1. NO PRINCÍPIO...
Aqui há uns tempos, li uma pequena notícia que me despertou a atenção. Foi o seguinte. O Seminário Judaico de Teologia da América do Norte comprou uma página inteira no New York Times. Foi a forma de dizer «Feliz Ano Novo» a pessoas de todas as religiões.
A publicidade tinha umas coisas interessantes sobre a oração. Se me permite, vou partilhá-las consigo:
- Comece por coisas pequenas. Não queira fazer tudo duma vez. Acha que consegue? Não vai conseguir. Ninguém consegue. Não se julgue mais capaz que todos os outros.
- Dê graças por aquilo que cada momento lhe traz. Quem sabe se, com uma pequena oração, não consegue ligar-se à eternidade?
- Não pense que as suas conversas só são feitas por palavras. Quem é que lhe disse que o silêncio não é importante? E, olhe, ninguém pode fazer isso por si.
Ora bem, judeus, cristãos, muçulmanos e hindus… todos podem aproveitar estas sugestões. E até mesmo os que dizem que não são nada disso.
A verdade é que só os humanos são capazes de rezar, de falar com o Senhor supremo. Também você pode iniciar uma conversação com o Santo dos Santos. Também você pode entrar na atmosfera do silêncio de Deus, na sua presença de paz e tranquilidade.
Reze; nem que seja apenas 1 frase. É uma actividade tipicamente humana. E é uma óptima maneira de começar o seu dia, o seu mês, o seu ano.
«Senhor, ensina-nos a rezar. Ensina-nos a falar contigo, a ouvir-Te, a vir ao Teu encontro.
2. ULTRAPASSAR O DESÂNIMO
O médico Albert Einstein – não confundir com o cientista –, não se sabe em que circunstâncias, escreveu isto: «A gente gosta de trabalhar madeira, porque, nesta actividade, pode ver logo os resultados».
À primeira vista, a frase pode não o impressionar. Mas a verdade é que, na maioria dos casos, as coisas que fazemos levam anos de trabalho paciente até se obter algum resultado ou êxito. E só os que não desistem é que chegam lá.
Quem que tenha a seu cargo, por exemplo, trabalhar com uma criança deficiente, vê-se obrigado a medir os progressos não em quilómetros ou metros, mas sim em centímetros ou milímetros. Um pesquisador é capaz de levar anos a fio a descobrir a origem duma certa doença ou a cura para ela. Mas não desiste até a encontrar.
Da mesma forma, os nossos objectivos pessoais podem levar tanto tempo que perdemos a coragem e desanimamos. O que nos impede de desanimar é a esperança. E a esperança deriva, ao fim e ao cabo, da certeza de que todos nós somos importantes para Deus, que nos guiará nos nossos passos, por mais vagaroso que seja o nosso ritmo.
«Se esperamos o que não vemos, então é com paciência que temos que o esperar» (Rm 8,25).
3. CASAS DE ORAÇÃO
Não precisamos de ter muita prática de turismo para descobrir que as grandes catedrais, tais como a Notre Dame de Paris, estão sempre cheias de visitantes de todas as partes do mundo. E até ficamos maravilhados com a majestade que as distingue.
Mas há também capelas pequeninas que não são menos importantes no que se refere ao contacto com o Criador. Sei de uma, dedicada ao nosso Sto. António, num país estrangeiro, que, de tão pequena que é, está sempre super-cheia. É que é tão pequena, tão pequena, que não tem lugar para mais de 20 pessoas de cada vez.
Em ambos os casos, trata-se de construções igualmente importantes, porque ambas são casas de Deus. Para nós, será mais importante aquela em que nos sentirmos melhor. E nós estaremos melhor no local em que nos encontremos mais facilmente com Ele. É isso, afinal de contas, o que mais conta.
Às vezes, quase nos sentimos uns falhados só por nunca termos pintado obras de arte ou composto músicas inolvidáveis; ou então por nunca termos feito nenhuma descoberta científica. É como pensar que só as catedrais são casas de Deus.
Nem todos podem fazer descobertas científicas. Ai de nós se todos fôssemos iguais! As pequenas coisas de todos os dias podem não trazer-nos fama, mas não quer dizer que não sejam importantes. Cada um à sua maneira pode dar um contributo, no seu meio ambiente, para que as coisas sejam um pouco melhores.
«Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra» (Mt 5,5).
4. HOSPITALIDADE PRESIDENCIAL
De leitura recente, sei que a senhora Grace Tully trabalhou como secretária particular do presidente norte-americano Franklin Roosevelt durante mais de 30 anos. Devo dizer que, para além de secretária, era, por assim dizer, uma espécie de administradora da casa presidencial.
Ela, até ao dia da sua morte, falou sempre com admiração da forma como era tratada pelos seus amos. «Com os Roosevelts, nunca se era tratado como simples ajudante; era-se sempre considerado como parte da família». Conta ela que, quando, por qualquer motivo, tinha que trabalhar até mais tarde, a senhora Roosevelt tinha sempre o cuidado de pôr mais um lugar à mesa para o jantar. Esse toque de hospitalidade fazia toda a diferença.
Ora bem, a hospitalidade verdadeira vai muito para além da simples boa educação para com os convidados. Ela é um compromisso com a regra de oiro do amor ao próximo. E pode incluir tanto os próprios familiares como os estranhos.
Ser hospitaleiro pode causar problemas? Claro, mas é preferível ser hospitaleiro, porque «há mais felicidade em dar do que em receber» (cf. Act 20,35). Além do mais, todos sabemos o ditado:
«Fazei aos outros o que gostaríeis que os outros vos fizessem a vós».
5. DECIDIR TER SUCESSO
Quando se trata de tomar decisões, uma grande parte das vezes não medimos bem as consequências. Sobretudo, não temos a humildade suficiente para ter os pés bem assentes no chão.
Praticamente, um quarto dos que prometem a si mesmos mudar de vida ou então algum aspecto da sua personalidade – quer seja ao início dum novo ano, quer seja em qualquer outra altura – perdem todo o entusiasmo No espaço de uma semana. Quem o diz é um professor de Psicologia duma universidade da Pensilvânia. E acrescenta que apenas 19% dessas pessoas consegue algum sucesso durante dois anos...
Então isso quer dizer que devemos desanimar? De maneira nenhuma Há algumas maneiras práticas de manter as promessas ou propósitos feitos:
- ser realista quanto aos objectivos; saber ao certo o que significa realmente alcançar esse objectivo;
- fazer pequenos passos de cada vez para alcançar esse objectivo; Inclusivamente, por vezes, não é má ideia recompensarmo-nos pelos passos dados;
- pedir a ajuda aos familiares, amigos e colegas de trabalho;
- ir escrevendo o que se pretende. É que, como se costuma dizer, ver ajuda a acreditar.
Termino com uma citação do livro do Eclesiastes (Qohélet):
«Não há na terra ninguém tão justo no fazer o bemque nunca peque» (Ecl 7,20).
6. QUEM É O PRIMEIRO?
Vamos partir duma suposição. O que é que faria se viesse a descobrir que tinha sido outro a caminhar na superfície da Lua, antecedendo em alguns séculos Neil Amstrong?
Este astronauta americano foi, de facto, o primeiro a pisar a Lua. Mas, e se, por hipótese, tivesse sido outro? Bem, podemos discutir sobre isso, que não chegamos a conclusão nenhuma.
Vejamos o caso de um outro que se diz que foi o primeiro. Trata-se do alemão João Guttenberg, que tem a fama de ter sido o primeiro a utilizar os tipos móveis para a impressão de livros. Ora bem, há quem diga que, 515 anos antes de Guttenberg ter feito imprimir a sua famosa Bíblia, os trabalhos de Yi Munsun terão sido impressos na Coreia por um processo semelhante.
Yi Munsun terá imprimido estudos históricos, a sua autobiografia, algumas poesias e a descrição de algumas pinturas. Inclusivamente, terá publicado cerca de 13 volumes. Yi Munsun foi um estadista, um professor, um poeta, e morreu em 1241.
Não esteja à espera que eu desvende o mistério. Aquilo que me toca dizer é uma coisa muito mais simples. Nós, humanos, gostamos muito de ser sempre os primeiros. Pode tratar-se de uma grande invenção ou de uma façanha nunca dantes levada a cabo. Não digo que ser primeiro não seja importante. Mas a verdade é que nada é mais valioso do que ser e fazer o melhor que pudermos: quer sejamos os primeiros, quer sejamos os últimos.
«Procurai antes de mais o Reino dos céus e a sua justiça.O resto virá por acréscimo» (Mt 6,33).
7. VIVER OU NÃO VIVER: EIS A QUESTÃO!
Estamos habituados às frases feitas. Mas isso não quer dizer que elas sejam sempre inúteis. Não são. O importante é tirar delas todo o sumo. Costuma-se dizer, por exemplo, que viver é um desafio. E é verdade, porque, como diz a sabedoria popular, «viver não custa; o que custa é saber viver».
Ora, deixar-se andar, deixar correr, sem reflectir e sem ter que tomar decisões dolorosas, é muito mais cómodo. Mas será isso realmente humano? Há muitos que vivem por viver. Ou, por outras palavras, vivem por verem os outros viver.
Na óptica cristã, sabemos que o sentido duma vida plena deriva da intensidade de amor que pomos nela. E o amor, no sentido cristão profundo, não é apenas um sentimento qualquer que aquece o coração ou envaidece a nossa auto-estima. O amor cristão é mais do que isso. Amar de verdade, no sentido cristão, é dar a vida por quem se ama. É por isso que já o próprio Cristo disse: «Não há maior amor do que o daquele que dá a vida por quem ama» (cf. Jo 15,13).
Foi exactamente isso que Ele fez: pôr-se ao serviço dos seus irmãos. Esta realidade é ainda mais extraordinária se pensarmos que Ele, Jesus Cristo, é o próprio Filho de Deus. O próprio Deus feito Homem a pôr-se ao serviço das suas criaturas, morrer por elas... é algo de incrível! Só de pensar nisso, eu atrevo-me a tirar uma conclusão muito consoladora: devemos ser muito importantes para Deus para Ele se sacrificar até esse ponto!
8. A TELEVISÃO É A CONVIDADA
Será que a violência mostrada na televisão cria um clima favorável à violência na vida real? Este é um problema que, há muito tempo, vem sendo debatido. Mas parece que não se chega a nenhuma conclusão, ou então não há vontade autêntica de chegar, a nenhuma conclusão.
Eu também não sei qual a conclusão científica a perfilhar. Se é que há alguma! No entanto, em princípio, quer-me parecer que, como outra actividade humana qualquer, a televisão algum efeito há-de ter no comportamento das pessoas.
Dessa mesma opinião parece ser um autor de programas de televisão para crianças, chamado Bob Keeshan. Ele acha que a dieta de violência servida continuamente pelos programadores «criou a imunidade ao horror da violência». Ou seja, as crianças – e não só! – podem ser levadas a acreditar que recorrer à violência para resolver um problema é uma opção perfeitamente legítima.
