele.

 

Sentado no chão, estendia a mão aos que iam passando. À passagem de Pedro e João, o coxo fez exactamente o mesmo gesto. Pedro e João pararam. «Oiça!» – disse Pedro ao coxo – «Estamos a falar consigo. Olhe bem para nós!». O mendigo olhou para eles e terá pensado: «Que é que eles querem de mim? Nunca ninguém me dirige a palavra! Porque é que estes agora querem falar comigo? Se, em vez de tanta conversa, me dessem mas é qualquer coisa, seria bem melhor! Palavras não enchem a barriga!»...

 

Pedro disse-lhe então: «Olhe, nós não temos dinheiro e, por isso, não lho podemos dar. Mas, temos algo melhor para lhe dar em nome de Jesus. Venha connosco!». Era, de facto, a primeira vez que alguém conversava com o mendigo. Ele não compreendeu sequer o motivo, mas, sem pensar muito, confiou naquele homem que estava a falar com ele. Pedro tinha-lhe dito que estava ali em nome de Jesus de Nazaré e pensou para consigo: «Porque não!? Se este homem diz que tem alguma coisa a dar-me, porque não ir com ele?»...

 

E o coxo, se bem o pensou, melhor o fez. Sem reflectir sequer um instante, largou as suas muletas, levantou-se e começou a andar atrás de Pedro e João. Depois, virando-se para trás, viu uma quantidade de caras surpreendidas a olhar para si. «Estranho!» – pensou ele – «Porque será que estão a olhar para mim com os olhos esbugalhados?». Só então é que se deu conta que estava em pé sem necessidade de muletas. Todos os que assistiam a este milagre ficaram espantados: «Mas não é o paralítico que estava sempre aí à porta a pedir esmola?».

 

Passados os primeiros momentos de assombro, o mendigo pulava, saltava, corria. Até que, entrando em si, correu para Simão Pedro. Queria abraçar aquele homem. Queria agradecer-lhe. E não havia maneira de o afastar dali. Tanto que o povo, também cheio de assombro, se junto ali todo junto ao chamado pórtico de Salomão. Então Pedro pediu calma a toda a gente: «Bom povo de Jerusalém! Porque é que estais todos a olhar assim para nós, como se fôssemos almas do outro mundo? Não penseis que nós podemos curar. Não. Quem curou este homem foi Jesus de Nazaré. Ele é que nos deu o poder de curar este homem...

 

Logo se juntou ali gente e mais gente. E Pedro continuou: «Como sabeis, tudo aconteceu há pouco tempo. Nós negámos o enviado de Deus e pedimos a liberdade para Barrabás que era um assassino. Nós demos a morte ao próprio Messias. Eu próprio acreditei que tudo estava acabado. Eu fui tão culpado como vós. Ainda fui mais, porque o conhecia bem. E ele foi condenado. Mas ele acabou por vencer a morte. Disso somos nós testemunhas. E o sinal de que está vivo é o facto de, por exemplo, este paralítico ter sido curado. Meus amigos, foi pela fé no nome de Jesus que este homem, que vós conheceis muito bem, recobrou as forças».

 

Aquele milagre impressionara toda a gente. De resto, não era caso para menos. Então Pedro continuou: «Meus amigos, todos nós agimos por ignorância. De qualquer forma, estava tudo previsto nos nossos livros. O nosso grande profeta Isaías tinha falado destas coisas. Agora é mais fácil de perceber. Isaías disse que o Messias tinha que padecer, mas que finalmente Deus o glorificaria. E foi precisamente isso o que aconteceu. Agora, o que não podemos é continuar na ignorância. Sabemos que fizemos mal. Então temos que reparar o mal que fizemos!».

 

Alguns dos presentes perguntaram-lhe o que é que era preciso fazer. Pedro então respondeu a todos: «Esse Jesus que venceu a morte disse-nos que o que é necessário é a gente mudar de vida. Assim, os pecados serão apagados e seremos salvos. Foi por isso que ele veio. Quem acreditar que Jesus é o Messias, que ele pode tudo, então será salvo. Mas é necessário acreditar nisso a sério...». Para terminar, Pedro disse ainda às numerosas pessoas que ali se tinham juntado: «Meus amigos, assim, em poucas palavras, é difícil contar-vos tudo o que aconteceu e o que é preciso fazer para a gente se salvar. Tenho uma sugestão a fazer-vos: porque é que não nos encontramos mais vezes para falar sobre estas coisas? Juntai-vos aos grupos que já temos e assim poderemos todos compreender melhor o que aconteceu!»...