SOLENIDADE DO PENTECOSTES

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1ª leitura (Act 2,1-11):  Quando chegou o dia do Pentecostes, encontraram-se todos reunidos no mesmo lugar. De repente, ouviu-se um rumor vindo do céu, comparável ao uivar duma rajada de vento forte, que encheu toda a casa onde eles estavam. Foi então que viram uma espécie de línguas de fogo que se iam dividindo e poisando sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em línguas estranhas, conforme o Espírito lhes dava que falassem. Ora, residiam em Jerusalém judeus piedosos que tinham vindo de todos os países do mundo. Ao ouvir todo aquele ruído, juntou-se ali uma grande multidão, toda excitada, porque todos os ouviam falar na sua própria língua. Admirados e atónitos, exclamavam: «Mas estes que estão a falar não são todos galileus?! Então como é que cada um de nós os ouve falar na própria língua?»...

* Estavam todos assombrados, sem saber o que pensar.

Para além de o autor dos Atos dos Apóstolos nos dizer que o facto narrado se deu cinquenta dias depois da Páscoa (é isso mesmo o que quer dizer a palavra Pentecostes à letra), este trecho compõe-se de duas partes. A primeira fala do dom do Espírito Santo, como tinha sido prometido por Jesus. A segunda fala da forma como pessoas de várias proveniências chegam à unidade. A efusão do Espírito Santo faz lembrar logo a forma como o povo de Deus celebra, aos pés do Sinai, aquilo que é uma espécie de descida do Espírito de Deus sobre a assembleia (cf. capítulo 19 do livro do Êxodo). Há, no entanto diferenças: no tempo de Moisés, Deus falou ao povo, mas este não se aproximou do fogo; agora, o fogo de Deus, ou seja, o seu Espírito, investe do seu poder os inícios do novo povo, realizando-se assim a promessa de Jesus de que os seus iriam ser batizados no Espírito Santo. Assim, podem de novo reconstruir a unidade perdida em Babel (cf. Gn 11,1-11). O amor transmitido por um só Espírito é a força que permite congregar de novo as pessoas.

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2ª leitura (1Cor 12,3b-7.12-13): Ninguém pode confessar que Jesus é Senhor a não ser que seja guiado pelo Espírito Santo... O Espírito manifesta-se em cada um para o bem de todos. Cristo é como um corpo único que tem muitos membros. Embora seja constituído por diversos membros, no entanto, é sempre o mesmo corpo. Da mesma maneira, todos nós, quer judeus quer gentios, quer escravos quer livres, pelo batismo formos incorporados num único corpo pelo mesmo Espírito; bebemos todos do mesmo e único Espírito.

* Bebemos todos do mesmo Espírito.

   Como se torna evidente a partir deste texto, a unidade de que falava a primeira leitura não quer dizer nem se confunde com uniformidade. Afinal, o sinal da unidade é o que nos «une» no facto de todos sermos batizados ou, se quisermos, «embebidos» do mesmo Espírito. De modo diferente, a uniformidade implica que tudo seja igual e também deixa a entender um certo aspeto negativo de que todos têm que ser iguais uns aos outros, quando não é isso que a unidade pretende. É o Espírito que dá a força e elimina todas as distinções de raça, língua, nação e sexo, porque todos os cristãos acreditam, pelo mesmo Espírito, que Jesus é o Senhor. Mas isso não implica que tenha que se anular a personalidade de quem quer que seja. Ora, há ainda, infelizmente, esta experiência terrível de alguns pensarem serem mais importantes, por supostamente possuírem mais Espírito Santo que os outros. Por outro lado, o sinal do pluralismo, que não é uniformidade, é posto em evidência pela riqueza e variedade de dons que Deus concede aos homens através do seu Espírito (cf. a este propósito o estupendo capítulo 13 da primeira Carta de S. Paulo aos Coríntios).  Mas quão distantes estamos ainda - há que dizê-lo - do respeito que é devido ao Espírito Santo para a edificação da autêntica Igreja de Cristo em unidade e liberdade!