Pois bem, esse autor faz uma sugestão simples: os pais deveriam monitorizar os hábitos televisivos dos seus filhos, como monitorizam as suas amizades. Não parece que esta seja uma má ideia. A televisão chega a nossa casa como convidada. Então, devemos estar atentos a quem convidamos para a nossa casa.
«Meu filho, guarda a ponderação e a prudência. Não as percas de vista» (Pr 3,21).
9. LEVANTAR A VOZ
Todos nós já passámos por momentos em que nos parece que Deus mantém o silêncio. Sobretudo nos momentos em que a vida aperta. Pelo menos os que acreditamos nele, teremos essa queixa. E, de facto, há momentos em que nos dá a impressão que Deus não se interessa nada com o que se passa connosco.
As situações de injustiça podem destruir o nosso sentimento de fé e confiança; tanto em Deus como na humanidade. Como se consegue restaurar a justiça, bem como a nossa confiança e esperança num mundo melhor?
O nosso grande problema é que, quando nos referimos à injustiça ou à justiça, falamos de injustiça e justiça em abstracto. E, sobretudo, pensamos que são sempre os outros que cometem a injustiça. Se realmente estamos interessados em vencer as injustiças, temos que ser nós a fazer actos concretos de justiça.
Uma das primeiras coisas que temos que considerar é o seguinte: para além de direitos, não teremos também deveres? Depois, perguntemo-nos: quantas vezes, ficámos ao lado dos oprimidos? Quantas vezes, tivemos compaixão de alguém? Quantas vezes protegemos os vulneráveis das garras de alguém? Só alcançaremos algum sucesso se fizermos algo de prático e concreto à nossa volta.
«O que o Senhor requer de ti não é senão que pratiques a justiça, ames a lealdade e andes humildemente diante do teu Deus» (Mq 4,8b).
10. OS FILMES MUDOS
No tempo dos filmes mudos, produzir uma super-película custava uma média de cento e cinquenta mil dólares. Hoje em dia, essa quantia não parece lá muito dinheiro, mas, nos anos de 1910 e 1920, era mesmo uma pipa de massa. Como acontece hoje com os milhões, as pessoas nem sabiam contabilizar essas coisas.
Alguns realizadores, como os de hoje, eram realmente pródigos em cenários e actores que tornavam os filmes muito caros; e não olhavam a despesas. Diz-se que Cecil De Mille usou 2.500 actores para rodar Os Dez Mandamentos, que, por alguns, ainda hoje, é considerado um dos clássicos do cinema.
Realizadores há que parece nunca se contentarem quando se trata de dar realismo e espectacularidade às suas obras. Em tempos idos, as coisas não eram assim tão fáceis de fazer, uma vez que não havia a ajuda dos efeitos especiais produzidos em computador. Não é, pois, surpreendente que muitas vezes houvesse mortos e feridos durante as filmagens.
Isso, assim de repente, faz-me lembrar que os avanços tecnológicos são bem mais fáceis de introduzir do que os avanços humanos. Ora bem, exactamente neste momento, não seria má ideia perguntar-me que mudança seria útil na minha vida...
«Examinai tudo e guardai o que é bom. Afastai-vos de toda a espécie de mal» (1Ts 5,21).
11. FÓRMULA PARA O FALHANÇO
Você gostaria de ser uma pessoa falhada? Se, por mera hipótese, a resposta for sim, então a receita é muito simples. Alguém, que parece entender do assunto, forneceu uma fórmula infalível em três passos.
Primeiro, faça uma fraca ideia do seu próprio potencial. É que, se rebaixar, nunca vai reconhecer nem sequer uma das muitas coisas que é capaz de fazer bem.
Em segundo lugar, não pense, nunca mais, em aprender mais nada, depois de ter deixado a escola obrigatória. Se parar o processo de aprendizagem, nunca mais se preocupará com mudar ou crescer, seja em que capítulo for.
Finalmente, convença-se que ninguém é capaz de fazer nada como você. Por isso, se disser que não precisa de ajuda, não vai receber nenhuma ajuda. Então, terá mesmo a certeza que está a percorrer o caminho mais curto para o falhanço.
Mas eu não gosto destas propostas. Por isso, lhe digo: se desejar alcançar o sucesso, então tente desenvolver as suas potencialidades. Continue a aprender todos os dias. Assim, estará sempre preparado para a mudança e para o crescimento. E, além disso – e não é tudo – reconheça e agradeça toda a ajuda que pode receber dos outros. Trabalhe com os outros e irá muito mais longe do que alguma vez sonhou.
«Quando vos reunis... que tudo seja feito de modo a edificar» (1Cor 14,16).
12. EDUCAÇÃO NA ESTRADA
A educação na vida das pessoas parece um bem comum cada vez menos comum. Na estrada, então, parece uma raridade. Sentar-se ao volante dum carro parece ter o condão de despertar nas pessoas o pior que há dentro delas.
Não sei se tem algum efeito estar a falar dos que conduzem mal. Aliás, tenho também as minhas dúvidas sobre se é possível controlar os outros. Mas creio que é possível influenciar os outros pela forma como nós próprios fazemos a nossa parte, ao conduzir com cuidado e com educação e cortesia.
Parece uma banalidade, mas temos que começar por manter o carro em bom estado. Depois disso, nunca conjugar o verbo conduzir com o verbo beber ou então com o consumo de drogas. Foi bem pensado o slogan que diz: «Se conduzir não beba. Se beber não conduza». Por muito que nos custe, é um dever cívico obedecer às leis e procurar saber o que significa «conduzir na defensiva».
Finalmente, antes de se pôr a caminho no carro, faça duas coisas: decida que não retalia se vir algum condutor ter uma atitude menos acertada ou até estúpida; e, se é crente, diga uma oração por si, pelos que vão consigo e por todos os que partilham a estrada consigo.
«Não retribuas o mal com o mal nem a injúria com a injúria» (1Pe 3,9).
13. MANTER O CONTROLO
Não tenhamos vergonha de o admitir. Há dias em que nos sentimos «abaixo de cão», como se costuma dizer. Parece que nada faz sentido. O pensamento mais comum que nos vem à cabeça é sempre o mesmo: «Mas para que serve tudo isto?». Já agora, não tenhamos também vergonha de admitir que este sentimento não é nada positivo. Olhe, deixo-lhe aqui algumas ideias que o podem ajudar a descobrir um pouco da razão das coisas e a direccionar a perspectiva.
Olhar para trás pode ajudar a compreender a vida. E, por vezes, é necessário fazer isso. Mas a verdade é que a vida tem que ser vivida para a frente, que é a única que se pode construir...
Por causa da preocupação de arranjar um modo de vida, que passa por um bom emprego, muitas vezes, esquecemo-nos de viver... A vida não é algo exterior a nós. Somos nós que a construímos e, para isso, é indispensável ser criativo e acreditar em nós mesmos, nas nossas capacidades, na nossa visão, na nossa maneira de ver, sem com isso excluir a maneira de ver dos outros...
Não peça uma carga leve, mas sim uns ombros fortes. As cargas pesadas custam mais a levar, mas enrijecem os ombros e ajudam a construir uma vida com mais sentido. E, já agora, se é crente, não se esqueça de confiar nos planos que Deus tem a seu respeito. Se Ele lhos dá, esteja certo que também lhe dará a força para os realizar.
«Porque Ele mesmo sofreu e foi posto à prova, pode socorrer os que são postos à prova». (Hb 2,18).
14.O MAIOR É O AMOR
Hoje, abri a Bíblia ao acaso. Ou melhor, confesso que não foi tanto ao acaso como isso, porque sabia mais ou menos onde estava aquilo que queria. É na página 1881 da minha edição. Fácil de fixar, não é verdade? Dezoito e oitenta e um. E, depois, para ser ainda mais fácil, acrescento que é o capítulo treze da primeira Carta aos Coríntios.
Diz assim: «O amor é paciente. O amor é prestável. O amor não é invejoso. O amor não é arrogante nem orgulhoso. O amor não faz nada de inconveniente. O amor não procura o seu próprio interesse. E não se irrita nem guarda ressentimento. O amor não se alegra com a injustiça, mas alegra-se com a verdade. O amor tudo crê, tudo espera, tudo suporta».
«O amor jamais passará. As profecias passarão, o dom das línguas passará e até a ciência acabará por ser inútil, pois o nosso saber é imperfeito. E também imperfeita é a nossa profecia. Mas, quando vier o que é perfeito, o que é imperfeito desaparecerá...».
«Agora vemos como num espelho; de maneira confusa. Depois, veremos face a face. Agora, conheço de modo imperfeito. Depois, conhecerei como sou conhecido. Agora existem estas três coisas: a fé, a esperança e o amor. Mas a maior de todas elas é o amor»
(1Cor 13, 4-10.12-13)
15. DE PEQUENINO...
O ouvinte pode não acreditar na história que segue. É dos anos 60. Mas seria o mesmo se fosse de hoje. O que interessa é a lição que dela se pode tirar. O Jaime Durão era um menino de dez anos e a sua persistência acabou por mudar os hábitos de toda uma comunidade. Ele gostava muito de ler, mas não tinha a possibilidade de o fazer na sua pequena aldeia. E a biblioteca pública mais próxima da sua casa ficava a cerca de 10km...
Por incrível que pareça, o Jaime Durão era mesmo durão. Estava decidido a fazer com que na sua terra houvesse uma biblioteca. E a biblioteca fez-se mesmo. Conseguiu levar os livros que já tinham sido postos de lado pela outra biblioteca e depois insistiu com o seu pai para ir, um pouco por toda a parte, recolher os livros que as pessoas não quisessem.
E então, apesar das dificuldades iniciais e também da desconfiança das pessoas, com a sua teimosia, conseguiu inaugurar uma livraria com cerca de 4000 volumes, mesmo antes de completar os onze anos.
Ora bem, esta é uma demonstração de como é necessário encorajar os mais novos a levar os seus projectos em frente. Toda a comunidade pode tirar benefício dessas iniciativas. E sobretudo as crianças conseguem, desde pequenas, descobrir as coisas que são capazes de fazer na sua vida pelos outros.
«Ponde todo o empenho em juntar à fé... o conhecimento» (cf. 2Pe 1,5).
16. A BONDADE DE UM BARBUD
Esta história passou-se na Califórnia. Mas é intemporal e pode-se passar em qualquer lado. É a história dum sem-abrigo com um enorme espírito de generosidade.
Chamava-se Raul Lopez e vivia debaixo duma ponte em Santa Cruz. Passava grande parte do seu dia à porta dum supermercado, mas não era para pedir dinheiro. Raul Lopez tinha uma pequena pensão de sobrevivência, por causa duma deficiência física, mas grande parte dessa pensão era partilhada com quem tinha ainda menos do que ele.
Uma vez, por exemplo, conseguiu arranjar modo de oferecer um televisor a três crianças cujos pais tinham sido postos na prisão. Outras vezes, lá conseguia dispensar os seus 20 dólares a alguns amigos da estrada, para que comessem algo quente.
