II DOMINGO DE PÁSCOA - C

 

Temas

de

fundo

1a leitura (Act 5,12-16): Eram muitos os milagres e prodígios operados no meio do povo por intercessão dos apóstolos. Os que acreditavam em Jesus reuniram-se no Pórtico de Salomão. De fora do grupo, ninguém se atrevia a juntar-se a eles, embora todos falassem bem deles. Seja como for, cada vez mais pessoas se juntavam ao grupo, de forma que era já uma multidão de homens e mulheres os que acreditavam no Senhor. Como resultado do que os apóstolos faziam, muitos doentes eram trazidos para as ruas vindos de vários lados. Vinham deitados em enxergas e catres e eram colocados de modo que ao menos a sombra de Pedro caísse sobre alguns deles à sua passagem. Multidões de pessoas vinham das aldeias em redor de Jerusalém trazendo consigo os doentes e os atormentados por maus espíritos, dos quais eram curados. 

 

* Aumentava o número dos crentes.

   No II Domingo de Páscoa do Ciclo «C», é-nos proposto, como leitura, o terceiro «sumário» dos Actos dos Apóstolos sobre a vida do incipiente cristianismo; assim como, no Ciclo «A» e Ciclo «B», são propostos, respectivamente, o primeiro e o segundo «sumários». Ora bem, como nos outros dois sumários, também neste se insiste prevalentemente na unidade da primeira comunidade cristã. Mas há que não esquecer que a unidade passa por algumas características muito importantes: trata-se de uma comunidade que escuta a pregação dos apóstolos; que já tem um espaço próprio para se reunir; e que, pela sua natureza, se distingue de outros grupos de pessoas, mas que, ao mesmo tempo, está aberta aos que queiram associar-se a ela. Há também uma nota que me parece importante realçar. E é  que, em nome de Jesus e agindo com a força que Ele transmite, essa comunidade fica capacitada para realizar obras que, como se lê em Jo 14,12 (se bem que em tons exagerados) são ainda maiores que as realizadas pelo próprio Cristo. Mais, os evangelistas Marcos e Lucas, no texto paralelo, acrescentam, que, para que isso acontecesse, bastava a sombra dos apóstolos; no caso, particularmente a de Pedro e João.

 

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2a leitura (Ap 1,9-11a.12-13.17-19): Eu sou João, vosso irmão, e, como seguidor de Jesus, sou vosso companheiro no que se refere ao suportar com paciência as perseguições que calham em sorte aos que pertencem ao Reino. Fui desterrado para a Ilha de Patmos por proclamar a Palavra de Deus e a verdade que Jesus revelou. No Dia do Senhor, o Espírito tomou conta de mim e eu ouvi uma voz forte, que parecia uma trombeta e proclamava atrás de mim: «Escreve o que vais ver». Eu voltei-me para trás para ver quem é que estava a falar comigo e vi sete candelabros de oiro. No meio deles, estava quem me parecia um ser humano, vestido com uma túnica que lhe chegava aos pés e com uma faixa branca à volta do peito. Quando o vi, caí como morto aos seus pés. Então Ele colocou a mão direita em mim e disse-me: «Não tenhas medo! Eu sou o Primeiro e o Último. Eu sou o Vivente! Eu estive morto, mas agora estou vivo para sempre. Tenho autoridade sobre a morte e sobre o mundo dos mortos. Escreve então as coisas que estás a ver, tanto as que estão agora a acontecer como as que hão-de acontecer depois».

 

* Agora estou vivo para sempre.

  O Apocalipse (=revelação), em resumo, é o livro que descreve, em linguagem toda especial, Jesus a revelar os seus poderes de ressuscitado. Este trecho é a primeira revelação tida por João (a Tradição supõe que se trata do apóstolo e evangelista do mesmo nome) durante um êxtase que tem lugar no Dia do Senhor (uma anotação preciosa), em Patmos, uma ilha do mar Egeu (entre as atuais Turquia e Grécia). Ora bem, numa altura em que o imperador Domiciano pretendia ser tratado por «senhor e deus», o autor refere, sem deixar margem para dúvidas, as características do Senhor ressuscitado: tem a plenitude da vida, está revestido do poder (a faixa branca à volta do peito é o símbolo da realeza) e é Ele o princípio e fim de todas as coisas. Daí se deve inferir que o Senhor que é necessário adorar não é o imperador, mas o que tem toda a autoridade sobre a morte e o mundo dos mortos.