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Evangelho (Jo 20,19-23):  Nesse domingo à noite, estavam os discípulos todos reunidos atrás de portas fechadas, por medo dos judeus e das autoridades. Apareceu-lhes então Jesus e disse-lhes: «A paz esteja convosco!». Depois de os saudar, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos ficaram cheios de alegria por verem o Senhor. Jesus disse-lhes de novo: «A paz esteja convosco! Assim como o Pai me enviou, assim Eu vos envio a vós». Depois, soprou sobre eles e acrescentou: «Recebei o Espírito Santo. Aqueles a quem perdoardes os pecados, ficarão perdoados. Mas, àqueles a quem os retiverdes, ficarão retidos».

* Recebei o Espírito Santo.

   O Pentecostes - um período de cinquenta dias depois da Páscoa - é, digamos assim, o ponto culminante da própria Páscoa. Mas talvez seja preciso não atribuir ao número cinquenta um sentido matemático e frio. A prova disso é que, segundo o texto do Evangelho de João escolhido para este domingo, a primeira efusão do Espírito Santo se dá no «primeiro domingo» de Páscoa; não no quinquagésimo dia. Não será este um convite a que, em vez, estejamos mais atentos à «missão» que a efusão do Espírito Santo implica? Por outras palavras, segundo o evangelista João, há uma estreitíssima ligação entre Páscoa e Pentecostes, sendo que, repito, por sinal, o envio do Espírito tem lugar no próprio dia da ressurreição de Jesus. Agora, o que me parece claro é que o Espírito não é enviado só para meu proveito pessoal, porque Ele (como, de resto, o Pai e o Filho) não é exclusivo de ninguém. O Espírito Santo é a própria «vida» de Deus que se quer comunicar a todos.

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·         Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em línguas estranhas.

·         Ninguém pode confessar que Jesus é o Senhor, a não ser  pelo Espírito Santo.

·          Assim como  o Pai me enviou, assim Eu vos envio a vós.  

ASSIM

COMO

O PAI

ME

ENVIOU,

ASSIM

EU VOS

ENVIO

TAMBÉM.

          

  • O Espírito de Jesus na Igreja

    A Solenidade do Pentecostes comemora e celebra um acontecimento de importância capital e fundante na Igreja: o seu nascimento oficial através do batismo do Espírito. De alguma forma, segundo a predição do próprio Jesus, o Pentecostes é o «complemento», ou melhor dizendo, o cumprimento pleno da Páscoa. Com efeito, é só com a descida do Espírito Santo que os apóstolos compreendem o alcance da Ressurreição de Jesus. E é precisamente a partir desse momento que eles põem a frutificar as sementes da vida nova que tinha sido inaugurada. O Pentecostes constitui o início da expansão da Igreja e o princípio da sua fecundidade.

    A plenitude do Espírito Santo é uma das características dos tempos messiânicos, que foram sendo preparados de maneira inefável e indelével por Deus, que «falou por meio dos profetas». É o Espirito que infunde, em todos os tempos, atos de bondade, justiça e religiosidade entre os homens, até descobrirem um sentido para a sua vida no Ressuscitado (cf. Ad Gentes, 4).

  • Aliança universal e definitiva

    Lendo atentamente a descrição que Lucas faz nos Atos dos Apóstolos do fenómeno da «infusão» do Espírito, pode-se dizer que há pontos de proximidade com os eventos do Sinai: a assembleia das doze tribos corresponde à dos doze apóstolos; o fogo e o vento manifestam a presença de Deus. Há ainda outros pontos de contacto, embora contrastantes: a aliança é estabelecida não já com um povo escolhido (Israel), mas com todos os povos e com todas as raças; não é já ratificada com um gesto material e exterior, como a circuncisão, mas pelo sinal da fé e do batismo; não é renovada através de homens mortais, mas fundada em Jesus Cristo, que «permanece para sempre».

