1. OS TOMBA-GIGANTES
 

 

Quando morreu o rei de Jerusalém Acaz, sucedeu-lhe o seu filho Ezequias. Este tinha vinte e cinco anos. Mas todos o tinham em grande consideração, pois era muito diferente do seu pai. A esperança renasceu entre o povo do reino do Sul. E até entre as tribos do Norte as pessoas descobriram as suas qualidades. Com as reformas que empreendeu fez renascer de novo o espírito de identidade nacional que estava esmorecido. Uma das reformas mais importantes a que deu seguimento foi a reforma religiosa. A religião para os hebreus era como o pão para a boca.

 

Em Jerusalém vivia ainda o velho Isaías, que tinha sido conselheiro do seu pai e era profeta. O novo rei quis que também fosse seu conselheiro. Os dois davam-se muito bem. Ezequias, o rei, estava firmemente decidido a endireitar as coisas. Para isso, contava com a força do Deus de Abraão, Isaac e Jacob. E pouco a pouco criou-se um ambiente de confiança entre os cidadãos. No entanto, o consenso não era geral. Havia também pessoas que comentavam: «Claro que as coisas da religião são muito boas (e nós temos muito orgulho nisso), mas a verdade é esta: quem nos vai livrar dos assírios que estão sempre à nossa porta»?

 

Quanto às intenções dos assírios, não havia dúvidas. Todo o ouro, a prata, todas as riquezas e os ornamentos de ouro nas portas do templo de Jerusalém e dentro, tudo isso ia desaparecendo como que por encanto. Ezequias estava sob o domínio do rei da Assíria e tinha que lhe prestar vassalagem e entregar os seus bens. Mas também as riquezas se acabaram. Só que o rei da Assíria, que se chamava Senaquerib, ainda não estava satisfeito. E então, um dia, mandou cercar as cidades do reino de Judá. Ao ver que a intenção de Senaquerib era apoderar-se da capital, Ezequias resolveu, de acordo com os seus chefes e oficiais, obstruir as águas das nascentes que estavam fora da cidade. Todos o ajudaram a executar esse plano...

 

A estratégia era muito simples. De resto, porque é que os assírios haviam de ter água em abundância ao chegarem ali? Deixou só um canal, vindo de longe, para abastecer a cidade e fechou todas as outras fontes. Além disso, mandou amuralhar a cidade. Mandou também fabricar lanças e escudos de todo o género. Entre os militares, escolheu alguns chefes e reuniu-os na praça da cidade para os exortar: «Sede valentes. Não tenhais medo do rei da Assíria e de todo o seu exército. Nós temos o Senhor, nosso Deus, para nos auxiliar». O povo encheu-se de coragem e predispôs-se para resistir ao inimigo.

 

Os assírios não andam em guerra com outros inimigos. Por isso, o rei veio com todo o exército para cercar a cidade de Jerusalém. Sem pressas, mandou montar tendas à volta de Jerusalém. Os assírios estavam tão seguros do próprio poder que pensaram que nem era preciso combater. Bastava esperar. Os judeus, encurralados na cidade, haviam de morrer à fome. Mas o facto é que eles foram resistindo. Até que um dia Senaquerib mandou uma delegação às portas da cidade para dizer ao rei Ezequias e aos seus homens: «Em quem esperais? Não acrediteis em Ezequias quando ele vos diz que Deus vos vai salvar. Não é verdade! Acreditai mas é no imperador da Assíria. Ele, sim, é que vos pode dar trabalho!»...

 

Os delegados de Senaquerib procuravam obter a rendição convencendo os judeus que não valia a pena combater: «Então não sabeis o que fizemos a todas as outras nações? Porventura os deuses dessas nações os salvaram das mãos de Senaquerib? Não há no mundo deus nenhum que nos tenha impedido até agora de fazer tudo o que bem entendemos! Porque é que havia de ser diferente convosco»? Às palavras dos delegados do rei assírio seguiu-se apenas um silêncio sepulcral. Por seu lado, o rei Ezequias de Judá e o profeta Isaías decidiram fazer uma espécie de campanha de oração para implorar o auxílio dos céus...

 

Entretanto, a delegação do rei assírio voltou para o seu lugar. Por seu lado, Isaías aconselhava a resistência. Algumas pessoas não concordavam com isso, como sempre acontece. E ficaram furiosas com ele: «Como é que vamos resistir a um exército destes? Explica-nos lá! O quê, vem Deus lá do alto dos céus para nos livrar do poder dos assírios, é isso?! Então... não era melhor entregarmo-nos? Assim poupávamos sofrimentos e morte. E, além disso, teríamos trabalho, como disse o rei dos Assírios»! Mas os que não concordavam eram apenas uma minoria. Seja como for, a decisão do rei de Judá estava tomada. E agora já não havia mais nada a fazer senão aguardar pelos acontecimentos.

 

Em frente, os soldados assírios continuavam acampados. Estavam convencidos de que os habitantes da cidade teriam que se render por falta de alimentos e de água. Só que não sabiam que Ezequias se tinha prevenido mandando fazer a conduta que trazia a água para a cidade. Mas os assírios não se preocupavam muito. Era até bastante agradável passar ali uns tempos sem combater. Eram quase umas férias. O que lhes causava alguns incómodos era a imensidade de ratos que havia por ali. A rataria tinha descoberto os mantimentos e não havia meio de os exterminar...

 

Passaram-se assim meses. Um dia, de manhã bem cedo, um dos soldados judeus que fazia vigia numa das torres da cidade, notou um silêncio estranho no acampamento do inimigo. Esfregou bem os olhos, julgando que estava a passar por uma alucinação. Olhou melhor e não havia dúvida nenhuma: não mexia nem vivalma. Não havia soldados à vista. Foi então chamar alguns dos colegas.

 

Com toda a cautela que as circunstâncias exigiam, saíram para saber o que se passava... E que é que foi que viram? Umas tendas esfarrapadas, alguns carros destruídos e alguns sacos rotos. Não se via mais nada. Estava tudo em silêncio. A única coisa que se via eram ratos que corriam dum lado para o outro. Quase fora de si, voltaram para a cidade para dar a notícia: o exército assírio tinha batido em retirada disfarçadamente durante a noite. Talvez os ratos tivessem pegado qualquer moléstia aos soldados que teriam adoecido. Para evitar mais males, eles não terão tido outro remédio senão fugir em retirada.

 

Ninguém chegou a compreender o que tinha acontecido naquele acampamento. Seja como for, todos os habitantes de Jerusalém interpretaram isso como um sinal de Deus. O rei da Assíria voltou para o seu país coberto de ignomínia. Não tinha sido capaz de vencer um país tão pequeno, quando antes tinha vencido nações bem mais poderosas. Foi então ao templo para procurar uma explicação. Mas os seus filhos, envergonhados pelo que tinha acontecido, assassinaram-no com um golpe de espada...

 

Entretanto, o rei Ezequias de Judá reconstruiu todo o país dando a possibilidade de maior bem-estar a todo o povo. A notícia do falhanço do grande rei Senaquerib espalhou-se por toda a parte. E, durante muito tempo, nenhum dos outros povos se atreveu a atacar Judá. E isso durou até à morte do rei Ezequias de Judá.