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Categoria: A história dum povo.
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  1. SISTEMA DE GOVERNO

 

Samuel, o homem de Deus, convocou todo o povo para uma localidade chamada Mash-fá. O número de participantes foi elevado. De todas as partes, chegaram israelitas nos seus carros e nas suas montadas. Estavam dispostos a discutir e a planear o que era preciso para derrotar os inimigos, para poderem viver em paz. E ali ficaram à espera que Samuel falasse. E ele falou. Talvez não como alguns queriam, mas falou...

 

«Homens de Israel!» – disse Samuel – «O nosso Deus libertou-nos do poder do Egipto e protegeu-nos também contra a tirania de outros reis inimigos. Nós, porém, rejeitámos o nosso Deus, que nos livrou de todas as tribulações. Pelo que me é dado saber e verificar, vós quereis mesmo um rei, porque não sabeis como vos haveis de unir sem ele. Pois bem, se é isso que vós quereis, tendes que aceitar as consequências. E, para já, gostaria de vos dizer imediatamente uma coisa: o rei, esse ides tê-lo, mas não julgueis que é alguém que vale mais que os outros. Eu falei com o Senhor e Ele inspirou-me quem é o escolhido. Pertence à família de Cis, da tribo de Benjamim».

 

Todos se viraram para o lado para ver que era essa família de que Samuel falava. E lá viram o pai e os familiares e também um grupo de rapazes fortes que eram os seus filhos. Samuel então gritou para todos: «O rapaz que eu procuro não está ali no meio deles. Preciso do filho mais novo da família. Vão procurá-lo». Todos se puseram à sua procura, mas não o encontravam, porque ele se tinha escondido. Finalmente, os irmãos lá o encontraram. Foram buscá-lo e puseram-no no meio da multidão. Era um belo rapaz e mais alto do que os outros todos.

 

Então Samuel disse ao povo: «Aqui tendes aquele que o Senhor, nosso Deus, escolheu». Então todos começaram a aclamar em altos brados: «Viva o rei! Viva o rei»! A seguir, durante algumas horas, Samuel explicou ao povo os princípios mais importantes da monarquia e depois, quando era quase de noite, mandou toda a gente para casa.

 

Não tardou muito que Saul mostrasse o que realmente valia. Um dia, um bando de larápios amonitas, ou seja, da região de Amon, atacou de repente a Nordeste de Israel. Saul reuniu os israelitas e disse-lhes: «Nós temos que ajudar os nossos irmãos dos Nordeste. Se cada um defender só as próprias terras, não se resolve nada como deve ser. Quando há desunião, eles atacam uma tribo e uma zona de cada vez e acabam sempre por levar a melhor. Mas, se nos unirmos, então seremos fortes e talvez consigamos derrotar os nossos inimigos duma vez para sempre. Quem não tiver coragem, que fique em casa, mas há-de aceitar as consequências disso»... E todos os que o escutavam se encheram de coragem e foram com ele.

 

Os inimigos mais poderosos, na altura, estavam, de facto, na parte norte de Israel. As populações eram de tal maneira maltratadas que tinham medo de tudo quanto se mexia. Foi então que Saul, reunidos os seus soldados, marchou para o Norte, ou melhor, para o Nordeste do país. Mal chegaram lá, quase que nem tiveram tempo para descansar da longa viagem. De facto, na manhã seguinte, bem cedo, avançaram contra os amonitas. Estes estavam cheios de bazófia, porque ninguém lhes conseguia fazer frente. Mas agora, ao verem que alguém os combatia, encheram-se todos de medo. Sucede sempre assim!

 

De facto, os amonitas ficaram tão aterrorizados que, ainda não era meio-dia e já tinham perdido completamente a batalha contra os israelitas. E naturalmente, ao verem-se dizimados, começaram a fugir para todos os lados. Então os soldados de Saul queriam proceder logo naquele mesmo dia exactamente como os seus inimigos: proceder à matança de toda a gente, começando pelas mulheres e pelas crianças e acabando nos velho. Mas Saul impediu-os de cometer essa loucura, porque era contra a Lei do Senhor. Os judeus ficaram naturalmente todos orgulhosos com a vitória alcançada pelo novo rei.

 

Saul, porém, voltou para a sua terra, para a casa do seu pai, como se realmente nada tivesse acontecido. Mas, claro, havia alguns homens que, a partir desse momento, ficaram a admirá-lo. E por isso pretendiam que ele começasse a reinar. Não se sabem os motivos desse interesse, mas muito provavelmente não se tratava só de orgulho nacional. Tratava-se também de interesse pessoal. Muito naturalmente, alguns tinham pretensões a ser alguém no novo regime monárquico que estava prestes a consolidar-se...

 

E a insistência das pessoas foi de tal ordem que Samuel, o homem de Deus se viu obrigado a apressar os tempos. Samuel já tinha a sua idade e, portanto, também isso terá influenciado a sua decisão. Por isso, um dia, reunindo os principais responsáveis do povo, falou-lhes na presença de Saul: «Vós pedistes um rei? Pois bem, aqui o tendes. O Senhor, nosso Deus, era o vosso rei. Mas Ele estabeleceu Saul sobre vós. Se temerdes o Senhor e obedecerdes às Suas leis, incluindo o rei, tanto vós como o rei vivereis. Mas, se não ouvirdes a foz do Senhor e vos revoltardes contra as Suas leis, tanto vós como o vosso rei sofrereis as consequências das vossas más acções...».

 

Não se sabe exactamente com que idade é que Saul começou a reinar. Mas o que é certo é que tudo se tinha preparado para que ele um dia ficasse rei. Daí a muito pouco tempo, já tinha um exército considerável. Para um pequeno país como Israel, um exército de 3000 homens não era brincadeira nenhuma! Saul escolheu os 2000 mais fortes e ficou ele a comandá-los. Os outros entregou-os à chefia de Jónatas. Agora restava a tarefa de treinar convenientemente estes homens todos...

 

Mas, como é natural, os inimigos não desistiram. Saul tinha destroçado, mesmo antes de ter sido coroado oficialmente rei, todos os inimigos; e dum modo particular os filisteus. Mas isso teve o efeito de unir também os inimigos. Um motivo de união era o inimigo comum. No caso concreto, Israel. Sempre foi assim e assim sempre será. No tempo da desgraça, as pessoas são capazes de se unirem umas às outras. Sobretudo, repito, quando se trata de combater um inimigo comum. Foi o que fizeram os inimigos de Israel. Embora sendo inimigos entre si, não duvidaram sequer um momento. Puseram de parte as suas inimizades, por algum tempo pelo menos, para se unirem. Só assim poderiam dar cabo de Israel.

 

A união de forças entre os inimigos de Israel não foi tão fácil como eles calculavam. As estratégias não se planeiam dum dia para o outro. E também não bastam as conversas e os planos de papel, digamos assim. Se até os próprios israelitas tiveram dificuldades enormes em unir-se, sendo irmãos, muito mais dificuldade tiveram os inimigos, porque, ao fim e ao cabo, quer quisessem quer não, sempre eram também inimigos entre si. Tinham, pois, muita dificuldade em entender-se. Por seu lado, os israelitas, não tendo tempo de cultivar os campos, começaram a imitar os outros. Não tendo Saul com que pagar os soldados, viu-se obrigado a ceder no que se referia a pilhagens: comida, bens e jóias. O que não estava em conformidade com as leis do Senhor, seu Deus. E isso irá custar-lhes muito caro.