Raul Lopez foi morto quando tentou resistir a uns malandros que lhe queriam roubar um cabaz de víveres que tinha comprado. E, no seu funeral, o capelão da Marinha realçou a maneira como Raul levava uma vida diferente...
É caso para dizer que os que vivem e dormem na rua são pessoas humanas como você e como eu. Por isso merecem não só compaixão, mas também respeito. Podem não ter suficiente para pagar uma renda, mas quem sabe se não alcançam, antes de nós, o paraíso por causa da sua caridade!
«Dai e dar-se-vos-á» (Lc 6,38).
17. QUE HAJA PAZ!
Consultar documentos antigos pode trazer surpresas. Hoje em dia, é mais fácil descobrir esses documentos e essas surpresas. Foi o que me aconteceu a mim, por acaso, ao deparar em algo que foi publicado num jornal há praticamente um século atrás.
Trata-se das palavras duma oração que foi publicada num jornal de Boston. Continuam a ser actuais para os dias que correm e para as cidades e bairros do nosso tempo. Ei-las:
«Ó Deus de bondade, compreensão e paz, ajuda a nossa querida cidade. Ajuda-a a manter a harmonia racial, a rejeitar a violência, a tudo fazer para chegar à compreensão. Faz com que cada um de nós descubra a necessidade que tem de Ti e a necessidade que tem dos outros. Faz com que haja paz no nosso coração, que haja paz na nossa cidade. E sobretudo faz com que esta paz comece por mim».
A harmonia racial e a não-violência exigem compreensão aceitação mútua, requerem a tolerância. Sem isso, não há nem cidades pacíficas nem mundo em paz.
Pelo menos uma coisa podemos fazer: curar o ódio que existe à nossa volta. E sobretudo o ódio que existe dentro de nós, com amor corajoso e forte. De resto, como já teremos descoberto, o ódio faz-nos mal sobretudo a nós mesmos.
«Fazei o bem àqueles que vos odeiam» (Lc 6,27).
18. A CADA UM O SEU DEVER
Quando acontece uma tragédia, um assassínio, um rapto, é natural que apareçam logo os detectives para descobrir o mistério e as pistas que levem à descoberta da verdade. Hoje em dia, esses factos já são também pasto, digamos assim, dos que andam à procura das «caixas» jornalísticas. Até dá a impressão que, mais do que chegar à verdade, o que interessa é o sensacionalismo que se gera à volta dessas notícias.
Pelos vistos, continua-se ainda a discutir quem é que assassinou, entre outros, Abraham Lincoln, John e Robert Kennedy e Martin Luther King. Claro que é óptimo perceber como é que alguém morre. Mas, caso isso não seja possível, não será melhor saber como é que alguém viveu a sua vida?
Martin Luther King percebeu isso muito bem. Reparem no que ele disse: «A verdade esmagada na terra voltará a surgir. Durará muito tempo? Não, não muito tempo. Porque nenhuma mentira pode durar para sempre. Apesar das aparências, Deus continua a vigiar sobre os seus... O arco do universo moral pode esticar muito, mas acaba por se dobrar em direcção à justiça».
Um conselho final: viva para a verdade; viva para a justiça!
«Não deixeis que o vosso coração se inquiete. Acreditais em Deus? Então, acreditai também em Mim» (Jo 14,1).
- TRAUMAS DE INFÂNCIA?
Hoje, segundo alguns, parece não ser politicamente correcto fazer exigências às crianças.
Bem, haverá casos – e há certamente – em que expor as crianças a expectativas demasiado altas só traz consequências desastrosas. Mas daí a concluir que não se pode exigir nada às crianças e que se lhes não pode oferecer um ideal, parece-me uma coisa tonta.
Serei eu que não percebo nada de nada. Mas a verdade é que, na vida concreta, sabemos bem que praticamente todos, quando crianças, fantasiamos em sermos alguém; nem que seja só sermos futebolistas ou bombeiros...
Isso deve levar-nos a concluir que até os grandes homens, os génios, os craques, como se diz agora, no fundo, não passam de pessoas normais no seu dia-a-dia. E assim devem ser consideradas as crianças, se as não quisermos estragar. Seja como for, se, na meninice, se deixa fazer tudo o que apetece e não se exige nada, não nos admiremos que, quando forem adultos, não saibam fazer nada e não sejam capazes de resolver os problemas mais simples.
Não exigir nada às crianças por medo de lhes estar a criar um trauma é o caminho mais curto para ficarem traumatizadas e viverem continuamente deprimidas, quando forem adultos. Seja bondoso, saiba louvar o bem quando a criança o faz, mas não deixe também de ser exigente, se quer que o seu filho ou o seu neto sejam pessoas não realizadas.
«Se alguém pensa que sabe alguma coisa, ainda não sabe como deveria saber» (1Cor 8,2).
- CORRER ATRÁS DA FELICIDADE
Li o outro dia uma pequena história em que só acredita quem quiser. Deu-se o caso de um cão já crescido se pôr a reparar num cão mais pequeno. Este desesperava a correr atrás da sua própria cauda. «O que estás para aí a fazer?» – perguntou o maior. «Ando à procura da felicidade» - foi a resposta do mais pequeno. «Alguém me disse que a felicidade está na minha cauda e eu tenho a certeza que, quando a apanhar, serei feliz».
O cão maior disse-lhe que também tinha ouvido isso quando era mais pequeno, mas, mais tarde, descobriu que, quanto mais corria atrás da cauda, mais ela fugia. Por isso, «agora – acrescentou – fico tranquilo e faço só o que os cães devem fazer. E assim descubro que a felicidade vem ter comigo».
Ora bem, esta é apenas uma historieta. Mas as histórias têm sempre uma lição e a nós cabe descobri-la. Eu atrevo-me a dizer: em vez de andarmos às voltas, atrás de tantas coisas, porque é que não tentamos relaxar – como agora se diz – e fazemos aquilo que as pessoas devem fazer? Por exemplo, se ajudarmos alguém a ser mais feliz, havemos de notar, sem dificuldade que o dom da felicidade vem ter connosco.
Isso faz-me recordar as palavras que o próprio Jesus Cristo disse: «A felicidade está mais em dar do que em receber» (Act 20,35).
21.EXPULSO PELOS SEUS
Depois de andar algum tempo de lugar em lugar com os seus amigos, um dia, Jesus voltou à sua terra. Ao sábado, como era costume, foi à sinagoga, que era a igreja daquele tempo. O evangelista não chega a dizer muito sobre o que lá se terá passado. Mas a verdade é que, pelos vistos, aquela gente não gostou nada do que ouviu.
Prova disso são as palavras que o evangelista nos deixa: «Mas não é ele o filho do carpinteiro, o filho de Maria? Os seus primos não são o Tiago, o José, o Judas e o Simão, que nós bem conhecemos? E as suas primas não vivem também aqui entre nós? Afinal, quem acha que ele é, para vir para cá com essas coisas?» (cf. Mc 6,3). E o evangelista conclui: «E não queriam acreditar nele».
Ora bem, quando alguém não encaixa lá muito bem nos nossos esquemas, a nossa reacção mais natural é ignorá-lo. Por vezes, até tentamos ridicularizá-lo. O que aconteceu com Jesus na sinagoga de Nazaré pode acontecer também com outras pessoas. No caso de Jesus, quando não correspondeu às expectativas, depressa se puseram contra ele.
O evangelista diz-nos que Jesus não pôde fazer ali grande coisa, porque as pessoas se fecharam à sua mensagem. Não é que também nós nos fechamos nos nossos preconceitos quando aparece alguém que vê as coisas de modo diferente? Quando então alguém mexe com os nossos hábitos e costumes, as coisas ainda pioram. E quem sabe se não somos capazes de pôr em causa o seu nome, só para nos vermos livre dele! Isso não é humano e muito menos cristão.
21. CORTESIA DE UM ESTRANHO
Naquela noite, quando um doutor e a sua esposa gastaram os seus últimos trocos para comprar dois bilhetes de ópera, nem sequer se lembraram que ainda teriam que pagar o lugar no parque, onde tinham deixado o carro depois da sessão.
Por acaso, falaram do assunto do carro no parque a uma senhora que nunca tinham visto em lado nenhum. O doutor disse-lhe que, sendo amantes da ópera, em todo o seu entusiasmo, nem sequer se tinham lembrado de que não lhes restava mais nenhum dinheiro. Então, aquela senhora respondeu-lhes que, mesmo assim, tinham tido sorte, porque o teatro estava mesmo a rebentar pelas costuras.
Mas a senhora não se limitou a fazer esse comentário. Pegou em trinta euros e entregou-lhos, porque achou que valia bem a pena gastar esse dinheiro para que alguém pudesse gozar de momentos de tão pura arte. E, assim, aquela cortesia permitiu que o resto de noite daquele casal pudesse passar-se sem preocupações.
É certamente um caso estranho, improvável, mas garantem-me que aconteceu. Mas, mesmo que seja tudo inventado, o caso serve para dizer que a generosidade para com os outros – amigos e estranhos – pode causar surpresas. Por vezes, chegamos até a surpreender-nos a nós mesmos quando fazemos um inesperado acto de generosidade.
«Dá a quem te pede e não voltes as costas a quem te pede emprestado» (Mt 5,42).
22. IMIGRANTE DETERMINADO
Shan Lin é alguém a quem podemos chamar um sobrevivente. Mas ele é apenas um caso entre muitos. No seu caso, ele e a sua família escaparam do regime comunista três vezes.
Em primeiro lugar, escapou da China, juntamente com os seus pais e outros familiares, quando ainda era criança. A família começou por fixar residência no Vietname do Norte. Aí se passaram alguns anos. Ele, quando chegou à idade adulta, casou e teve filhos. Mas os comunistas tomaram controlo do Vietname do Norte e Shan Lin teve de fugir para o Sul.
Mais tarde, quando também o Vietname do Sul caiu em poder dos comunistas, viu-se, mais uma vez, obrigado a fugir. Desta vez, fugiu para os Estados Unidos; como aconteceu a tantos outros. Aí, ele prosperou e viveu despreocupado durante alguns anos.
Mas, um dia, teve o azar de ser colhido por um automóvel e os médicos tiveram que lhe amputar as duas pernas, dos joelhos para baixo. E disseram-lhe também que nunca poderia voltar a andar. Mas eles não conheciam a têmpera do Sr. Shan Lin. Não só aprendeu a andar com a ajuda de pernas artificiais, como construiu a sua própria casa e restaurante e hoje vive feliz rodeado de uma família bem estruturada.
Esta história faz-me lembrar uma frase que os hebreus, que tinham escapado da escravidão do Egipto, repetiam quando já estavam na Palestina: «Fui um judeu errante numa terra peregrina» (cf. Ex 18,3).
23.SEGURANÇA EM CASA
Hoje, começo por fazer uma pergunta que parece inocente: será a sua casa segura para as crianças? Embora lhe possa parecer que sim, não se trata de uma pergunta frívola. Segundo uma conclusão estatística, que li ultimamente, os acidentes em casa são a primeira causa de morte infantil. São esses os dados que eu consegui apurar.