 

  PARA ULTERIOR APROFUNDAMENTO, VEJA EM BAIXO.

Evangelho (Jo 20,19-31): À tardinha daquele mesmo domingo, os discípulos estavam reunidos em casa, mas com as portas fechadas, por medo das autoridades judaicas. Então veio Jesus e, apresentando-se diante deles, disse: «A paz esteja convosco!». Depois de dizer isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos ficaram cheios de alegria por verem o Senhor. Jesus disse-lhes de novo: «A paz esteja convosco. Assim como o Pai me enviou, assim Eu vos envio a vós». Depois, soprando sobre eles, disse: «Recebei o Espírito Santo. Aqueles a quem perdoardes os pecados ficarão perdoados; aqueles a quem não os perdoardes, não ficarão perdoados». Ora, acontece que um dos doze discípulos, Tomé, também chamado Gémeo, não estava com eles quando Jesus veio. Os outros discípulos disseram-lhe: «Vimos o Senhor!». Mas Tomé respondeu-lhes: «Se não vir as cicatrizes dos cravos nas suas mãos e não puser o dedo nessas cicatrizes e a mão no seu lado, não acredito». Uma semana depois, os discípulos estavam de novo reunidos; e Tomé estava também com eles. Com as portas fechadas, Jesus veio, apresentou-se diante deles e disse: «A paz esteja convosco!». Depois disse a Tomé: «Coloca aqui o teu dedo e toca aqui no meu lado. Pára de duvidar, mas acredita». Tomé respondeu: «Meu Senhor e meu Deus!». Jesus respondeu-lhe: «Tu acreditaste porque me viste. Felizes os que hão-de acreditar sem me terem visto!».

 

* Bem-aventurados os que crêem sem ver.

   Tal como nos ciclos «A» e «B», no II Domingo de Páscoa, é proposto o trecho de João, que tem como segundo protagonista, digamos assim, o apóstolo Tomé. Para já, pode-se constatar que este texto propõe três pontos fundamentais de muita importância. O primeiro é: o poder que o Ressuscitado conquistou com a sua vitória sobre a morte é transmitido aos discípulos (vv. 21-23; cf. Mt 28,18-20, Lc 24,47, At 26,17-18, 1Cor 15,3.17; e ainda: Mt 9,35; 10,7-8; 16,19; 18,18). Em segundo lugar, a fé não se esgota em palavras (que até se sabem de cor), mas é uma aposta, é um risco, é vida. Ou seja, não se trata de ver ou tocar, em termos físicos, não se trata de «provar», mas sim do acolhimento dum anúncio que é feito (vv. 24-29; cf. 1Jo 1,1-5). Por fim, é preciso reconhecer em Jesus Cristo o Filho de Deus, pelo que, assim, se chega à vida eterna. Mas não se pode também esquecer que a figura de Tomé nos é proposta sobretudo como exemplo de como todos deveremos proceder, de como todos devemos crer. Enfim, nessa perspetiva, não se pode dizer que Tomé seja propriamente paradigma de incredulidade, mas, sim, a meu ver, paradigma da fé autêntica. De resto, bem vistas as coisas, Tomé não exigiu mais que os outros discípulos, que tinham acreditado só depois de terem visto. Ora bem, então, a conclusão importante a que o evangelista parece querer chegar é de facto esta: «Bem-aventurado quem acredita sem ter visto». Nessa altura, de entre todos os discípulos, o único que faz a profissão de fé «sem ver» é Tomé. Aliás, diria mais: quem proclama a autêntica fé sobre a divindade de Jesus é precisamente ele: «Meu Senhor e meu Deus!». Os outros não foram capazes de chegar a esta proposição.Mas felizes mesmo são os que acreditam sem terem visto.

PARA ULTERIOR APROFUNDAMENTO, VEJA EM BAIXO.

  • Cada vez mais pessoas se juntavam ao grupo dos seguidores de Jesus.

  • Eu estive morto, mas agora estou vivo para sempre.

  • Felizes os que hão-de acreditar em mim sem me terem visto!

 

MEU

SENHOR

E MEU

DEUS!

 

  • O Primeiro e o Último

    Ao contrário das descrições proféticas das «teofanias» características do AT, as narrações evangélicas sobre a Ressurreição (e não só), descrevem, com muita sobriedade e com palavras simples e reduzidas ao essencial, uma nova situação, um novo começo, um novo «estado», uma nova «dimensão», de quem tinha ressuscitado pelo poder de Deus.

