1. AGORA É QUE COMEÇA!
 

 

Naquele dia, os amigos de Jesus estavam todos reunidos numa casa espaçosa em Jerusalém. Era um encontro para pensarem nos acontecimentos que tinham testemunhado nos últimos tempos. Estava também com eles Maria, a mãe de Jesus. Algumas mulheres tratavam da refeição. A um dado momento, Filipe tomou a palavra: «Mas, oiçam lá, teremos que esperar que Jesus volte? Recordo-me de ele ter dito para ficarmos aqui, mas para quê?».

 

Estavam ainda a conversar quando, de repente, se ouviu um som comparável ao duma forte rajada de vento. Até os fundamentos da casa tremeram. Era como se fosse um furacão. E mais admirados ficaram ainda quando viram uma coisa estranha. Era algo que descia sobre cada um dos presentes. Assemelha-se assim a uma espécie de línguas de fogo. Todos ficaram agitadíssimos...

 

E, quase por encanto, todos se recordaram dum facto que não era invulgar. É que Deus, por vezes, antigamente, também se tinha manifestado ao povo com a imagem do fogo. E, de repente, descobrir que algo de especial lhes estava a acontecer nesse preciso momento. Era, de facto, isso mesmo. Algo de muito íntimo estava a tomar conta de todos os presentes. E agora lembravam-se que, durante a última ceia que tinham feito com Jesus, ele lhes tinha prometido que lhes havia de mandar o seu Espírito e que eles iriam ficar transformados...

 

E, efectivamente, algo de estranho lhes estava a acontecer. E os sinais eram evidentes. Eles, que tinham fugido covardemente durante o processo que condenara à morte o Mestre, agora sentiam-se todos cheios de coragem. Por outro lado, começaram a dizer coisas sobre Deus que nunca tinham sido capazes de fazer. E, como que por encanto, todos estavam de acordo em como era necessário ir contar o que tinham visto e ouvido durante a vida de Jesus. Não podia haver outra explicação. Era o tal Espírito que Jesus lhes tinha prometido. Cumpria-se assim o que Jesus lhes tinha dito antes: «O Espírito que vou enviar-vos ensinar-vos-á tudo e lembrar-vos-á o que eu vos ensinei»...

 

Simão Pedro, ao contrário do que era costume, era o que estava mais calado. Estava quase escondido lá num canto da sala. Parecia até um pouco nervoso. Os outros discutiam sobre o que iriam fazer, mas iam dizendo que era preciso prudência e que era preciso esperar. A um dado momento, porém, Pedro quase que perdeu a paciência: «Mas esperar o quê? Quem é que vos disse que temos que esperar? Se é assim, a gente nunca mais começa!». Todos olharam para Simão Pedro, que continuou: «Não podemos ficar aqui sentados à espera que as coisas caiam do céu! Então o que é que ele nos disse? Que tínhamos que ir por todo o mundo a falar dele a toda gente, não foi? Pois então... vamos a isso!».

 

As festas da Páscoa em Jerusalém ainda não tinham acabado. Havia ainda por ali muita gente proveniente de outras terras. Então os apóstolos, animados por uma força misteriosa, foram lá para fora. Passando pelas ruas, viam de facto muitas caras desconhecidas. E então metiam conversa. Mais: paravam todos os que encontravam pelo caminho. Eles, que até esse dia, não se atreviam a sair sequer de casa, nessa manhã, nem pareciam as mesmas pessoas.

 

Tanto foi assim que houve até uma pessoa que reparou nisso mesmo: «Mas que gente mais estranha! Que andarão eles a fazer?». Então, Simão Pedro e os outros companheiros aproximaram-se. E daí a pouco, estavam rodeados de muita gente curiosa...

 

Do que é que os apóstolos falavam nessa roda de pessoas? De coisas simples. Contavam com todo o entusiasmo (e até com uma certa paixão) a sua experiência de vida com Jesus. Então, um dos mais curiosos disse: «Parece-me que são da Galileia. Pelo sotaque, não é gente da cidade». Um seu amigo, muito atento, interrompeu-o bruscamente: «Espera aí! Está calado! O chefe do grupo parece que vai dizer qualquer coisa!». O outro encolheu os ombros. Se calhar, não lhe interessava muita gente desta...

 

Também por ali passava uns soldados romanos. Vendo que eles paravam, de boca aberta, a escutar aqueles sujeitos estranhos, outras pessoas pararam também. E um deles ficou mesmo com muita curiosidade: «Palavra de honra que não percebo nada do que está a acontecer. Mas, já agora, vamos ver o que é que eles dizem! Um colega seu respondeu-lhe logo à letra: «Deixa-te mas é de coisas! Isto é conversa sem pés nem cabeça! A mim dá-me mas é a impressão que estão bêbados!».

 

Simão Pedro ouviu a piada perfeitamente. E foi quanto bastou para subir para o muro e começar a falar alto: «Bêbados a esta hora? Não vos parece um exagero a esta hora do dia?». Os ouvintes riram. E Simão, cheio de confiança, continuou: «boa gente de Jerusalém, ouvi o que tenho para vos dizer. O que está a acontecer agora já os profetas o tinham predito há muito tempo. Lembrais-vos de Jesus de Nazaré? Pois bem, ele foi mandado por Deus, mas aqui mesmo nesta cidade condenaram-no à morte. Só que, como está escrito, ele é mais forte do que a morte...».

 

As pessoas começaram a cochichar umas com as outras. E Pedro continuou: «É verdade. Nós somos seus amigos. E ele próprio nos predisse tudo. Concretamente disse-nos que o iriam matar e que, três dias depois de morrer, estaria novamente vivo. Nós nem ligámos muito a essas palavras, porque, na altura, julgámos que se tratava dum enigma qualquer. Enfim, aquelas palavras pareceram-nos uma coisa absurda. Mas agora sabemos que tudo isso era verdade...»

 

As pessoas olhavam para Simão Pedro impressionadas. Mas ele não se atrapalhou e continuou a falar: «O facto é que nós fomos ao lugar onde ele tinha sido sepultado e ele não já não estava lá, apesar de o túmulo estar fortemente guardado pelos soldados romanos. Depois, ele apareceu-nos várias vezes e aqui estamos agora para dizer a todos que ele está vivo, porque era o enviado de Deus. Ele era o Messias...».

 

Todos escutavam Pedro espantados. Alguns dos presentes começaram a fazer perguntas. E Pedro respondia, como se fosse versado em Bíblia, quando era apenas um pescador. Alguns que o conheciam atestavam isso mesmo e começavam a dizê-lo aos outros. Como era possível que um pescador iletrado falasse dessas coisas com tanto à vontade? Em tudo isso tinha que haver alguma coisa! E mais: os outros também respondiam às perguntas sem dificuldade. Aí tinha que estar o dedo de Deus! Não havia outra explicação possível!