Essa notícia referia, por exemplo, em concreto, o caso da cidade norte-americana de Houston, onde, num período de dois meses, 12 crianças foram atingidas por balas disparadas acidentalmente. Seis dessas crianças morreram.
Em todos esses casos, com excepção de um, verificou-se que foram as próprias crianças que brincavam com as armas dos seus pais. Por isso, não é demais tudo o que se possa fazer para proteger as crianças desses acidentes.
Se, porventura, tem alguma arma, nunca se esqueça – mas nunca – de a ter bem escondida e fechada à chave. Mais: certifique-se de que nunca – mais nunca – a deixa carregada.
Coloque também todos os tipos de venenos, remédios e detergentes fora do alcance das crianças. Por outro lado, tenha a preocupação de isolar convenientemente quaisquer tomadas de electricidade a que as crianças possam ter acesso. Reserve uma área segura para as brincadeiras. Tenha uma atenção especial à segurança. E mais: sugira aos outros membros da família, aos amigos e aos vizinhos para fazerem o mesmo.
Termino com uma recomendação: o pior pode acontecer quando menos se espera.
24. CURIOSIDADE ESTÚPIDA
Sei que vou pregar no deserto, mas aqui vai à mesma. Porque é que algumas publicações – mais do que seria de esperar – dedicam tanto espaço a notícias más e sensacionalistas? Porque é que as tragédias e os desastres têm o condão de atrair o interesse de tantos leitores e espectadores? Porque cedemos tão facilmente à curiosidade mórbida ou ao desejo de saber mais sobre os casos que são pouco agradáveis?
Alguns entendidos – e há entendidos para tudo e mais alguma coisa – são unânimes em afirmar que esta espécie de curiosidade é normal. Mas não sabem explicar se é uma coisa intrínseca à natureza humana ou se é algo que se aprende à custa de estar sempre exposto a ela.
É bom ser inquisitivo, digamos assim, ter vontade de aprender. Mas estou convencido de que a curiosidade mórbida devia ser controlada. Agora, também sei que, quando falo em controlo, há sempre alguém com vontade de me chamar retrógrado e bota-de-elástico. Mas nem por isso vou deixar de dizer que nos devíamos preocupar mais com ser positivos; e, neste aspecto, os meios de comunicação têm também as suas responsabilidades.
Porque não se dá mais importância às coisas boas que acontecem à nossa volta, às maravilhas da natureza e também à bondade que existe à nossa volta? Também as boas notícias e a beleza podem satisfazer a nossa curiosidade. Por isso, insisto que as coisas boas da vida e das pessoas podem ser uma resposta às notícias más e sensacionalistas.
«Livra-me, Senhor, da conspiração dos malvados e do tumulto dos que praticam a iniquidade» (Sl 64,3).
25. COMPANHIA PARA TODA A VIDA
Caíram-me entre mãos duas ou três frases dum ensaísta de língua inglesa chamado Joseph Addison. São sobre educação. Segundo a sua maneira de ver, a educação não se pode nem se deve reduzir ao que se pode chamar escolarização. Em muitos casos, parece ser essa a única preocupação de muita gente, que foge da ética na educação como o diabo foge da cruz.
Joseph Addison descreveu a educação como «uma companheira que nenhuma desgraça pode deprimir, que nenhum crime pode destruir, que nenhum inimigo pode alienar e que nenhum despotismo pode escravizar». «Em casa – continua ele – a educação é um amigo e fora de casa uma porta de entrada. Na solidão, a educação é consolo e na sociedade um ornamento. A educação mitiga o vício e guia a virtude. Sem educação – conclui – o que é o homem senão um esplêndido escravo ou um selvagem que raciocina?».
Podem parecer só palavras bonitas, mas estou convencido de que a forma como vemos a vida depende da educação que recebemos. Muitos jovens acham uma perda de tempo o tempo que gastam na escola. Infelizmente, essa é uma mentalidade que, grande parte das vezes, herdam dos pais ou supostos educadores.
Mas, nada estada perdido. Não esqueçamos também que a verdadeira educação às vezes começa quando deixamos a escola. O importante é estarmos convencidos de que é sempre tempo de aprender e que nunca devemos deixar de aprender.
26. LIDAR COM O STRESS
Hoje, é quase obrigatório falar de stress. Até parece que estamos fora de moda se não falarmos desse assunto. A sua vida, amigo ouvinte, também é percorrida pelo stress? Se não é, então, se calhar, já não pertence ao número dos vivos. E, no entanto, todos reconhecemos que o stress não é nada de bom, antes pelo contrário, é uma doença...
Independentemente de outras considerações, quer saber algumas dicas de como ultrapassar o stress? Então escute:
- Estabeleça uma lista de prioridades – pouco grande – e seja fiel a essas prioridades;
- Tome gosto por qualquer desporto, qualquer hobby. Sei lá, pode ser música, leitura, passeios. Pode parecer difícil e é, mas são autênticas válvulas de escape;
- Procure saber quando é que lhe acontece ter mais tendência para o stress e então prepare-se para isso. Diz-se que pessoa prevenida vale por duas. Pois bem, isso também vale neste caso;
- Tenha cuidado com a alimentação. Comer demais faz tanto mal como comer de menos;
- Não se esqueça: dormir as horas suficientes é meio alimento;
- Finalmente, planeie sempre as suas actividades com cuidado.
O stress, em palavras pobres, é a reacção do organismo à mudança, seja boa ou má. Então, enfrentado como deve ser, o stress pode ser um amigo; fora de controlo, é uma desgraça. Fique ciente de que, para além do stress mau, também há um stress bom.
27. 28. DEIXEM FALAR OS JOVENS
Numa página interna, li, não há tanto tempo, que uma jornalista tinha chegado à conclusão que, hoje em dia, são as crianças que, por vezes, levam os seus pais a deixar os maus hábitos. A notícia despertou-me a atenção, embora reconheça que não se trata de uma descoberta tão espantosa como isso. Sempre aconteceram desses factos.
Nos tempos que correm, os jovens – e em especial as crianças – estão muito mais atentos aos problemas do ambiente. Aqui há quarenta anos, já se começava a ouvir falar de ecologia, mas, na verdade, muito pouca gente sabia o que isso era. Mas hoje não é assim tão raro, serem as crianças a recordar aos pais que é preciso poupar energia. Há casos até em que são os pequeninos dos jardins-de-infância que trazem esses conhecimentos para casa.
Ainda bem que estas questões se levantam. São precisamente os que agora são crianças que terão que lidar com elas no futuro. É, portanto, muito bom que comecem por ser encorajados a lidar com isso desde agora. Tomar medidas positivas para os resolver é o primeiro passo tanto para filhos como para pais. Não se limite a perguntar: «o que é que eu posso fazer para mudar o mundo?». Esta, se calhar, é uma pergunta inútil. Leia, informe-se e faça qualquer coisa no lugar onde está. Então, sim, talvez descubra que já fez algo para mudar o mundo.
«Como é grande a casa do Senhor e vasta a extensão dos seus domínios!» (Br 3,24).
- MANEIRAS DE AMAR
Quando, em 1966, o Juan Pablo e a Cátia Millones, da Cidade do México se casaram, tencionavam ter uma grande família. Prometeram e cumpriram. Duas décadas depois, eles tinham 26 filhos. Exagero? Bem, nesse número, estavam incluídos 20 filhos adoptivos com várias deficiências, desde as deficiências mentais até ao sindroma de Down.
Cinco dos filhos que adoptaram que viviam em cadeiras de rodas. Outros tinham sido maltratados antes de serem entregues à família Millones. Não me perguntem como se processaram essas adopções, porque não o sei. O que sei é que, à medida que a família ia crescendo, os outros filhos eram sempre consultados sobre a adopção de um novo filho. A resposta entusiasta era sempre a mesma: força, para a frente!
Os factos são estes. E eu não vou fazer grandes comentários, até porque não é preciso. O que não posso calar é que o amor gera sempre mais amor. Uma pessoa que ama parece que tem uma capacidade quase inesgotável de amar cada vez mais. Mais ainda: quanto mais amor se dá, mais amor se tem para dar.
Seja uma pessoa amorosa e tenha a certeza da ajuda de Deus. Para além disso, produzirá abundantes frutos. Comento isto com uma frase do apóstolo S. João: «Amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus» (1Jo 4,7). Aliás, deixe-me terminar com uma outra frase dos Actos dos Apóstolos:
«Há mais felicidade em dar do que em receber» (cf. Act. 20, 35b).
- MARAVILHAS TECNOLÓGICAS
Não é preciso ser cientista ou entendido na matéria para afirmar que a tecnologia transformou a nossa vida. É espantoso como as coisas mudaram nestes últimos 50 anos graças à tecnologia. Outros terão dito o mesmo em épocas passadas. Estou em crer que as crianças de hoje, daqui a cinquenta anos, dirão maravilhas do que serão os avanços tecnológicos futuros.
Mas a tecnologia, como tudo na vida, tem também o reverso. O problema é esquecermo-nos disso facilmente. A tecnologia muda a nossa vida, mas nem sempre da forma como gostaríamos. O próprio autor da fórmula da energia atómica terá comunicado os seus receios a respeito da sua invenção, que deu também origem à bomba atómica.
Dizia-se que o computador, por exemplo, ia acabar com a burocracia e com a papelada nos escritórios. Já todos nos demos conta que não é exactamente isso o que está a acontecer. De facto, há cada vez mais impressoras e impressos nas nossas secretárias. Sei lá, as técnicas para combater os fogos são cada vez mais sofisticadas, mas será que os fogos são apenas a responsabilidade de alguns doidos que se andam por aí a divertir com o fogo?
Não nos esqueçamos – novos e menos novos – que, a par duma nova invenção tecnológica, há sempre novos perigos. Ou seja, da tecnologia devemos passar ao comportamento pessoal. Por outras palavras, há que pensar sempre nas consequências das nossas decisões e acções. E isto não só a nível de políticos (obviamente também), mas a nível individual.
«Senhor, ajuda-nos a manter sempre um sentido de equilíbrio nas nossas vidas».
11.SER SALVO OU NÃO
- Paulo gostava muito da comunidade que tinha fundado na cidade de Corinto. Era uma comunidade formada por gente simples, mas que ia facilmente atrás das modas. Por isso, escrevendo-lhes duas Cartas, por vezes, é um pouco duro com eles.
Como acontece com tanta outra gente, também os cristãos de Corinto pensavam que bastava fazer umas quantas coisas para se sentirem bem de consciência. Quanto ao resto, bem-vindas fossem as modas. Eles chegaram mesmo a acreditar em certas pessoas que, talvez com inveja de S. Paulo, diziam que não era verdade que Jesus tivesse ressuscitado.