    Agora, Ele regressa ao seu «estado original» e está livre dos condicionalismos de espaço e de tempo. E, no entanto, está também presente no meio dos discípulos duma maneira real, embora diferente da anterior (Não há que confundir real como físico e material). Jesus é apresentado, segundo a visão do autor do Apocalipse, com os atributos de sacerdote (hábito comprido) e de rei (cintura ou faixa de oiro). É apresentado como condensando em Si, e sendo, o sentido da história – o Primeiro e o Último, o Alfa e o Ómega –, exercendo o seu poder sobre a morte e sobre o mundo da morte. Nessa visão é, portanto, o verdadeiro Senhor, exatamente como Deus; como Aquele que é o ser vivo desde sempre e para sempre.

 

  • Sinais de salvação do Ressuscitado

    A partir daquela manhã, não se percebe ainda bem porquê, algo de novo se passa na mentalidade e nos gestos dos apóstolos, após a derrota e pessimismo que se apoderara deles no momento da morte do Mestre. Quanto a este ponto, não restam dúvidas. De facto, de homens covardes e desesperados que se apresentavam, de repente, eles transformam-se em arautos destemidos dos prodígios operados graças ao poder de Jesus. Prova dessa mudança de atitude e de comportamento é o testemunho do livro dos Atos, que lemos com profusão durante todos os domingos da Páscoa (e, já agora, com raríssimas exceções, também todos os dias do período pascal). A ação do poder de Jesus sobre os apóstolos é evidente. Mais: são os próprios apóstolos – e de modo particular os mais responsáveis – a ser os protagonistas atraves dos quais se fazem prodígios em nome de Jesus.

    Independentemente de outros fatores, não se podem negar estes factos, sob pena de negar o próprio valor do livro em causa. E, para os que creem (e para os que leem o livro com espírito isento), isso está fora de questão. Agora, o que não convém deixar na penumbra é um pormenor fundamental: ou seja, na verdade, nada se passa de novo enquanto os apóstolos não acreditam que Ele, Jesus (Ele que tinha sido  condenado à morte pelos anciãos do povo e pelos sacerdotes do Templo), apesar da derrota aparente, está novamente vivo e agora com todos os poderes que do Pai. Quando os apóstolos, pela fé, fazem finalmente a opção por Jesus como Salvador, então as coisas começam a «acontecer e a «funcionar». É então que a história recomeça.

 

  • O pecado é cancro que corrói

    A «libertação» é um dos termos mais queridos dos jovens em geral e duma certa geração de teólogos em tempos mais recentes, polarizando entusiasmos e energias, numa procura dum mundo desvinculado de cadeias e proibições. Em princípio, esta ânsia é perfeitamente legítima. Para um cristão, porém, tem que se tratar de um processo global. É algo que não se pode resumir apenas a uma libertação política e de tipo temporal. Esta libertação, nessa ótica, não pode ser só uma moda linguística e superficialmente política, mas uma redenção pelo próprio Deus, que ama de tal maneira o homem que não duvida sequer morrer por ele em Jesus Cristo.

    Na ótica cristã, não basta, pois, o esforço do homem, a sua luta apaixonada por uma maior liberdade, dignidade e justiça. Esses valores não estão em causa. O que está em causa é se será possível alcançar esses valores prescindindo da componente espiritual, adiando indefinidamente o empenho dum Deus que, tendo criado o homem à sua imagem e semelhança, tem como «plano» que a libertação seja feita segundo essa imagem.

 

  • Acima da estrutura, o espírito

    Costuma-se dizer - sem discutir muito sobre o assunto - que as estruturas modelam e condicionam o homem. Segundo essa maneira de conceber as coisas, bastaria, então, mudar as estruturas para se seguir como consequência a mudança do homem (Isso, claro, desde que se admita o princípio de que o homem tenha que mudar!). Lutando por mudar as estruturas anacrónicas da sociedade, ficaria o caminho aberto à implantação duma maior justiça, liberdade e dignidade. Mas as coisas, na prática, não são assim tão simples...

    É um facto evidente que as estruturas – sejam elas quais forem – têm muita importância no processo de «formatação» do homem. Mas a experiência tem demonstrado à saciedade que nem sempre (ou pouco) à mudança de estruturas corresponde o melhoramento das condições humanas. O cristão sabe que a raiz da autêntica mudança não se joga primariamente na mudança mecânica das estruturas – por vezes, inadiável – mas sim, mais profundamente, na opção que for capaz de fazer entre egoísmo e doação. Essa é a mais radical libertação. Nessa ótica, a mudança consubstancia-se na adequação ao projeto original de Deus, desfeado pela desobediência do homem. E isso, em definitivo, é um projeto que só o homem pode levar em frente. Por mais que a tecnologia seja deificada, estou convencido que, no fundo, a presidir às transformações - para além do próprio Deus - será a criatura humana, ou seja, quem foi criado à imagem e semelhança de Deus.