    Além do mais, a «encarnação» do Espírito na Igreja atual – como, aliás, na Igreja primitiva ou na Igreja de todos os tempos – não está sujeita a condições externas. Não está sujeita às circunstâncias e à configuração de instituições mais ou menos perfeitas humanamente falando. A Igreja, seja qual for a época a que nos refiramos, não é um fim, mas apenas um sacramento ou sinal da presença de Deus. Ela não é nem pode ter a veleidade de se confundir com o próprio Espírito. Sacramentos, jerarquia, ministérios, e carismas, tempos e lugares, tudo isso são meios, tudo isso deve estar ao serviço da santificação operada pelo Espírito e pelos merecimentos de Jesus Cristo.

  • Espírito de fidelidade e coragem

    Os apóstolos tinham sido instruídos abundante e profundamente por Jesus durante três anos. E, no entanto, na hora da verdade, abandonaram-no miseravelmente. Só quando são batizados pelo fogo do Espírito é que compreendem o mistério do Messias, Senhor e Filho de Deus. Só nessa altura é que compreendem a Ressurreição como cumprimento dos projetos do Pai. E isso é verdade não só em relação a Israel mas também em relação a todos os povos. Mais: no caso dos discípulos, é esse mesmo Espírito que, «inexplicavelmente», os levará a anunciar e a propor como Filho de Deus um crucificado e morto, sem temerem - agora - nem perseguições, nem dificuldades, nem até a própria morte.

    Essa mudança estranha e radical de atitude em pessoas que, primeiro, se esconderam com medo dos judeus, é uma demonstração de que algo de muito especial se passou nos seus corações nesse dia. E, à semelhança dos apóstolos, as miríades de mártires e cristãos, que souberam escutar a voz do Espírito, foram testemunhas precisamente desse Cristo morto e ressuscitado.

    No mundo de hoje, cada comunidade é chamada a colaborar com o Espírito Santo na renovação do mundo pela «infusão» duma nova vida. E isto sem nunca perder a coragem, porque «o Espírito vem sempre em auxílio da nossa fraqueza» (Rm 8,26), fazendo com que todos os nossos esforços convirjam para o nosso bem. Toda a nossa vida de cristãos está, pois, sob o signo do Espírito que recebemos no Batismo e na Confirmação e continua a operar como e onde quer (cf. Jo 3,8).

    «Sem o Espírito Santo, Deus está longe, Cristo fica no passado, o Evangelho é letra morta, a Igreja é uma simples organização, a autoridade é um poder, a missão é propaganda, o culto é um arcaísmo, e o agir moral um agir de escravos. Mas, no Espírito Santo, o cosmo é tornado nobre pela geração dum novo Reino. Cristo ressuscitado torna-se presente, o Evangelho faz-se poder e vida, a Igreja realiza a comunhão trinitária, a autoridade transforma-se em serviço, a liturgia em memorial e antecipação, e o agir humano é deificado» (Atenágoras).

  • Um só corpo no Espírito

    A primeira leitura da liturgia da palavra fala da unidade reconstruída pela ação do Espírito. Mas a unidade – que é imprescindível – não destrói os carismas. Quer dizer, a unidade não é uniformidade. O sinal da unidade está no facto de todos sermos batizados no mesmo Espírito e de, mediante o Espírito, todos os batizados acreditarmos que Jesus Cristo é o Senhor.

    No entanto, o pluralismo deve ser respeitado, na medida em que é o mesmo Espírito que distribui vários dons ou carismas para a edificação da Igreja em todos os tempos e latitudes. Se assim nos podemos expressar, o garante da união não é o monolitismo, mas sim o Espírito, segundo o qual somos capazes de ser um só coração e uma só alma, embora sendo diversos membros.

ESCUTA, Ó DEUS!

    Escuta, ó Deus! Agora, que ninguém nos ouve, tenho que reconhecer que nem sempre me dou conta de que Tu vives em mim através do teu Espírito. Mais: sucede que, por vezes, tenho dúvidas sobre a tua presença na minha vida e na vida dos outros; sobretudo quando as coisas não correm como eu acho que deveriam correr. Mas sobretudo custa-me admitir que nem sempre agradeço o facto de não me abandonares, mesmo quando me parece que estás ausente. Por isso, deixa que agora te agradeça por me surpreenderes e também que te peça perdão por não estar atento a estas coisas!