Neste capítulo, Paulo foi muito duro. Aliás, eu devo acrescentar que é muito duro, porque hoje as suas palavras são para nós. Ele diz que, se Cristo não ressuscitou, se não voltou à vida, então é vã e inútil a nossa fé. E é; porque estamos a pôr a nossa confiança absoluta em alguém que, afinal, por maior e mais interessante que seja, não passa de uma simples pessoa humana.
Se nós podemos apostar a nossa vida em alguém, é só em alguém que possa a dar a vida que não tem fim. Se não é assim, como diz também S. Paulo, então apostamos numa coisa inútil e, nesse aspecto, então somos os mais infelizes de todos. Daí S. Paulo concluir, para os cristãos de Corinto – e para nós também: o Jesus em quem apostamos a nossa vida é o próprio autor da vida, Ele próprio é Deus. Só Deus é digno de que apostemos a nossa vida nele. Bem, ouvinte, espero que esta reflexão não tenha sido demasiado difícil.
- TRABALHAR PELA PAZ NA PRISÃO
O marido da D. Rita Cavalheiro exerce a função de juiz. Mas parece que, apesar disso, a sua mulher não consegue estar muito tempo fora da prisão.
É que a senhora Cavalheiro faz trabalho de voluntariado num Centro Correccional de Menores numa localidade que não é caso para aqui mencionar. Ela gasta 40 horas por semana na implementação de um programa que tem por objectivo ajudar os detidos a formar planos e a tomar decisões para, no futuro, se poderem inserir positivamente na sociedade.
Ela olha para essa actividade não só como parte do processo de reabilitação, mas também como um contributo importante para a paz. As prisões – diz ela – são, tradicionalmente, lugares de violência. É triste dizê-lo, mas é assim. Ora bem, ao actuar a esse nível, consegue-se ter um papel importante na redução da violência, contribuindo também para o ambiente geral do estabelecimento prisional.
A propósito, eu diria que cada lar, cada vizinhança, cada cidade, cada país, precisa de indivíduos que dediquem parte do seu esforço para criar um ambiente de paz. Nas suas acções e atitudes, nos seus pensamentos, amigo ouvinte, seja um construtor de paz.
«Felizes os pacificadores porque serão chamados filhos de Deus» (Mt 6, 9).
- MENSAGEM NA ACÇÃO
Um homem visitou um dia a Casa da Caridade, que é uma casa para os que morrem sem ninguém em Calcutá, Índia. A zona da cidade chama-se Nirmol Hridoy. Como se sabe, as Irmãs que tomam conta dessa organização são as Missionárias da Caridade, fundadas pela famosíssima Madre Teresa de Calcutá.
Então, esse homem disse a uma das Irmãs: «Eu cheguei aqui com tanto ódio no meu coração. Cheguei aqui totalmente vazio, sem fé, sem esperança. E vi uma das Irmãs, lá dentro, a prestar uma atenção completa àquele doente. Fiquei convencido que, naquele momento, para aquela Irmã, não havia nada de mais importante no mundo. Agora, regresso um homem diferente. Agora acredito que há um Deus e que Ele ainda nos ama».
Com muita frequência, na nossa vida, as nossas acções podem falar – e falam – muito mais que as nossas palavras. Já o diziam os antigos: «as obras permanecem; as palavras, leva-as o vento». Por isso o meu convite é para não termos medo que as nossas acções falem bem alto da nossa bondade, da nossa educação, do nosso amor pelos irmãos e irmãs de todos os dias.
«Não é aquele que diz: Senhor, Senhor, que entrará no Reino dos céus, mas sim aquele que fizer a vontade do Pai que está nos céus». (cf. Mt 7,21)
- SABER ESCUTAR
Possivelmente, o amigo ouvinte, de vez em quando, ouve frases que o fazem reflectir. A mim também me acontece o mesmo. E também me acontece ouvir ou ler novamente certas coisas que me levam a partilhá-las. Foi o que me aconteceu ultimamente.
A frase que li diz assim: «Temos dois ouvidos e apenas uma boca. Assim, podemos escutar mais e falar menos». Dizem-me que é uma frase dum escritor clássico. O autor não é o que mais interessa. Seja como for, é bem verdade o que ele diz. Inclusivamente, até houve um técnico de futebol que disse que preferia falar menos e apresentar melhores resultados. Também não é uma frase descabida.
Um outro pensamento que é bom para todos é o seguinte: «Devemos ser lentos para castigar e prontos para recompensar». Não discuto a frase. Acrescento apenas uma nota: como regra, nós somos muito mais rápidos a castigar do que a recompensar. Já agora, mais uma citação dum senhor chamado Demonax. Quando lhe perguntaram como é que alguém podia governar melhor, respondeu: «Sem ira, falando pouco e escutando muito».
Estar pronto para ouvir, ser cuidadoso no falar e não se precipitar quando a gente tem que se irar, parecem-me excelentes conselhos para a vida.
«Não haja muitos que pretendam ser mestres. Se procedermos assim, teremos um julgamento mais severo, pois todos nós falhamos com frequência» (cf. Tg 3,1-2).
- MISSÃO «ESPERANÇA»
É mais comum do que se poderá pensar que, entre as pessoas tidas como menos importantes, haja gestos que merecem louvor. A esse propósito, estou agora a lembrar-me dum humorista, que, embora pouco conhecido, era escritor ao mesmo tempo. Ele deu um apoio importante a uma causa chamada «Esperança». Ele próprio descreveu essa organização como «um grupo de sonhadores que percorreram o Rio Amazonas dum lado para o outro, distribuindo medicamentos, amor e a própria vida, durante vinte anos».
Mais concretamente, essa organização foi fundada nos anos setenta por um padre franciscano estrangeiro, que era médico. Chamava-se Luke Tupper. O Pe. Tupper achava que a medicina era uma profissão sagrada; e que cada pessoa que encontramos deve ser tratada com toda a dignidade e respeito.
A Fundação «Esperança» atrai ainda hoje muitos profissionais da saúde e outros voluntários que, de boa vontade, fazem trabalho de imunização, cirurgias, e prestam outros cuidados médicos e dentários em muita gente das margens do Rio Amazonas. Qual a recompensa dessas pessoas? Bem, calor insuportável, mais trabalho do que podem fazer; e a satisfação de servir os seus irmãos e irmãs em necessidade. Mas, à própria custa, todos eles aprendem que há mais felicidade em dar do que em receber (cf. Act 20,35).
- TRAÇAR OBJECTIVOS
Quando um psiquiatra tentou dizer a Michelle Alioto que a sua vida iria ser limitada em consequência duma lesão gravíssima na espinha dorsal, ela virou-se para ele e respondeu: «O senhor não tem razão. Eu posso fazer tudo o que quiser». Michelle tinha, na altura, treze anos.
Ela era uma jovem, a entrar na vida adulta. Mas já demonstrava que uma cadeira de rodas não significa uma vida por realizar. Ela sentia-se realizada e como! Ela nadava, jogava ténis e também basquetebol.
Aliás, numa eleição realizada no seu distrito, ela foi escolhida para representante nacional da organização da juventude. Mais: um ano mais tarde, representou o seu país numa conferência internacional sobre deficiência motora. Hoje, ela é uma perita na matéria e planeia empreender uma carreira na política para defender os direitos dos que estão nas mesmas condições que ela.
Por este exemplo de vida, pode-se concluir que não há obstáculos intransponíveis para os que têm a atitude correcta. Agora, os que põem limites a si mesmos, mesmo não sendo aparentemente deficientes, são os que realmente são limitados e nunca chegam a lado nenhum. E há tantos assim! Portanto, o importante é colocar as expectativas bem alto e também confiar em Alguém que segue os nossos passos de maneira constante, mesmo e talvez ainda mais, quando menos julgamos.
«O próprio Senhor irá à tua frente. Ele está contigo. Não deixará que o teu joelho se dobre e não te abandonará. Não temas, portanto, nem desanimes» (Dt 31,8).
- A BELEZA É...
Emílio Rojas é um escritor sul-americano. Mas não é por ser sul-americano que eu o estou a citar. Seria o mesmo se fosse europeu ou asiático. O que me leva a citar o seu nome é o facto de ter escrito uma bela página – ou melhor, uma história – sobre o que ele entende por beleza.
Havia um grande mestre que tinha vários discípulos. Um dia, um dos discípulos, levado pela beleza que via à sua volta, perguntou ao seu grande mestre como é que podia levar os outros a ver e a experimentar tão grandes belezas. «O que tu perguntas é difícil» – respondeu-lhe o velho mestre. «Para poder ver e sentir a beleza à sua volta, uma pessoa, primeiro, deve ser – e sentir-se – bonito». «Mas, mestre, como é que se pode saber se alguém é belo?» – perguntou o discípulo. «E se esse alguém não é belo, como é que o pode vir a ser?»
«A beleza é uma parte do amor» – explicou o mestre. «A beleza é ser suficientemente grande para dar e suficientemente humilde para receber. Ajudar os outros a descobrir a beleza é abrir o próprio espírito a ideias nobres e generosas. É tirar a máscara do egoísmo que cobre o coração e desatar as amarras que prendem o coração». Se não me engano, já lá dizia o mesmo por outras palavras um senhor muito conhecido que dá pelo nome de Sheakespeare. É uma questão de abrir a mente e o coração.
- A COR DA PELE
Ouve-se falar com frequência de racismo. Talvez mais do que seria desejável. Como regra, cada um de nós tem a tendência natural a pensar que racistas são os outros. Pois bem, não temos que estar a pôr culpas aos outros. Isso é demasiado fácil e não resolve nada. Se, ao contrário, quisermos saber, de verdade, se a cor influencia ou não os nossos sentimentos e atitudes, talvez não seja má ideia fazermos apenas algumas perguntas.
Sei lá, tendo que dar uma dentada num morango, dá-la-ia à mesma se, em vez de um esplendoroso vermelho, ele apresentasse uma cor arroxeada ou negra? Se, por qualquer motivo, precisasse de alguém para dirigir uma obra qualquer, entregá-la-ia a uma pessoa de cor, tendo uma pessoa branca para o mesmo trabalho? Se tivesse que escolher alguém para dirigir um hospital, teria ou não alguma dúvida em escolher alguém que não fosse branco? São perguntas pessoais.
Segundo uma psicóloga americana, chamada Elisabetgh Marek, «as cores podem atrair e repelir, tirar lembranças do mais profundo do inconsciente, dar energia, levar as pessoas para os outros ou definir o carácter duma pessoa ou até mesmo curar». E ela acrescenta: «A preferência pelas cores está enraizada em associações subconscientes, derivadas da cultura, do local e da forma como se é educado, da forma como os sentimentos são ensinados».
Não sei se o que acabou de ouvir tem algum interesse ou não. Mas, olhe, pense nisto da próxima vez que tenha que vestir uma camisola vermelha ou tenha que fazer um julgamento baseado na cor da pele. Não deixemos que o exterior apague por completo o que está dentro das pessoas. É certo que os tempos de hoje e as técnicas de marketing dão uma importância muito grande ao exterior, mas não será que o mais importante é o que está dentro?