 

  • O Ressuscitado é a garantia

    Ainda nessa ótica, Jesus ressuscitado é a garantia dessa libertação; Ele é a base para uma libertação que mereça realmente o nome de libertação. E, com efeito, onde não se verificou essa libertação, a experiência tem demonstrado que a queda de estruturas injustas deu frequentemente lugar só a outras estruturas que não foram capazes de respeitar a dignidade humana.

    No fundo, por outras palavras, o homem «novo» é só o «homem pascal». Só que, para que se dê realmente essa libertação, é necessário que esse homem pascal não o seja só de nome. Só que essa libertação, efetivamente trazida por Jesus, não é uma libertação que se impõe à força. De resto, a eficácia da libertação depende do facto de ela ser aceite livremente, sob pena de se contradizer a si mesma: ninguém pode ser verdadeiramente livre à força! A verdadeira libertação é mesmo, passe a expressão, algo que não se pode impor, sob pena de já não o ser; é uma libertação que é preciso aceitar no coração. O que significa necessariamente uma mentalidade nova.

    Como comunidade de crentes, a Igreja é chamada, também ela, a promover a libertação – quanto a isso, não há dúvidas – mas trata-se de uma libertação total. É também verdade que não basta uma libertação puramente interior, pois a libertação autêntica implica todos os setores, o homem todo; mas sem nunca esquecer que a autêntica libertação passa pela mudança interior, pela convicção de que, fundamentalmente, todos os homens são iguais, não só porque todos são filhos e imagem do mesmo Pai, mas também porque todos foram remidos pelo sangue de Jesus que, vencendo o pecado e a morte, abriu definitivamente as portas da libertação total.

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Tomé, o Apóstolo

São Tomé (ou Tomás) Apóstolo foi um dos doze apóstolos originalmente escolhidos por Jesus, segundo os Evangelhos sinóticos e os Atos dos apóstolos (Mateus 10:3, Marcos 3:18, Lucas 6:15) havendo poucos registos além destes.

Nome e identidade

   Alguns teólogos têm mantido discordâncias a respeito da verdadeira identidade de São Tomé. Tomé ou Tomás não era propriamente um pronome, mas sim a palavra equivalente a gémeo, vindo do aramaico Tau'ma (תום), e posteriormente traduzida para o grego Dídimo (Didymus). Essa palavra aparece composta com o pronome Judas nalguns trechos bíblicos. Muito se discute de quem esse Judas Tomé seria irmão gémeo. Outros, inclusive, acreditam tratar-se de Judas Tadeu, irmão de Tiago Menor, tendo sido confundido com uma terceira pessoa apenas porque o seu nome teria aparecido com a alcunha Gémeo algumas vezes em vez de Tadeu...

O facto é que a tradição católica e a ortodoxa, bem como fortíssimos indícios indianos dos católicos nativos de Malabar, apoiam a existência deste apóstolo, a sua missão evangelizadora e o seu martírio. De facto, no século XVI, os portugueses que chegaram à região disseram ter descoberto a cripta do santo, as suas relíquias e, inclusivamente, um pedaço de uma das lanças com as quais fora morto com o sangue ainda coagulado. Acrescente-se a isto que todos os antigos martirológios mencionam a ida de São Tomé para a Índia, a sua pregação e o seu martírio, transpassado por lanças empunhadas por hindus.

   Um facto recente muito curioso – e apenas isso - foi aquando do tsunami de dezembro de 2004 que devastou toda aquela região: o templo que guarda as suas supostas relíquias ficou imune às ondas gigantescas que destruíram todas as construções adjacentes, tendo permanecido intacto. Uma antiga tradição afirmava que um poste fixado pelo apóstolo limitaria até ao fim dos tempos as águas que jamais o ultrapassariam. Este poste existe até os dias atuais e localiza-se exatamente na porta principal da igreja que guarda essas supostas relíquias. Isto deixou os sacerdotes hindus desconcertados e os mesmos prometeram não mais perseguir e discriminar os cristãos daquelas plagas.

NB: Estes últimos dados devem ser lidos naturalmente com todo o cuidado possível.

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