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Categoria: A história dum povo.
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  1. AS TRÊS TABERNAS
 

 

Os náufragos que tinham ido parar à Ilha de Malta viram-se obrigados a passar todo o Inverno na ilha. Mas, para o capitão do barco que ficara encalhado lá longe, a vida não era fácil. É que, mais de metade deles eram prisioneiros e a lei romana era muito clara: ele tinha que levar todos os prisioneiros até Roma. E se eles tentavam fugir! Se alguém fugisse, quem tinha que prestar contas era o capitão. E prestar contas, em caso de falta, significava a própria condenação à morte...

 

O capitão tinha que resolver o problema e a hipótese mais provável era ver-se obrigado a mandar construir uma espécie de prisão para impedir que alguém fugisse. Um dos soldados, porém, atreveu-se a dar-lhe uma sugestão drástica: «Matam-se todos os prisioneiros e assim acaba-se com o problema!». Mas o centurião era muito mais sensato e não liquidou ali mesmo esse mesmo soldado precisamente porque era sensato...

 

Além do mais, o centurião já tinha simpatizado com Paulo e estava interessado em salvá-lo. Pediu então ao mesmo Paulo que desse ele uma sugestão. E Paulo: «Compreendo que, se os presos fugirem, lá o seu chefe em Roma lhe vai complicar a vida e então estará perdido. Mas, por outro lado, que resposta lhe iria dar, se porventura chegasse sem eles? Claro que não seria nenhuma honra partir da Cesareia com mais de cem prisioneiros e chegar a Roma sem nenhum»...

 

Ao centurião não tinha passado despercebido o que Paulo tinha dito antes de partirem da Cesareia: «É melhor arranjar um lugar para passar o Inverno, para não termos problemas durante a viagem». E lembrava-se também de outras palavras de Paulo: «Não vos preocupeis: o navio não se vai salvar, mas nós salvamo-nos!». E tudo tinha acontecido assim. Por isso, o centurião confiou mais uma vez nas palavras de Paulo e impediu que qualquer dos prisioneiros fosse morto... E Paulo tinha falado com tanta convicção que o comandante ordenou não só aos soldados mas também aos marinheiros para que procurassem proteger todos os tripulantes da melhor forma possível...

 

O capitão lembrava-se também ainda perfeitamente dum episódio que tinha acontecido logo ao chegarem a terra. Os naturais da ilha tinham-nos recebido cortesmente e até tinham acendido uma fogueira, porque estavam todos encharcados até aos ossos. Lembrava-se também que Paulo tinha juntado um braçado de lenha e, ao lançá-la à fogueira, o calor tinha feito saltar uma víbora venenosa. Ao verem a víbora pendurada à mão de Paulo, os nativos pensaram que aquele homem devia ser um assassino ou coisa do género e que a agora era castigado por causa da sua maldade...

 

Mas acontecera que Paulo, sacudindo a víbora para o fogo, não tinha sofrido qualquer mal, ao contrário do que eles pensavam. E agora o capitão lembrava-se perfeitamente como aqueles nativos tinham mudado completamente de opinião acerca de Paulo. Como não lhe tinha acontecido nada, quando devia morrer dali a pouco por causa do veneno, eles começaram a pensar que ele devia ser um deus qualquer.

 

Bem, mas o que interessa realçar é que a notícia desse episódio se espalhou bem depressa entre toda a população da ilha. Então começaram a vir pessoas de toda a parte para ouvir Paulo e alguns também com a secreta esperança de serem curados por ele. Até o chefe da Ilha, que se chamava Públio, veio ter com Paulo. O pai de Públio estava doente e então ele convidou Paulo e os outros para ficarem nas suas propriedades durante três dias. Paulo rezou pelo pai e este ficou curado em nome de Jesus. E o mesmo aconteceu com outros doentes...

 

Paulo e os outros prisioneiros ficaram na Ilha de Malta durante três meses, até à altura da Primavera. Por todos os lugares por onde Paulo passava, acontecia sempre a mesma coisa: havia sempre gente que queria conversar com ele; gente que tinha dificuldades, que estava doente, que também queria ouvir desse tal Jesus. Passados três meses, tinham mesmo de partir. Os habitantes já estavam tão habituados que lhes custou imenso ver partir Paulo. Por isso, à partida, cumularam todos os tripulantes de todas as honras e proveram-nos de tudo o que era necessário para a viagem até Roma.

 

Volvidos, pois, os três meses, embarcaram num barco proveniente de Alexandria que ali tinha ficado durante todo o Inverno. Passaram por Siracusa, onde ficaram três dias. À medida que se iam aproximando da capital do império romano, as pessoas iam ficando cada vez mais alegres. Até nos prisioneiros se notava um novo estado de espírito. Só Paulo é que não estava muito satisfeito e pensava consigo mesmo: «Que é que se passa comigo, afinal de contas? Durante todas as viagens que tenho feito, o que é que consegui mudar? Por onde tenho passado, quase só tenho armado escândalo nas pessoas!».

 

Paulo, sobretudo nos últimos tempos, tinha destas crises de depressão e pessimismo com muita frequência. E, desta vez, era precisamente isso que lhe estava acontecer, embora houvesse motivos para estar contente, porque finalmente ia chegar à cidade que tanto desejava conhecer. E continuava a pensar: «Porque é que tanta gente fala mal de mim e me quer mal? Porque é que têm tentado enxovalhar-me e até matar-me? Às vezes, é verdade, formei grupos de cristãos (sobretudo em Corinto e Éfeso), mas são tão poucos, tão poucos!! Será que continuarão a ser fiéis?»...

 

Estavam todos prestes a chegar a Roma, depois de terem contornado toda a costa. O que é que iria acontecer em Roma? Iriam dar tempo a Paulo para fazer alguma coisa? Ou não iriam suspeitar dele por, antes de se fazer cristão, ter perseguido tão ferozmente os discípulos de Jesus? Era mais ou menos sobre estas coisas todas que Paulo pensava enquanto o navio se aproximava de Roma.

 

Mesmo antes de chegar a Roma, ainda fizeram escala por uma pequena cidade da Itália chamada Régio. O desembarque iria dar-se numa outra cidade chamada Putéolos. Aí Paulo encontrou alguns irmãos, ou seja, alguns cristãos, que o convidaram para ficar. Depois do desembarque, Paulo e os outros tripulantes, para chegarem a Roma, foram levados pela Via Ápia. Pelo caminho, Paulo encontrou-se com alguns cristãos que o convidaram a tomar qualquer coisa num lugar chamado «Três Tabernas». Paulo cobrou ânimo. Estavam perto de Roma e o seu sonho tinha-se tornado realidade.

 

Quando todos entraram em Roma, Paulo foi autorizado a ficar em alojamento próprio com o soldado que guardava. Ficou dois anos inteiros no alojamento e a todos falava de Jesus sem restrições de qualquer tipo.