- AS INSÍDIAS DA INVEJA
Pessoalmente, saber se a inveja é ou não um pecado capital não é o que mais me interessa. Agora, o que sei é que a inveja não é uma coisa nada bonita. E também não é só algo que se verifica quando se trata de relacionamento pessoal e familiar. Há inveja em todos os ramos de actividade; e, dum modo particular, no local de trabalho.
De alguma forma, é uma coisa compreensível. Mas não justificável necessariamente. Seja como for, é sabido que um neo-empregado – passe a expressão – merece do patrão mais atenção que os outros. Essa atenção ao novato pode até ser necessária, mas a verdade é que os outros empregados levam isso a mal. E talvez seja por isso que, tantas vezes, os empregados mais velhos são bem capazes de fazer a vida negra ao mais novo. É certamente o bicho da inveja a produzir efeitos.
Em qualquer casa, acrescento que há inquéritos para tudo. E até foi feito um numa determinada fábrica segundo o qual três quartos dos empregados disseram que tinham sido testemunhas ou tinham mesmo estado envolvidos em incidentes de inveja; isso no que ao mês anterior dizia respeito. As pessoas tendem a pensar que a aplicação no trabalho – o que é uma coisa óptima – lhes confere direito a esperar ter prémios extra e, por isso, ficam todos verdes se, por qualquer motivo isso não acontece, porque não se sentem suficientemente valorizados.
É certo que o dever do empregado é fazer bem o trabalho que lhe é atribuído e não pode nem deve esperar mais por isso. Mas não deixa de ser também verdade que aos empregadores cabe o bom senso de evitar que aconteçam coisas que originem as invejas e, consequentemente, o mal-estar. Haverá muita coisa em que as decisões podem e devem ser tomadas em conjunto para que as coisas funcionem melhor.
- A MÚSICA CONTINUA
O falecido e grande músico Louis Armstrong continua a dar cartas. Quem é que não ouviu já falar dele? Quem nunca ouviu nenhuma das suas músicas? Armstrong nasceu em 1901 e fez furor durante as várias décadas em que actuou. Os seus hits mais conhecidos são talvez Everybody Loves My Baby, dos anos 20 e Hello, Dolly dos anos 60.
Embora Armstrong tenha morrido em 1971, o interesse pela sua obra continuou. E continua a ser redescoberto de forma constante. Por exemplo, ele foi como que apresentado a novos ouvintes por meio do filme Good Morning, Vietnam de 1988, quando a sua canção de 1967 What a Wonderful World se tornou um sucesso, continuando a ser tocada, de vez em quando, hoje em dia, nas rádios que nós escutamos.
O carisma deste homem, natural de Nova Orleães, trouxe e trará sentimentos de profunda alegria e milhões de pessoas. Transpondo isto para o plano pessoal, isso quer dizer que o bem que fazemos, a alegria que partilhamos aos outros dura muito para além daquilo que nós poderemos imaginar e atinge as pessoas muito para além do que nós poderemos esperar.
«Cantai hinos ao Senhor, terra inteira...Cantai ao Senhor, ao som da harpa, ao som de cornetins e de trombetas. Aclamai o nosso rei e Senhor» (Sl 98,5-6).
- EXPULSO PELOS SEUS
Depois de andar algum tempo de lugar em lugar com os seus amigos, um dia, Jesus voltou à sua terra. Ao sábado, como era costume, foi à sinagoga, que era a igreja daquele tempo. O evangelista não chega a dizer muito sobre o que lá se terá passado. Mas a verdade é que, pelos vistos, aquela gente não gostou nada do que ouviu.
Prova disso são as palavras que o evangelista nos deixa: «Mas não é ele o filho do carpinteiro, o filho de Maria? Os seus primos não são o Tiago, o José, o Judas e o Simão, que nós bem conhecemos? E as suas primas não vivem também aqui entre nós? Afinal, quem acha que ele é, para vir para cá com essas coisas?» (cf. Mc 6,3). E o evangelista conclui: «E não queriam acreditar nele».
Ora bem, quando alguém não encaixa lá muito bem nos nossos esquemas, a nossa reacção mais natural é ignorá-lo. Por vezes, até tentamos ridicularizá-lo. O que aconteceu com Jesus na sinagoga de Nazaré pode acontecer também com outras pessoas. No caso de Jesus, quando não correspondeu às expectativas, depressa se puseram contra ele.
O evangelista diz-nos que Jesus não pôde fazer ali grande coisa, porque as pessoas se fecharam à sua mensagem. Não é que também nós nos fechamos nos nossos preconceitos quando aparece alguém que vê as coisas de modo diferente? Quando então alguém mexe com os nossos hábitos e costumes, as coisas ainda pioram. E quem sabe se não somos capazes de pôr em causa o seu nome, só para nos vermos livre dele! Isso não é humano e muito menos cristão.
- CORTESIA DE UM ESTRANHO
Naquela noite, quando um doutor e a sua esposa gastaram os seus últimos trocos para comprar dois bilhetes de ópera, nem sequer se lembraram que ainda teriam que pagar o lugar no parque, onde tinham deixado o carro depois da sessão.
Por acaso, falaram do assunto do carro no parque a uma senhora que nunca tinham visto em lado nenhum. O doutor disse-lhe que, sendo amantes da ópera, em todo o seu entusiasmo, nem sequer se tinham lembrado de que não lhes restava mais nenhum dinheiro. Então, aquela senhora respondeu-lhes que, mesmo assim, tinham tido sorte, porque o teatro estava mesmo a rebentar pelas costuras.
Mas a senhora não se limitou a fazer esse comentário. Pegou em trinta euros e entregou-lhos, porque achou que valia bem a pena gastar esse dinheiro para que alguém pudesse gozar de momentos de tão pura arte. E, assim, aquela cortesia permitiu que o resto de noite daquele casal pudesse passar-se sem preocupações.
É certamente um caso estranho, improvável, mas garantem-me que aconteceu. Mas, mesmo que seja tudo inventado, o caso serve para dizer que a generosidade para com os outros – amigos e estranhos – pode causar surpresas. Por vezes, chegamos até a surpreender-nos a nós mesmos quando fazemos um inesperado acto de generosidade.
«Dá a quem te pede e não voltes as costas
a quem te pede emprestado» (Mt 5,42).
- IMIGRANTE DETERMINADO
Shan Lin é alguém a quem podemos chamar um sobrevivente. Mas ele é apenas um caso entre muitos. No seu caso, ele e a sua família escaparam do regime comunista três vezes.
Em primeiro lugar, escapou da China, juntamente com os seus pais e outros familiares, quando ainda era criança. A família começou por fixar residência no Vietname do Norte. Aí se passaram alguns anos. Ele, quando chegou à idade adulta, casou e teve filhos. Mas os comunistas tomaram controlo do Vietname do Norte e Shan Lin teve de fugir para o Sul.
Mais tarde, quando também o Vietname do Sul caiu em poder dos comunistas, viu-se, mais uma vez, obrigado a fugir. Desta vez, fugiu para os Estados Unidos; como aconteceu a tantos outros. Aí, ele prosperou e viveu despreocupado durante alguns anos.
Mas, um dia, teve o azar de ser colhido por um automóvel e os médicos tiveram que lhe amputar as duas pernas, dos joelhos para baixo. E disseram-lhe também que nunca poderia voltar a andar. Mas eles não conheciam a têmpera do Sr. Shan Lin. Não só aprendeu a andar com a ajuda de pernas artificiais, como construiu a sua própria casa e restaurante e hoje vive feliz rodeado de uma família bem estruturada.
Esta história faz-me lembrar uma frase que os hebreus, que tinham escapado da escravidão do Egipto, repetiam quando já estavam na Palestina: «Fui um judeu errante numa terra peregrina» (cf. Ex 18,3).
- SEGURANÇA EM CASA
Hoje, começo por fazer uma pergunta que parece inocente: será a sua casa segura para as crianças? Embora lhe possa parecer que sim, não se trata de uma pergunta frívola. Segundo uma conclusão estatística, que li ultimamente, os acidentes em casa são a primeira causa de morte infantil. São esses os dados que eu consegui apurar.
Essa notícia referia, por exemplo, em concreto, o caso da cidade norte-americana de Houston, onde, num período de dois meses, 12 crianças foram atingidas por balas disparadas acidentalmente. Seis dessas crianças morreram.
Em todos esses casos, com excepção de um, verificou-se que foram as próprias crianças que brincavam com as armas dos seus pais. Por isso, não é demais tudo o que se possa fazer para proteger as crianças desses acidentes.
Se, porventura, tem alguma arma, nunca se esqueça – mas nunca – de a ter bem escondida e fechada à chave. Mais: certifique-se de que nunca – mais nunca – a deixa carregada.
Coloque também todos os tipos de venenos, remédios e detergentes fora do alcance das crianças. Por outro lado, tenha a preocupação de isolar convenientemente quaisquer tomadas de electricidade a que as crianças possam ter acesso. Reserve uma área segura para as brincadeiras. Tenha uma atenção especial à segurança. E mais: sugira aos outros membros da família, aos amigos e aos vizinhos para fazerem o mesmo.
Termino com uma recomendação: o pior pode acontecer quando menos se espera.
- CURIOSIDADE ESTÚPIDA
Sei que vou pregar no deserto, mas aqui vai à mesma. Porque é que algumas publicações – mais do que seria de esperar – dedicam tanto espaço a notícias más e sensacionalistas? Porque é que as tragédias e os desastres têm o condão de atrair o interesse de tantos leitores e espectadores? Porque cedemos tão facilmente à curiosidade mórbida ou ao desejo de saber mais sobre os casos que são pouco agradáveis?
Alguns entendidos – e há entendidos para tudo e mais alguma coisa – são unânimes em afirmar que esta espécie de curiosidade é normal. Mas não sabem explicar se é uma coisa intrínseca à natureza humana ou se é algo que se aprende à custa de estar sempre exposto a ela.
É bom ser inquisitivo, digamos assim, ter vontade de aprender. Mas estou convencido de que a curiosidade mórbida devia ser controlada. Agora, também sei que, quando falo em controlo, há sempre alguém com vontade de me chamar retrógrado e bota-de-elástico. Mas nem por isso vou deixar de dizer que nos devíamos preocupar mais com ser positivos; e, neste aspecto, os meios de comunicação têm também as suas responsabilidades.
Porque não se dá mais importância às coisas boas que acontecem à nossa volta, às maravilhas da natureza e também à bondade que existe à nossa volta? Também as boas notícias e a beleza podem satisfazer a nossa curiosidade. Por isso, insisto que as coisas boas da vida e das pessoas podem ser uma resposta às notícias más e sensacionalistas.
«Livra-me, Senhor, da conspiração dos malvados e do tumulto dos que praticam a iniquidade» (Sl 64,3).
- COMPANHIA PARA TODA A VIDA
Caíram-me entre mãos duas ou três frases dum ensaísta de língua inglesa chamado Joseph Addison. São sobre educação. Segundo a sua maneira de ver, a educação não se pode nem se deve reduzir ao que se pode chamar escolarização. Em muitos casos, parece ser essa a única preocupação de muita gente, que foge da ética na educação como o diabo foge da cruz.
Joseph Addison descreveu a educação como «uma companheira que nenhuma desgraça pode deprimir, que nenhum crime pode destruir, que nenhum inimigo pode alienar e que nenhum despotismo pode escravizar». «Em casa – continua ele – a educação é um amigo e fora de casa uma porta de entrada. Na solidão, a educação é consolo e na sociedade um ornamento. A educação mitiga o vício e guia a virtude. Sem educação – conclui – o que é o homem senão um esplêndido escravo ou um selvagem que raciocina?».
Podem parecer só palavras bonitas, mas estou convencido de que a forma como vemos a vida depende da educação que recebemos. Muitos jovens acham uma perda de tempo o tempo que gastam na escola. Infelizmente, essa é uma mentalidade que, grande parte das vezes, herdam dos pais ou supostos educadores.
Mas, nada estada perdido. Não esqueçamos também que a verdadeira educação às vezes começa quando deixamos a escola. O importante é estarmos convencidos de que é sempre tempo de aprender e que nunca devemos deixar de aprender.
- LIDAR COM O STRESS
Hoje, é quase obrigatório falar de stress. Até parece que estamos fora de moda se não falarmos desse assunto. A sua vida, amigo ouvinte, também é percorrida pelo stress? Se não é, então, se calhar, já não pertence ao número dos vivos. E, no entanto, todos reconhecemos que o stress não é nada de bom, antes pelo contrário, é uma doença...
Independentemente de outras considerações, quer saber algumas dicas de como ultrapassar o stress? Então escute:
- Estabeleça uma lista de prioridades – pouco grande – e seja fiel a essas prioridades;
- Tome gosto por qualquer desporto, qualquer hobby. Sei lá, pode ser música, leitura, passeios. Pode parecer difícil e é, mas são autênticas válvulas de escape;
- Procure saber quando é que lhe acontece ter mais tendência para o stress e então prepare-se para isso. Diz-se que pessoa prevenida vale por duas. Pois bem, isso também vale neste caso;
- Tenha cuidado com a alimentação. Comer demais faz tanto mal como comer de menos;
- Não se esqueça: dormir as horas suficientes é meio alimento;
- Finalmente, planeie sempre as suas actividades com cuidado.
O stress, em palavras pobres, é a reacção do organismo à mudança, seja boa ou má. Então, enfrentado como deve ser, o stress pode ser um amigo; fora de controlo, é uma desgraça. Fique ciente de que, para além do stress mau, também há um stress bom.
- DEIXEM FALAR OS JOVENS
Numa página interna, li, não há tanto tempo, que uma jornalista tinha chegado à conclusão que, hoje em dia, são as crianças que, por vezes, levam os seus pais a deixar os maus hábitos. A notícia despertou-me a atenção, embora reconheça que não se trata de uma descoberta tão espantosa como isso. Sempre aconteceram desses factos.
Nos tempos que correm, os jovens – e em especial as crianças – estão muito mais atentos aos problemas do ambiente. Aqui há quarenta anos, já se começava a ouvir falar de ecologia, mas, na verdade, muito pouca gente sabia o que isso era. Mas hoje não é assim tão raro, serem as crianças a recordar aos pais que é preciso poupar energia. Há casos até em que são os pequeninos dos jardins-de-infância que trazem esses conhecimentos para casa.
Ainda bem que estas questões se levantam. São precisamente os que agora são crianças que terão que lidar com elas no futuro. É, portanto, muito bom que comecem por ser encorajados a lidar com isso desde agora. Tomar medidas positivas para os resolver é o primeiro passo tanto para filhos como para pais. Não se limite a perguntar: «o que é que eu posso fazer para mudar o mundo?». Esta, se calhar, é uma pergunta inútil. Leia, informe-se e faça qualquer coisa no lugar onde está. Então, sim, talvez descubra que já fez algo para mudar o mundo.
«Como é grande a casa do Senhor
e vasta a extensão dos seus domínios!» (Br 3,24).
- MANEIRAS DE AMAR
Quando, em 1966, o Juan Pablo e a Cátia Millones, da Cidade do México se casaram, tencionavam ter uma grande família. Prometeram e cumpriram. Duas décadas depois, eles tinham 26 filhos. Exagero? Bem, nesse número, estavam incluídos 20 filhos adoptivos com várias deficiências, desde as deficiências mentais até ao sindroma de Down.
Cinco dos filhos que adoptaram que viviam em cadeiras de rodas. Outros tinham sido maltratados antes de serem entregues à família Millones. Não me perguntem como se processaram essas adopções, porque não o sei. O que sei é que, à medida que a família ia crescendo, os outros filhos eram sempre consultados sobre a adopção de um novo filho. A resposta entusiasta era sempre a mesma: força, para a frente!
Os factos são estes. E eu não vou fazer grandes comentários, até porque não é preciso. O que não posso calar é que o amor gera sempre mais amor. Uma pessoa que ama parece que tem uma capacidade quase inesgotável de amar cada vez mais. Mais ainda: quanto mais amor se dá, mais amor se tem para dar.
Seja uma pessoa amorosa e tenha a certeza da ajuda de Deus. Para além disso, produzirá abundantes frutos. Comento isto com uma frase do apóstolo S. João: «Amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus» (1Jo 4,7). Aliás, deixe-me terminar com uma outra frase dos Actos dos Apóstolos:
«Há mais felicidade em dar do que em receber» (cf. Act. 20, 35b).
- MARAVILHAS TECNOLÓGICAS
Não é preciso ser cientista ou entendido na matéria para afirmar que a tecnologia transformou a nossa vida. É espantoso como as coisas mudaram nestes últimos 50 anos graças à tecnologia. Outros terão dito o mesmo em épocas passadas. Estou em crer que as crianças de hoje, daqui a cinquenta anos, dirão maravilhas do que serão os avanços tecnológicos futuros.
Mas a tecnologia, como tudo na vida, tem também o reverso. O problema é esquecermo-nos disso facilmente. A tecnologia muda a nossa vida, mas nem sempre da forma como gostaríamos. O próprio autor da fórmula da energia atómica terá comunicado os seus receios a respeito da sua invenção, que deu também origem à bomba atómica.
Dizia-se que o computador, por exemplo, ia acabar com a burocracia e com a papelada nos escritórios. Já todos nos demos conta que não é exactamente isso o que está a acontecer. De facto, há cada vez mais impressoras e impressos nas nossas secretárias. Sei lá, as técnicas para combater os fogos são cada vez mais sofisticadas, mas será que os fogos são apenas a responsabilidade de alguns doidos que se andam por aí a divertir com o fogo?
Não nos esqueçamos – novos e menos novos – que, a par duma nova invenção tecnológica, há sempre novos perigos. Ou seja, da tecnologia devemos passar ao comportamento pessoal. Por outras palavras, há que pensar sempre nas consequências das nossas decisões e acções. E isto não só a nível de políticos (obviamente também), mas a nível individual.
«Senhor, ajuda-nos a manter sempre
um sentido de equilíbrio nas nossas vidas».
- SER SALVO OU NÃO
- Paulo gostava muito da comunidade que tinha fundado na cidade de Corinto. Era uma comunidade formada por gente simples, mas que ia facilmente atrás das modas. Por isso, escrevendo-lhes duas Cartas, por vezes, é um pouco duro com eles.
Como acontece com tanta outra gente, também os cristãos de Corinto pensavam que bastava fazer umas quantas coisas para se sentirem bem de consciência. Quanto ao resto, bem-vindas fossem as modas. Eles chegaram mesmo a acreditar em certas pessoas que, talvez com inveja de S. Paulo, diziam que não era verdade que Jesus tivesse ressuscitado.
Neste capítulo, Paulo foi muito duro. Aliás, eu devo acrescentar que é muito duro, porque hoje as suas palavras são para nós. Ele diz que, se Cristo não ressuscitou, se não voltou à vida, então é vã e inútil a nossa fé. E é; porque estamos a pôr a nossa confiança absoluta em alguém que, afinal, por maior e mais interessante que seja, não passa de uma simples pessoa humana.
Se nós podemos apostar a nossa vida em alguém, é só em alguém que possa a dar a vida que não tem fim. Se não é assim, como diz também S. Paulo, então apostamos numa coisa inútil e, nesse aspecto, então somos os mais infelizes de todos. Daí S. Paulo concluir, para os cristãos de Corinto – e para nós também: o Jesus em quem apostamos a nossa vida é o próprio autor da vida, Ele próprio é Deus. Só Deus é digno de que apostemos a nossa vida nele. Bem, ouvinte, espero que esta reflexão não tenha sido demasiado difícil.
- TRABALHAR PELA PAZ NA PRISÃO
O marido da D. Rita Cavalheiro exerce a função de juiz. Mas parece que, apesar disso, a sua mulher não consegue estar muito tempo fora da prisão.
É que a senhora Cavalheiro faz trabalho de voluntariado num Centro Correccional de Menores numa localidade que não é caso para aqui mencionar. Ela gasta 40 horas por semana na implementação de um programa que tem por objectivo ajudar os detidos a formar planos e a tomar decisões para, no futuro, se poderem inserir positivamente na sociedade.
Ela olha para essa actividade não só como parte do processo de reabilitação, mas também como um contributo importante para a paz. As prisões – diz ela – são, tradicionalmente, lugares de violência. É triste dizê-lo, mas é assim. Ora bem, ao actuar a esse nível, consegue-se ter um papel importante na redução da violência, contribuindo também para o ambiente geral do estabelecimento prisional.
A propósito, eu diria que cada lar, cada vizinhança, cada cidade, cada país, precisa de indivíduos que dediquem parte do seu esforço para criar um ambiente de paz. Nas suas acções e atitudes, nos seus pensamentos, amigo ouvinte, seja um construtor de paz.
«Felizes os pacificadores
porque serão chamados filhos de Deus» (Mt 6, 9).
- MENSAGEM NA ACÇÃO
Um homem visitou um dia a Casa da Caridade, que é uma casa para os que morrem sem ninguém em Calcutá, Índia. A zona da cidade chama-se Nirmol Hridoy. Como se sabe, as Irmãs que tomam conta dessa organização são as Missionárias da Caridade, fundadas pela famosíssima Madre Teresa de Calcutá.
Então, esse homem disse a uma das Irmãs: «Eu cheguei aqui com tanto ódio no meu coração. Cheguei aqui totalmente vazio, sem fé, sem esperança. E vi uma das Irmãs, lá dentro, a prestar uma atenção completa àquele doente. Fiquei convencido que, naquele momento, para aquela Irmã, não havia nada de mais importante no mundo. Agora, regresso um homem diferente. Agora acredito que há um Deus e que Ele ainda nos ama».
Com muita frequência, na nossa vida, as nossas acções podem falar – e falam – muito mais que as nossas palavras. Já o diziam os antigos: «as obras permanecem; as palavras, leva-as o vento». Por isso o meu convite é para não termos medo que as nossas acções falem bem alto da nossa bondade, da nossa educação, do nosso amor pelos irmãos e irmãs de todos os dias.
«Não é aquele que diz: Senhor, Senhor, que entrará no Reino dos céus,
mas sim aquele que fizer a vontade do Pai que está nos céus».
(cf. Mt 7,21)
- SABER ESCUTAR
Possivelmente, o amigo ouvinte, de vez em quando, ouve frases que o fazem reflectir. A mim também me acontece o mesmo. E também me acontece ouvir ou ler novamente certas coisas que me levam a partilhá-las. Foi o que me aconteceu ultimamente.
A frase que li diz assim: «Temos dois ouvidos e apenas uma boca. Assim, podemos escutar mais e falar menos». Dizem-me que é uma frase dum escritor clássico. O autor não é o que mais interessa. Seja como for, é bem verdade o que ele diz. Inclusivamente, até houve um técnico de futebol que disse que preferia falar menos e apresentar melhores resultados. Também não é uma frase descabida.
Um outro pensamento que é bom para todos é o seguinte: «Devemos ser lentos para castigar e prontos para recompensar». Não discuto a frase. Acrescento apenas uma nota: como regra, nós somos muito mais rápidos a castigar do que a recompensar. Já agora, mais uma citação dum senhor chamado Demonax. Quando lhe perguntaram como é que alguém podia governar melhor, respondeu: «Sem ira, falando pouco e escutando muito».
Estar pronto para ouvir, ser cuidadoso no falar e não se precipitar quando a gente tem que se irar, parecem-me excelentes conselhos para a vida.
«Não haja muitos que pretendam ser mestres.
Se procedermos assim, teremos um julgamento mais severo,
pois todos nós falhamos com frequência» (cf. Tg 3,1-2).
- MISSÃO «ESPERANÇA»
É mais comum do que se poderá pensar que, entre as pessoas tidas como menos importantes, haja gestos que merecem louvor. A esse propósito, estou agora a lembrar-me dum humorista, que, embora pouco conhecido, era escritor ao mesmo tempo. Ele deu um apoio importante a uma causa chamada «Esperança». Ele próprio descreveu essa organização como «um grupo de sonhadores que percorreram o Rio Amazonas dum lado para o outro, distribuindo medicamentos, amor e a própria vida, durante vinte anos».
Mais concretamente, essa organização foi fundada nos anos setenta por um padre franciscano estrangeiro, que era médico. Chamava-se Luke Tupper. O Pe. Tupper achava que a medicina era uma profissão sagrada; e que cada pessoa que encontramos deve ser tratada com toda a dignidade e respeito.
A Fundação «Esperança» atrai ainda hoje muitos profissionais da saúde e outros voluntários que, de boa vontade, fazem trabalho de imunização, cirurgias, e prestam outros cuidados médicos e dentários em muita gente das margens do Rio Amazonas. Qual a recompensa dessas pessoas? Bem, calor insuportável, mais trabalho do que podem fazer; e a satisfação de servir os seus irmãos e irmãs em necessidade. Mas, à própria custa, todos eles aprendem que há mais felicidade em dar do que em receber (cf. Act 20,35).
- TRAÇAR OBJECTIVOS
Quando um psiquiatra tentou dizer a Michelle Alioto que a sua vida iria ser limitada em consequência duma lesão gravíssima na espinha dorsal, ela virou-se para ele e respondeu: «O senhor não tem razão. Eu posso fazer tudo o que quiser». Michelle tinha, na altura, treze anos.
Ela era uma jovem, a entrar na vida adulta. Mas já demonstrava que uma cadeira de rodas não significa uma vida por realizar. Ela sentia-se realizada e como! Ela nadava, jogava ténis e também basquetebol.
Aliás, numa eleição realizada no seu distrito, ela foi escolhida para representante nacional da organização da juventude. Mais: um ano mais tarde, representou o seu país numa conferência internacional sobre deficiência motora. Hoje, ela é uma perita na matéria e planeia empreender uma carreira na política para defender os direitos dos que estão nas mesmas condições que ela.
Por este exemplo de vida, pode-se concluir que não há obstáculos intransponíveis para os que têm a atitude correcta. Agora, os que põem limites a si mesmos, mesmo não sendo aparentemente deficientes, são os que realmente são limitados e nunca chegam a lado nenhum. E há tantos assim! Portanto, o importante é colocar as expectativas bem alto e também confiar em Alguém que segue os nossos passos de maneira constante, mesmo e talvez ainda mais, quando menos julgamos.
«O próprio Senhor irá à tua frente. Ele está contigo.
Não deixará que o teu joelho se dobre e não te abandonará.
Não temas, portanto, nem desanimes» (Dt 31,8).
- A BELEZA É...
Emílio Rojas é um escritor sul-americano. Mas não é por ser sul-americano que eu o estou a citar. Seria o mesmo se fosse europeu ou asiático. O que me leva a citar o seu nome é o facto de ter escrito uma bela página – ou melhor, uma história – sobre o que ele entende por beleza.
Havia um grande mestre que tinha vários discípulos. Um dia, um dos discípulos, levado pela beleza que via à sua volta, perguntou ao seu grande mestre como é que podia levar os outros a ver e a experimentar tão grandes belezas. «O que tu perguntas é difícil» – respondeu-lhe o velho mestre. «Para poder ver e sentir a beleza à sua volta, uma pessoa, primeiro, deve ser – e sentir-se – bonito». «Mas, mestre, como é que se pode saber se alguém é belo?» – perguntou o discípulo. «E se esse alguém não é belo, como é que o pode vir a ser?»
«A beleza é uma parte do amor» – explicou o mestre. «A beleza é ser suficientemente grande para dar e suficientemente humilde para receber. Ajudar os outros a descobrir a beleza é abrir o próprio espírito a ideias nobres e generosas. É tirar a máscara do egoísmo que cobre o coração e desatar as amarras que prendem o coração». Se não me engano, já lá dizia o mesmo por outras palavras um senhor muito conhecido que dá pelo nome de Sheakespeare. É uma questão de abrir a mente e o coração.
- A COR DA PELE
Ouve-se falar com frequência de racismo. Talvez mais do que seria desejável. Como regra, cada um de nós tem a tendência natural a pensar que racistas são os outros. Pois bem, não temos que estar a pôr culpas aos outros. Isso é demasiado fácil e não resolve nada. Se, ao contrário, quisermos saber, de verdade, se a cor influencia ou não os nossos sentimentos e atitudes, talvez não seja má ideia fazermos apenas algumas perguntas.
Sei lá, tendo que dar uma dentada num morango, dá-la-ia à mesma se, em vez de um esplendoroso vermelho, ele apresentasse uma cor arroxeada ou negra? Se, por qualquer motivo, precisasse de alguém para dirigir uma obra qualquer, entregá-la-ia a uma pessoa de cor, tendo uma pessoa branca para o mesmo trabalho? Se tivesse que escolher alguém para dirigir um hospital, teria ou não alguma dúvida em escolher alguém que não fosse branco? São perguntas pessoais.
Segundo uma psicóloga americana, chamada Elisabetgh Marek, «as cores podem atrair e repelir, tirar lembranças do mais profundo do inconsciente, dar energia, levar as pessoas para os outros ou definir o carácter duma pessoa ou até mesmo curar». E ela acrescenta: «A preferência pelas cores está enraizada em associações subconscientes, derivadas da cultura, do local e da forma como se é educado, da forma como os sentimentos são ensinados».
Não sei se o que acabou de ouvir tem algum interesse ou não. Mas, olhe, pense nisto da próxima vez que tenha que vestir uma camisola vermelha ou tenha que fazer um julgamento baseado na cor da pele. Não deixemos que o exterior apague por completo o que está dentro das pessoas. É certo que os tempos de hoje e as técnicas de marketing dão uma importância muito grande ao exterior, mas não será que o mais importante é o que está dentro?
- AS INSÍDIAS DA INVEJA
Pessoalmente, saber se a inveja é ou não um pecado capital não é o que mais me interessa. Agora, o que sei é que a inveja não é uma coisa nada bonita. E também não é só algo que se verifica quando se trata de relacionamento pessoal e familiar. Há inveja em todos os ramos de actividade; e, dum modo particular, no local de trabalho.
De alguma forma, é uma coisa compreensível. Mas não justificável necessariamente. Seja como for, é sabido que um neo-empregado – passe a expressão – merece do patrão mais atenção que os outros. Essa atenção ao novato pode até ser necessária, mas a verdade é que os outros empregados levam isso a mal. E talvez seja por isso que, tantas vezes, os empregados mais velhos são bem capazes de fazer a vida negra ao mais novo. É certamente o bicho da inveja a produzir efeitos.
Em qualquer casa, acrescento que há inquéritos para tudo. E até foi feito um numa determinada fábrica segundo o qual três quartos dos empregados disseram que tinham sido testemunhas ou tinham mesmo estado envolvidos em incidentes de inveja; isso no que ao mês anterior dizia respeito. As pessoas tendem a pensar que a aplicação no trabalho – o que é uma coisa óptima – lhes confere direito a esperar ter prémios extra e, por isso, ficam todos verdes se, por qualquer motivo isso não acontece, porque não se sentem suficientemente valorizados.
É certo que o dever do empregado é fazer bem o trabalho que lhe é atribuído e não pode nem deve esperar mais por isso. Mas não deixa de ser também verdade que aos empregadores cabe o bom senso de evitar que aconteçam coisas que originem as invejas e, consequentemente, o mal-estar. Haverá muita coisa em que as decisões podem e devem ser tomadas em conjunto para que as coisas funcionem melhor.
- A MÚSICA CONTINUA
O falecido e grande músico Louis Armstrong continua a dar cartas. Quem é que não ouviu já falar dele? Quem nunca ouviu nenhuma das suas músicas? Armstrong nasceu em 1901 e fez furor durante as várias décadas em que actuou. Os seus hits mais conhecidos são talvez Everybody Loves My Baby, dos anos 20 e Hello, Dolly dos anos 60.
Embora Armstrong tenha morrido em 1971, o interesse pela sua obra continuou. E continua a ser redescoberto de forma constante. Por exemplo, ele foi como que apresentado a novos ouvintes por meio do filme Good Morning, Vietnam de 1988, quando a sua canção de 1967 What a Wonderful World se tornou um sucesso, continuando a ser tocada, de vez em quando, hoje em dia, nas rádios que nós escutamos.
O carisma deste homem, natural de Nova Orleães, trouxe e trará sentimentos de profunda alegria e milhões de pessoas. Transpondo isto para o plano pessoal, isso quer dizer que o bem que fazemos, a alegria que partilhamos aos outros dura muito para além daquilo que nós poderemos imaginar e atinge as pessoas muito para além do que nós poderemos esperar.
«Cantai hinos ao Senhor, terra inteira...
Cantai ao Senhor, ao som da harpa, ao som de cornetins e de trombetas. Aclamai o nosso rei e Senhor» (Sl 98,5-6).